quarta-feira, 14 de outubro de 2009

BANCOS E EMPRESAS TRANSNACIONAIS CONTROLAM A AGRICULTURA


“Cerca de 98% da produção de suco no pais é exportada. Não vai para a mesa dos pobres”

O economista João Pedro Stedile, integrante da coordenação nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), denunciou a concentração de terras por 15 mil latifundiários e o controle da agricultura por bancos e empresas transnacionais, e acusou como manipulação de ambiente as imagens da fazenda Santo Henrique, grilada pela Cutrale, e cobrou a apuração dos fatos.

“Os dados do censo agropecuário do IBGE revelam que menos de 15 mil latifundiários são donos de mais de 98 milhões de hectares. Cerca de 30% dos moradores do meio rural não sabem ler e escrever! E 80% não terminou o ensino fundamental. A renda média dos assalariados do campo é menos do que um salário mínimo”, afirmou Stedile, que acrescentou: “Diante dessa realidade, reafirmamos que é fundamental democratizar a propriedade da terra, como manda a Constituição, e mudar o modelo agrícola, para priorizar a produção de alimentos sadios - em equilíbrio com o ambiente e sem agrotóxicos - para o mercado interno. Os que acham que a Reforma Agrária não é mais necessária estão completamente alheios aos problemas e aos interesses do povo brasileiro”.

Em entrevista concedida ao jornal Folha de S. Paulo publicada na segunda-feira (12), Stedile apontou a necessidade da Reforma Agrária: “Os grandes proprietários de terra se misturaram com o grande capital financeiro. Bancos e empresas transnacionais controlam a agricultura. E quando ocupamos uma terra para pressionar a aplicação da Reforma Agrária, enfrentamos todo esse mundão de interesses”.



Ele desmentiu as acusações de vandalismo que teriam sido praticados pelos sem terra na fazenda Santo Henrique, em São Paulo. “As famílias acampadas nos disseram que não roubaram nada, não depredaram nada. Depois da saída das famílias, e antes da entrada da imprensa, o ambiente foi preparado para produzir imagens que impactaram a população. Propomos a constituição urgente de uma comissão independente que investigue a verdade”, frisou.

“A direita, por meio do serviço de inteligência da PM, soube utilizar as imagens contra a Reforma Agrária, se articulando com a Rede Globo para usá-las insistentemente. Nunca a Globo denunciou a grilagem, nem a superexploração que a Cutrale impõe aos agricultores”, observou. E enfatizou: “O fato de a área ser grilada, confirmado pelo Incra, não é algo secundário. Esse é o fato”.

Stedile apontou a diferença entre o modelo do agronegócio e o defendido pelo MST. “Cerca de 98% da produção de suco no pais é exportada. Esse suco não vai para a mesa dos pobres, com ou sem Bolsa Família. Já o nosso modelo para a agricultura brasileira quer assegurar a produção de alimentos, a geração de emprego e renda no meio rural. Queremos produzir comida e, inclusive, suco de laranja, para chegar à mesa de todo o povo brasileiro. Não para o mercado externo. Mesmo assim, a área de exploração da laranja diminuiu em 400 mil hectares nesses dez anos, pela exploração que a Cutrale impõe aos agricultores”, sublinhou.

Em sua avaliação, a proposta de CPI tem apenas motivação eleitoral: “O Roberto Caiado [líder do DEM na Câmara e fundador da UDR] confessou que o objetivo da CPI é provar que o governo repassa dinheiro para a Dilma. Essa afirmação no mínimo é ridícula para qualquer sujeito bem informado, se não viesse de uma mente improdutiva como todo latifúndio”.

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