domingo, 6 de setembro de 2009

RESPOSTAS AS FALSIFICADORES (1)

Em 1948, o Ministério de Relações Exteriores da URSS, diante da campanha promovida pelos círculos reacionários e imperialistas nos EUA a respeito do pacto de não-agressão assinado com a Alemanha antes da II Guerra, emitiu um documento, “Nota sobre os falsificadores da História”. Trata-se de um texto rico em informações e tão irretorquível que os governos e a mídia dos EUA e países satélites preferiram escondê-lo de seus povos do que tentar responder a ele. Agora que a mesma campanha é exumada por algumas viúvas do colaboracionismo, numa comissão do Parlamento Europeu, é uma boa hora para conhecer esse documento. Por isso, publicaremos aqui um resumo do texto, por questões de espaço. A íntegra, no idioma castelhano, pode ser lida em www.antorcha.org/galeria/sgm.htm
No final de Fevereiro de 1948, o Departamento de Estado dos EUA, em colaboração com os Ministérios dos Negócios Estrangeiros da França e da Inglaterra, publicou uma compilação de excertos de vários relatórios e notas dos funcionários hitleristas e deu a essa coletânea o título de “Relações Soviético-nazis durante os anos 1939-1941”.
Como se observa no prefácio a essa compilação, no verão de 1946 os governos dos Estados Unidos, Grã-Bretanha e França fizeram um acordo para publicar os documentos dos arquivos do Ministério dos Negócios Estrangeiros da Alemanha, correspondentes aos anos compreendidos entre 1918 e 1945, apreendidos na Alemanha pelas autoridades americanas e britânicas.
Devemos mencionar que na compilação publicada só foram incorporados os materiais dos anos 1939 a 1941, enquanto que o Departamento de Estado não incluiu na citada compilação os materiais dos anos precedentes e, em particular, aqueles correspondentes ao período de Munique, que permanecem ocultos da opinião pública mundial. Este fato, sem dúvida alguma, não é casual, correspondendo a objetivos que não têm nada em comum com uma concepção objetiva e conscienciosa da verdade histórica.
Simultaneamente com a publicação nos Estados Unidos, e nos países que dele dependem, da dita compilação, levantou-se, como que por magia, uma nova onda de ataques e calúnias desenfreadas sobre o pacto de não-agressão celebrado em 1939 entre a URSS e Alemanha, que seria supostamente dirigido contra as potências ocidentais.
Assim, o verdadeiro objetivo da publicação nos Estados Unidos da compilação sobre as relações entre a URSS e a Alemanha de 1939 a 1941 não deixa margem a dúvidas. Seu objetivo não é apresentar uma exposição objetiva dos acontecimentos históricos, mas desfigurar o seu verdadeiro contexto, mentir sobre a União Soviética, debilitar a influência internacional da União Soviética como referência realmente democrática e firme frente às forças agressivas e anti-democráticas.
Além disso, não podemos perder de vista o desejo dos círculos dirigentes dos Estados Unidos de minar, com sua campanha de calúnias contra a URSS, a influência dos elementos progressistas de seu país, que preconizam a melhora das relações com a URSS. O golpe nos elementos progressistas dos Estados Unidos tem como objetivo, sem dúvida, debilitar sua influência nas eleições presidenciais dos Estados Unidos, que terão lugar no outono de 1948.
A compilação contém um grande número de documentos fabricados pelos funcionários diplomáticos hitleristas no labirinto das chancelarias diplomáticas alemãs. Os governos americano, inglês e francês decidiram publicar unilateralmente documentos alemães sem sequer se deter diante de uma falsificação da história e lançando calúnias contra a União Soviética, que foi quem suportou o peso principal da luta contra a agressão hitlerista.
A URSS ACUSA
Tendo em conta este fato, o governo soviético considera que também tem o direito de publicar os documentos secretos relativos às relações entre a Alemanha hitlerista e os governos da Inglaterra, França e Estados Unidos, documentos que caíram em mãos do governo soviético e que esses governos ocultaram da opinião pública. Ocultaram estes documentos e não querem publicá-los. Porém, nós consideramos que, depois de tudo o que aconteceu, eles devem ser publicados para que a verdade histórica possa ser restabelecida. A publicação desses documentos permitirá apresentar, tal qual foi, o curso real da preparação e desenvolvimento da agressão hitlerista e da II Guerra Mundial.
I. O começo
Os falsificadores americanos e seus cúmplices anglo-franceses tentam dar a impressão de que os preparativos da agressão alemã, que desembocou na II Guerra Mundial, começaram no outono de 1939. Mas, quem pode acreditar nisso hoje em dia, exceto aquelas pessoas predispostas a crer em toda notícia sensacionalista sem fundamento? Quem ignora a essa altura que a Alemanha começou a preparação da guerra desde o momento da ascensão de Hitler ao poder? E igualmente, quem ainda ignora que o regime hitlerista foi criado pelos meios monopolistas alemães com a inteira e plena aprovação dos dirigentes da Inglaterra, França e Estados Unidos?
