sexta-feira, 11 de setembro de 2009

PRÉ-SAL É A OPORTUNIDADE DE DESNVOLVER O PAÍS





“Pré-sal é a oportunidade de desenvolver o país”, diz o diretor de Exploração e Produção da Petrobrás
O diretor de Exploração e Produção da Petrobrás, Guilherme Estrella, afirmou, em entrevista à Agência Estado, que a formação de um conteúdo industrial nacional no setor petrolífero foi um dos motivos que sustentaram a condição de operadora única da Petrobrás no pré-sal. “São dezenas, às vezes centenas, de equipamentos que são hoje importados. Com essa dimensão e escala, pode-se tomar decisões de construir estratégias voltadas ao desenvolvimento da indústria nacional”, argumentou.
Questionado se como operadora única a Petrobrás teria alguma vantagem, Estrella respondeu que “antes de ser vantagem ou desvantagem, é uma responsabilidade para a companhia”. “Efetivamente a Petrobrás tem grande experiência operacional, de exploração, perfuração e produção de óleo em águas profundas e ultraprofundas. Se tivesse de ser escolhida a empresa mais experiente nesse tipo de operação, certamente seria a Petrobrás. Ao mesmo tempo, todos sabemos que a Petrobrás tem um compromisso com o desenvolvimento nacional. Há também um componente de interesse nacional de aproveitar isso do ponto de vista tecnológico. Para nós é uma responsabilidade gigantesca”.
Sobre o ritmo da produção poder respeitar a capacidade de fornecimento dos equipamentos pela indústria nacional, ele disse que “isso é fundamental e está na lei”. “Não adianta mapear o pré-sal, ter dez oportunidades e querer desenvolver isso tudo ao mesmo tempo. Não, o país já é autossuficiente. Então, o CNPE (Conselho Nacional de Política Energética) e o governo podem fazer um planejamento de longo prazo para gerenciar efetivamente a matriz energética nacional. Essa proposta dá ao governo brasileiro, e não só a esse, a todos os governos, a possibilidade de fazer o planejamento estratégico energético nacional e trazer, através da companhia, empresas para fabricação no Brasil. Nós perdemos 30 anos de desenvolvimento e temos novamente uma oportunidade”.
“Então estamos retornando e vamos começar a fabricar no Brasil. O que já aconteceu há 50 anos. Sem a inteligência brasileira, é só fabricação. Agora nós temos novamente uma oportunidade de começar fabricando no Brasil, mas amarrar essa construção com a engenharia nacional”.
“A Petrobrás, além de ser operadora, pode ser exploradora exclusiva de algumas áreas. A lei permite, e, de acordo com nosso conhecimento, com a nossa estimativa da potencialidade da área, a Petrobrás pode ser muito competitiva. Porque, como eu disse, tem a escala, tem toda nossa experiência na costa brasileira, lida e opera com tecnologia de ponta todo dia. Então nós temos um potencial técnico espetacular”.
Com relação a supostos ônus pelo fato da estatal se responsabilizar pelos investimentos para a exploração, o diretor da empresa resumiu: “Claro que há um ônus. Mas nós, da Petrobrás, não consideramos um ônus.
Consideramos uma missão da companhia, como empresa controlada pelo governo, na participação do aproveitamento dessa grande riqueza. Além disso, a escala em qualquer indústria é muito importante. Se uma empresa tiver que colocar duas, três plataformas, é uma coisa. Se tiver de pôr 20, é outra. A escala para uma indústria petrolífera é muito importante até pelos custos gigantescos envolvidos. Sermos operadores de toda a área nos dá uma grande tranquilidade de aproveitarmos essa escala e, através disso, sermos um fator e uma ferramenta de desenvolvimento da indústria brasileira”.
“O governo tem oportunidade de programar. É natural que, como tem sua empresa como operadora de petróleo, concilie as necessidades nacionais e este planejamento estratégico com a capacidade da Petrobrás de atacar os projetos paulatinamente. O que vai dar ao governo condições de fazer uma coisa casada. A partir do momento que somos autossuficientes em petróleo, isso dá ao governo condições de planejar no médio e longo prazo”.
O diretor da Petrobrás rebateu a argumentação de que o novo modelo de exploração poderia afastar investidores. “O meu dia a dia aqui desmente isso. Tenho recebido indústrias estrangeiras dizendo: ‘Estrella, nós queremos participar do pré-sal. Vamos instalar nossas fábricas no Brasil’. Empresas de todos os segmentos: sondas, equipamentos sofisticados. Todo mundo quer fabricar no Brasil”.
Guilherme Estrella não descartou a possibilidade de uma reserva de 100 bilhões de barris de petróleo. “A bacia de Santos não tem óleo só no pré-sal. A costa equatorial é uma enorme área sedimentar. Na minha visão como geólogo, a grande joia da coroa que veio à tona não foi o pré-sal, mas a Bacia de Santos. Há sete, oito anos, não se falava na Bacia de Santos. Hoje tem pré-sal, pós-sal, Mexilhão, Tambaú, é uma bacia gigantesca. Temos toda a costa leste, a costa equatorial. Os geólogos ainda têm muita esperança. E se você me perguntar sobre volumes, eu acho possível sim”.
“O que está em jogo são reservas mundiais. Em 2030 mais da metade do óleo a ser consumido não foi descoberto ainda. As grandes petrolíferas mundiais, inclusive a Petrobrás, lidam com esse desafio de manter suas reservas. Quanto maior a produção, maior o desafio: se a empresa produz 2 milhões de barris por dia, no fim do ano precisa de mais de 700 milhões de barris para repor a produção. O simples fato da grande empresa ter acesso a uma reserva já é uma garantia. É um bem, um patrimônio estratégico importantíssimo.
“O petróleo é uma riqueza não como qualquer outra. Ninguém invade um país por causa de laranja ou tâmara. Eu trabalhei em Bagdá por alguns anos e ninguém chegou com um tanque americano para tomar uma tamareira. Isso é uma coisa. A outra é o gráfico da Agência Internacional de Energia, que mostra que mais da metade do petróleo a ser consumido ainda não foi descoberto. Então, o Ocidente, que é o grande consumidor de petróleo tem uma fome estratégica de reservas enorme.
Combustíveis alternativos vão ocupar 20% ou 25% do consumo. Até que uma virada tecnológica ofereça à sociedade uma fonte energética que esteja à mão e facilmente reproduzível. Então, reserva de petróleo continua a ser a sustentação econômica e de segurança de todo o lado ocidental”.

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