domingo, 20 de setembro de 2009

Iraquianos em festa recebem herói das sapatadas em Bush

Iraquianos em festa recebem herói das sapatadas em Bush


O repórter iraquiano Muntadar Al Zaidi disse após sua libertação de um presídio em Bagdá, que “a oportunidade apareceu e eu não a deixei escapar”, referindo-se ao arremesso de sapatos em dezembro contra o então carniceiro-mor de Washington

“Aqui estou eu livre, mas meu país ainda está ocupado”, afirmou o jornalista iraquiano Muntadar Al Zaidi, em entrevista que se seguiu à sua libertação de um presídio em Bagdá, após nove meses de cárcere por ter lançado seus sapatos contra o então presidente dos EUA, W. Bush, em dezembro de 2008.


Ele concedeu entrevista na sede da TV Bagdadia em Bagdá, onde, com a “antiga bandeira iraquiana sobre os ombros”, reafirmou sua ação contra o açougueiro-mor de Washington e a ocupação: “a oportunidade apareceu e eu não a deixei escapar”.


A imagem do jornalista atirando sapatos e Bush se esquivando correu mundo e se tornou símbolo da falência da ocupação do Iraque. Considerado um herói no seu país e também no mundo inteiro, Al Zaidi foi recepcionado por manifestantes, amigos e familiares que gritavam seu nome, e uma pequena orquestra. Conforme o costume iraquiano, foram sangrados carneiros em sua homenagem. Os presentes gritavam, ainda, “Viva o Iraque!” e “Fora Maliki, o agente dos americanos!”

TORTURAS

Inicialmente o regime colaboracionista havia pedido 15 anos de cadeia para Al Zaidi, mas, diante da repercussão, acabou baixando a sentença para três anos, e o soltou, transcorridos nove meses, por “bom comportamento”. Na entrevista, o jornalista denunciou que foi torturado com choque elétrico, espancamento e afogamento.

“O que me conduziu à esta confrontação foi a injustiça sobre o nosso povo”, afirmou Al Zaidi. “A ocupação tentou humilhar o povo iraquiano, pisoteando-o com botas militares. Há mais de um milhão de mártires mortos pelas balas da ocupação, cinco milhões de órfãos, um milhão de viúvas, centenas de milhares de mutilados e cinco milhões de refugiados”, denunciou o patriota iraquiano.

A sapatada – um insulto extremo na cultura árabe – ocorreu quando W. Bush, a poucos dias de ir para a lata de lixo da história, apareceu de surpresa para posar ao lado do primeiro-fantoche, Nuri Al Maliki e dar seu “beijo de despedida” ao Iraque. “Toma o beijo do adeus, seu cachorro!”, retrucou Al Zaidi, arremessando o primeiro sapato, das “viúvas, dos órfãos e de todos que você matou!”, seguido pelo segundo. A atitude de Al Zaidi teve o papel ainda de desafinar, e desmoralizar, o coro monocórdio da mídia imperial sobre o “sucesso da escalada no Iraque”.

No pronunciamento na TV Bagdadia, Al Zaidi afirmou que “se aqueles que me acusaram soubessem por quantas casas destruídas eu passei com aqueles sapatos; quantas vezes aqueles sapatos pisaram o sangue dos inocentes; e quantas vezes aqueles sapatos entraram em casas cuja honra havia sido desgraçada, então [admitiriam que] essa era a resposta apropriada”.

O mundo inteiro viu Al Zaidi ser derrubado e espancado imediatamente após os sapatos arremessados, e o jornalista pôde, agora, relatar o que se seguiu. “Na mesma hora em que o primeiro-ministro ia a uma estação de TV por satélite dizendo que não dormiria enquanto não tivesse certeza de que eu estava numa cama confortável e com cobertor, eu estava sendo torturado na sala atrás da sala da conferência de imprensa”. A tortura incluiu “choque elétrico, espancamento com fio elétrico e com cabo metálico”. Ele também foi submetido a afogamento (“waterboarding”, no jargão da CIA).

Continuando seu relato sobre o episódio das sapatadas, Al Zaidi disse “não ser um herói”, mas que tinha “sua própria opinião, e ao atirar os sapatos no criminoso de guerra Bush, queria mostrar suas mentiras, a rejeição à ocupação, a rejeição aos seus assassinatos”. “Talvez alguns de vocês indaguem porque eu não fiz uma pergunta a Bush que o embaraçasse. Como eu poderia fazer isso se nós jornalistas recebemos ordens antes da entrevista de que não era permitido fazer qualquer pergunta a Bush?”

Al Zaidi anunciou que irá tentar identificar seus torturadores e, atendendo pedido da família, foi para a Grécia, para receber cuidados médicos e psicológicos, e obter alguma segurança. Na entrevista, ele denunciou que é alvo de agências de espionagem dos EUA e de esquadrões da morte colaboracionistas.


ANTONIO PIMENTA

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