A AJUDA A HITLER
Com a finalidade de preparar-se para a guerra e de assegurar um armamento moderno, a Alemanha devia restabelecer e desenvolver sua indústria pesada e, em primeiro lugar, a metalurgia e a indústria de guerra do Ruhr. Depois de sua derrota durante a I Guerra imperialista, a Alemanha, que se encontrava sob o jugo do Tratado de Versalhes, não podia fazê-lo por seus próprios meios, em um período de tempo curto. O imperialismo alemão se beneficiou, neste ponto, do potente apoio dos Estados Unidos da América.
O plano de reparações para a Alemanha, chamado Plano Dawes, jogou um grande papel nesta questão. Com a ajuda deste plano, Estados Unidos e Inglaterra contavam por a indústria alemã debaixo da dependência dos monopólios americanos e britânicos. O Plano Dawes abriu o caminho para uma intensa afluência e penetração na indústria alemã de capitais estrangeiros, sobretudo americanos. Em seis anos, de 1924 a 1929, a afluência de capitais estrangeiros na Alemanha foi de 10-15 bilhões de marcos em investimentos de longo prazo e de mais de 6 bilhões de curto prazo. Isso reforçou enormemente o potencial econômico e, em particular, o potencial de guerra alemão. Neste aspecto, o papel preponderante corresponde aos investimentos americanos, que, no mínimo, representavam 70% do total dos empréstimos de longo prazo.
A COALIZÃO DOS TRUSTES
Sabe-se bem qual foi o papel jogado pelos monopólios americanos – com as famílias Dupont, Morgan, Rockefeller, Lamont e outros magnatas industriais dos Estados Unidos na cabeça – no financiamento da indústria pesada alemã, no restabelecimento e desenvolvimento dos laços mais estreitos entre a indústria americana e a indústria alemã. Os mais importantes monopólios americanos estavam estreitamente ligados à indústria pesada, aos consórcios de guerra e aos bancos da Alemanha. O grande consórcio americano Dupont de Nemours e o truste químico britânico Imperial Chemical Industries, que era um dos maiores acionistas do truste do automóvel General Motors, mantinham estreitas relações industriais com o consórcio químico alemão I. G. Farbenindustrie, com o qual haviam concluído um acordo de cartel em 1926 sobre a divisão dos mercados mundiais para a venda de pólvora.
O presidente do Conselho de Administração da firma Rohm e Hass, de Filadélfia (EUA) era, antes da guerra, sócio do dono desta mesma empresa em Darmstadt (Alemanha). Assinalemos a este respeito que o antigo diretor deste consórcio, Rudolph Muller, desenvolve atualmente sua atividade na zona de ocupação conjunta e joga um importante papel nos círculos dirigentes da União Democrata Cristã (UCD). Entre 1931 e 1939, o capitalista alemão Schmitz, presidente do consórcio I. G.Farberindustrie, e membro do Conselho do Deutsche Bank, controlava a sociedade americana General Dyestuff Corporation. Depois da conferência de Munique (1938), o truste americano Standard Oil concluiu um acordo com a I. G. Farberindustrie, pelo qual esta última obtinha uma parte dos lucros sobre a gasolina de aviação produzida nos Estados Unidos, renunciando, em troca, a exportar da Alemanha a gasolina sintética que, na época, acumulava em estoque para fins bélicos.
Mesmo na véspera da guerra existiam, por exemplo, relações econômicas muito estreitas, de importância não apenas comercial mas também militar, entre a Federação da Indústria Britânica e o grupo industrial do Reich. Os representantes destes dois grupos monopolistas publicaram em Dusseldorf, em 1939, uma declaração conjunta na qual se dizia, entre outras coisas, que esse acordo tinha como objetivo assegurar a colaboração mais completa entre os sistemas industriais de seus países. Isto se passava nos dias em que a Alemanha hitlerista havia engolido a Tchecoslováquia! Nada surpreendente, pois, que a revista londrina Economist escrevesse a este respeito: não há na atmosfera de Dusseldorf algo que possa fazer com que os homens sensatos percam a razão?.
O Banco Schröder, bem conhecido, no qual predominava o truste alemão do aço Vereinigte Stahlwerke, fundado por Stinnes Thyssen e outros magnatas industriais do Ruhr, com filiais em Nova York e Londres, é um exemplo característico da interpenetração do capital americano, alemão e inglês. Allan Dulles, diretor das filiais de Londres, Colonia e Hamburgo da I. G. Schröder Banking Corporation, jogou um grande papel aqui [Nota do Editor: Allan Dulles foi, em seguida, fundador e diretor da CIA].
