sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Amorim: “se não fosse o Brasil, Zelaya estaria preso ou morto”


Amorim: “se não fosse o Brasil, Zelaya estaria preso ou morto”


Ministro das Relações Exteriores rebateu teses de senadores do PSDB e Dem favoráveis a golpistas



“O presidente Manuel Zelaya teria sido preso, talvez morto sem o apoio do Brasil”, afirmou o chanceler brasileiro , Celso Amorim, durante reunião extraordinária da Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional do Senado, na última terça-feira.

O ministro ponderou que o Brasil está apoiando uma vítima de um golpe de Estado. “Não foi apenas uma pessoa que estava procurando refúgio. Foi um presidente legítimo que procurava o apoio da Embaixada”, sublinhou.



Diante dos ataques da oposição, o chanceler apontou que a proteção de Zelaya foi referendada por outras entidades internacionais, como a Organizações dos Estados Americanos (OEA) e Organização das Nações Unidas (ONU). “Não fomos protagônicos, fomos fazendo o que achávamos o que tinha de fazer. O Brasil não comandou nenhum processo”, disse Amorim, reiterando que o governo brasileiro ficou sabendo da entrada de Zelaya em Honduras apenas cerca de meia hora antes de sua chegada ao local. “Falei com ele (Zelaya), que nos disse que estaria indo (a Honduras) para tratar do retorno dele à presidência, por meios pacíficos e diálogo”, contou o chanceler.


“Nossa ação reconduz à retomada do diálogo, algo que não estava acontecendo”, afirmou Amorim. “O fato de Zelaya estar hoje no país é um convite ao diálogo”, destacou o ministro, divergindo de José Agripino (DEM-RN) e Sérgio Guerra (PSDB-PE), que criticaram a atuação do Brasil e expressaram o desejo de ver Zelaya asilado. “Não sei o que teria acontecido caso o Brasil não o tivesse aceito [na Embaixada]. Ele teria sido preso, morto ou estaria em uma serra planejando uma insurreição, uma revolução. Achamos que estamos contribuindo para o diálogo e nossa Embaixada não está interferindo [nos assuntos internos hondurenhos]”, afirmou o chanceler.


Ao defender a decisão do Itamaraty das críticas de tucanos e demistas, o ministro lembrou que o Brasil não está só. “Não me lembro de nenhum golpe de Estado que tenha sido tão amplamente criticado, tanto pela OEA quanto pela ONU e por outras lideranças mundiais. Trata-se não apenas de um presidente que buscava se exilar por golpe em seu país, mas de um presidente legítimo, assim reconhecido pela comunidade internacional, que quase literalmente bateu à nossa porta. Então consideramos como correto dar esse abrigo”, resumiu Amorim.



Quanto ao líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), que expressou a preocupação de que a diplomacia brasileira fique refém da crise em Honduras, que o tucano definiu como um “pequeno país”, Amorim concordou apenas com a preocupação: “Naturalmente esta é uma preocupação nossa. Mas lá o que está em jogo não é apenas um pequeno país da América Central, mas o destino da democracia, pelo menos na região, onde a tolerância a um golpe de Estado poderia inspirar outros golpes”, disse.



Arthur Virgílio (PSDB-AM) tentou defender o golpista Roberto Micheletti. Disse que mesmo que ele tenha feito um golpe e esteja coibindo a liberdade de expressão naquele país, não significa que Manuel Zelaya tenha agido democraticamente “ao querer forçar um terceiro mandato na presidência”. Na avaliação do tucano “Zelaya também tentou dar um golpe, talvez inspirado na conduta do presidente da Venezuela, Hugo Chávez”.


Amorim rebateu as afirmações de Virgílio e negou a existência de “qualquer segmento da agenda política de Hugo Chávez” na questão hondurenha. Ele reafirmou que Zelaya foi vítima de um golpe militar repudiado por toda a comunidade internacional e que não teve nada a ver com “forçar um terceiro mandato”. “O que está em jogo é o destino na democracia na América Central. O fato é que o Brasil não escolheu o papel que está tendo neste contexto, mas também não fugiu dele depois da situação posta”, completou Amorim.


O ministro polemizou também com o senador Alvaro Dias (PSDB-PR), quando este insinuou que o Brasil sabia previamente da volta de Zelaya, concordando, portanto, com a tese do governo golpista de Honduras: “Tenho 50 anos de vida pública. Se Vossa Excelência preferir acreditar nas palavras de um golpista, não posso fazer nada. Não soubemos, não participamos e fomos surpreendidos quando ele bateu às portas da embaixada”, sublinhou.


O líder do PT, Aloizio Mercadante (SP), afirmou “não haver dúvidas quanto ao fato de Manuel Zelaya, presidente deposto de Honduras, ter sofrido um golpe”. Mercadante pediu, que os parlamentares brasileiros se posicionem claramente contra o golpe. Inácio Arruda (PCdoB-CE) disse não haver sentido em ficar perguntando qual é o status de Zelaya. “O que importa é que o Brasil defende a democracia e os direitos de um presidente legitimamente eleito pelos hondurenhos”, declarou.





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