A famosa empresa de advocacia Sullivan e Cromwell jogou um eminente papel na filial de Nova York do banco Schröder. A empresa Sullivan e Cromwell era dirigida por John Foster Dulles, que é atualmente o principal conselheiro de M. Marshall. Sua empresa está estreitamente ligada com o truste mundial de petróleo, a Standard Oil dos Rockefeller, e também com o Chase National Bank, o banco mais poderoso dos Estados Unidos, que investiu imensos capitais na indústria alemã [N.E.: John Foster Dulles, irmão de Allan, foi secretário de Estado no governo Eisenhower e promotor da chantagem nuclear e da “guerra fria” contra a URSS].
Esta chuva de ouro, de dólares americanos, foi o que fecundou a indústria pesada da Alemanha hitlerista e, em particular, a indústria de guerra. Foram estes bilhões de dólares americanos, investidos na indústria de guerra da Alemanha hitlerista pelos monopólios do outro lado do Atlântico, que restabeleceram o potencial de guerra alemão e colocaram nas mãos do regime hitlerista a arma necessária para a agressão.
A POLÍTICA DE APAZIGUAMENTO
Outro fator decisivo que contribuiu para o desencadeamento da agressão hitlerista foi a política dos círculos dirigentes da Inglaterra e da França, política de apaziguamento da Alemanha hitlerista, política que renunciava à segurança coletiva, política de não-resistência à agressão alemã e de estímulo às pretensões agressivas da Alemanha hitlerista, que conduziu à II Guerra Mundial.
Passemos aos fatos:
Pouco tempo depois da subida de Hitler ao poder, em 1933, foi assinado em Roma, como consequência dos esforços dos governos inglês e francês, um Pacto de Entente e cooperação das quatro potências: Grã Bretanha, Alemanha, França e Itália. Esse pacto significava uma entente entre os governos inglês e francês, por uma parte, e o fascismo alemão e italiano, que já não dissimulava suas intenções agressivas. Igualmente, esse pacto firmado com os estados fascistas significava a renúncia à política de reforçamento da frente única das potências pacíficas contra os estados agressivos.
Ao tratar com a Alemanha e a Itália e colocar de lado as demais potências integrantes da Conferência de Desarmamento que estava se reunindo nesse momento, e que examinava a proposta soviética de concluir um pacto de não-agressão, Grã Bretanha e França assestaram um golpe no trabalho empreendido para assegurar a paz e a segurança dos povos.
Depois disso, em 1934, a Inglaterra e a França ajudaram Hitler, pelas costas da URSS, para que se beneficiasse da atitude hostil da Polônia feudal, seu aliado, com a conclusão do pacto germano-polaco de não-agressão, que foi uma das etapas importantes nos preparativos da agressão alemã. Hitler necessitava deste pacto para desorganizar as fileiras dos partidários da segurança coletiva e para demonstrar, com este exemplo, que a Europa necessitava não de uma segurança coletiva, mas de acordos bilaterais. Isto permitia aos agressores alemães decidir quando e com quem deviam concluir acordos, e quando e quem devia ser atacado. Não há dúvida alguma que o pacto germano-polaco constituía a primeira brecha importante na estrutura da segurança coletiva.
Hitler sentiu-se à solta e pôs em marcha numerosas medidas destinadas a reconstruir abertamente as forças armadas da Alemanha, o que não gerou nenhum tipo de resistência entre os dirigentes ingleses e franceses. Ao contrário, pouco tempo depois, em 1935, se concluiu em Londres - onde havia chegado Ribbentrop para levar a cabo este objetivo - um acordo naval anglo-alemão, segundo o qual a Grã Bretanha aceitava o restabelecimento das forças navais alemãs, que chegavam a ser tão importantes como a frota de guerra francesa. Hitler obtinha assim o direito a construir submarinos de uma tonelagem global equivalente a 45% da frota submarina britânica. Foi igualmente neste período quando se produziram os atos unilaterais da Alemanha hitlerista, cujo objetivo era suprimir todas as demais restrições relativas ao aumento das forças armadas, restrições estabelecidas pelo Tratado de Versalhes; estes atos tampouco provocaram nenhum tipo de resistência por parte da Inglaterra, França e Estados Unidos.
As ambições dos agressores fascistas aumentavam de dia para dia, enquanto que os Estados Unidos, a Grã Bretanha e a França davam mostras de uma evidente tolerância. Verdadeiramente, é preciso dizer que não foi casual que as intervenções militares levadas a cabo nessa época pela Alemanha e Itália na Etiópia e Espanha não lhes acarretaram problema algum.
A UNIÃO SOVIÉTICA
A União Soviética era a única que perseguia de maneira firme e consequente sua política de paz, defendendo os princípios de igualdade em direitos e de independência com relação a Etiópia, que era, por outra parte, um dos membros da Sociedade das Nações, assim como o direito do legítimo governo republicano da Espanha de receber apoio dos países democráticos em sua luta contra a intervenção germano-italiana.
A União Soviética – dizia V. Molotov, ao falar da agressão italiana à Etiópia na sessão do Comitê Central Executivo da URSS - demonstrou na Sociedade das Nações, baseando-se no exemplo de um pequeno país, Etiópia, que era fiel a este princípio: o da independência de todos os Estados e sua igualdade enquanto nações.
A União Soviética também aproveitou sua participação na Sociedade das Nações para por em prática sua linha de conduta em relação ao agressor imperialista.
O que faziam durante este período os governos dos Estados Unidos, Grã Bretanha e França quando, diante de seus olhos e de uma maneira cada vez mais desavergonhada, reprimiam bestialmente a suas vítimas? Não se moveram o mínimo para frear os agressores alemães e italianos, para defender os direitos dos povos pisoteados, para manter a paz e frear a iminente ameaça de uma II Guerra Mundial.
Somente a União Soviética fez todo o possível para barrar a passagem dos agressores fascistas. A União Soviética se converteu na iniciadora e referência da segurança coletiva. Desde 6 de fevereiro de 1933, M. Litvinov, representante da União Soviética na Comissão Geral de Desarmamento, havia proposto que se fizesse uma declaração em que se definissem os termos agressão e agressor. Não obstante, a Conferência, sob a direção da Inglaterra e da França, que favoreciam a agressão alemã, não aceitou esta proposta.
Todo o mundo conhece a persistente e prolongada luta da União Soviética e de sua delegação, presidida por M. Litvinov, na Sociedade das Nações a favor da manutenção e reforçamento da segurança coletiva, alçando sua voz a favor deste princípio em quase todas as sessões e em quase todas as comissões. Mas, como se sabe, a voz da União Soviética era como uma voz no deserto. Todo o mundo conhecia as propostas da delegação soviética sobre as medidas a tomar para reforçar a segurança coletiva, propostas dirigidas a M. Avenlo, Secretário Geral da Sociedade das Nações, seguindo as determinações do governo soviético, com data de 30 de agosto de 1936; pedia-se que a Sociedade das Nações as examinasse. Mas, como também se sabe, estas propostas se enterraram nos arquivos da Sociedade das Nações.
CAPITULAÇÃO ANGLO-FRANCESA
Era evidente que a Inglaterra e a França, que nesse momento desempenhavam o papel mais importante na Sociedade das Nações, renunciavam a resistir coletivamente à agressão alemã. Renunciavam à segurança coletiva porque esta lhes impedia de prosseguir sua nova política de apaziguamento da agressão alemã, em realidade uma política de concessões à agressão hitlerista. Certamente, uma política assim não podia senão reforçar a agressão alemã. Mas os círculos dirigentes anglo-franceses consideravam que isso não era perigoso, posto que, ao dar satisfação aos agressores alemães no Ocidente, se lhes poderia dirigir mais tarde para o Leste e convertê-los em uma arma contra a URSS.
No informe apresentado ao XVII Congresso do Partido Comunista da União Soviética, em março de 1939, ao expor as razões do reforçamento da agressão hitlerista, J. Stalin dizia:
A razão principal consiste em que a maioria dos países não agressivos e, sobretudo, Inglaterra e França, renunciam à política de segurança coletiva, à política de resistência ativa aos agressores, e em que adotam uma atitude de não intervenção, uma atitude de neutralidade.
Para desorientar o leitor e, ao mesmo tempo, caluniar o governo soviético, o correspondente americano Nil Stanford afirma que o governo soviético se opunha à segurança coletiva, que M. Litvinov foi afastado de seu cargo de Comissário de Assuntos Exteriores e substituído por V. Molotov porque mantinha uma política cujo objetivo era reforçar a segurança coletiva. É difícil imaginar algo mais estúpido do que esta fantástica afirmação. É evidente que M. Litvinov não levava a cabo uma política pessoal, mas a do governo soviético. Por outro lado, em todo o mundo se conhece a luta que este governo e todos os seus representantes, M. Litvinov incluído, mantiveram a favor da segurança coletiva durante todo o período anterior à guerra.
Quanto à designação de V. Molotov para o cargo de Comissário do Povo de Assuntos Exteriores, é evidente que em uma situação complicada, quando os fascistas preparavam a II Guerra Mundial e quando a Grã Bretanha e a França, com os Estados Unidos por trás, lhes deixavam à solta e lhes animavam em seus planos de guerra contra a URSS, era necessário por em um cargo de tanta responsabilidade como o de Comissário de Assuntos Exteriores um homem de Estado mais experimentado e que gozava de uma confiança maior que M. Litvinov no país.

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