sexta-feira, 11 de setembro de 2009

AET: pane da Telefónica é falta de investimento e manutenção

“Uma chuva na cidade não poderia ter causado uma paralisação de tamanha envergadura no sistema de telefonia fixa”, afirma Ruy Bottesi

A Telefónica provocou nova pane em São Paulo, deixando mudos os serviços de emergência da Polícia Militar, Defesa Civil e Corpo de Bombeiros, dificultando o socorro às vítimas do temporal que caiu sobre a capital e cidades vizinhas nesta terça-feira, dia 8. Na hora em que foi preciso, a “privatização que deu certo” deixou o povo na mão. Os usuários não conseguiram efetuar ou receber ligações, locais ou interurbanas. Segundo a PM, em 74 anos de sua criação, nunca havia corrido antes problemas em sua central de operações.
A chuva teve início por volta de 8h e já na parte da manhã as ligações não conseguiam ser completadas. Só no início da tarde é que a Telefónica de España – que empalmou a Telesp na privatização de 1998 – confirmou a ocorrência de problemas na sua rede. À noite, divulgou nota referindo-se a “um conjunto de oscilações na rede” e a “um dia atípico de alta demanda pelos serviços de voz” para tentar explicar mais uma pane entre muitas que vêm ocorrendo este ano.
Para o presidente da Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET), Ruy Bottesi, “tudo indica falta de investimento e de manutenção no sistema”. “Uma chuva na cidade não poderia ter causado uma paralisação de tamanha envergadura no sistema de telefonia fixa, que tem em seu planejamento equipamentos de redundância”, afirmou Bottesi. Ou seja, a telefonia fixa, há mais de 100 anos, é implantada com equipamentos que permitem a substituição imediata daqueles que por acaso sejam afetados num determinado momento.
Porém, parece que a Telefónica, mais uma vez, introduziu uma inovação na telefonia...
Na quarta-feira, dia 9, a AET enviou carta ao presidente do BNDES solicitando informações detalhadas - descrição dos projetos, valores envolvidos, prazos de início e fim, e respectivas garantias - sobre o empréstimo de R$ 2 bilhões concedido pelo banco público à Telefónica em outubro de 2007. “Verificamos que nos últimos anos a referida concessionária deixou degradar a qualidade dos serviços básicos prestados aos clientes, ficando evidente a falta de atenção e prioridade às atividades de operação e manutenção da rede”, afirmou Bottesi.
Além disso, a entidade enviou carta à Comissão de Valores Mobiliários (CVM) (ver matéria abaixo) e à Comissão de Ciência e Tecnologia, Comunicação e Informática da Câmara dos Deputados, nas quais manifesta dúvidas em relação a supostos investimentos da Telefónica, na ordem de R$ 2 bilhões em 2008 e a previsão de mais R$ 2,4 bilhões este ano, dos quais R$ 750 milhões para rede de dados. “Ocorre que não estamos conseguindo identificar, junto aos tradicionais fornecedores de equipamentos e soluções, com ponto de presença no Brasil, a realização de contratações para ampliação e modernização da planta de telecomunicações, em 2008 e 2009, especificamente na telefonia fixa”, diz a AET.

PROPAGANDA

A Telefónica tem divulgado volumosos recursos em “investimentos”. No entanto, fora os R$ 2 bilhões que pegou no BNDES, a única coisa certa é a série de panes – sete, pelo menos - que vem sendo registrada desde 2 de julho de 2008 nos serviços, tanto de voz quanto de banda larga, que deveriam ser prestados pela concessionária.
O curioso é que nem bem a Telefónica recebeu permissão da Anatel (26 de agosto) para voltar a vender o Speedy - sem que os problemas que determinaram a suspensão de sua venda tivessem sido reparados, diga-se de passagem -, que havia sido suspenso no início de junho, ela retomou a rotina de serviços mal prestados à população.
Para o presidente da Anatel, Ronaldo Sardenberg, que liberou há poucos dias a venda do serviço banda larga da Telefônica-Speedy após sucessivas panes, a culpa é dos usuários. “Há um crescimento muito acelerado do tráfego, maior até do que o crescimento do setor como um todo”. (Ver matéria ao lado).
Quer dizer, então, que o problema foi causado pela população que resolveu ligar demais, em um dia em que imperava o caos? Não deixa de ser uma confissão de que os “investimentos” que a Telefónica alega ter feito são insuficientes para atender a demanda da população. Mas, aplicando o raciocínio de Sardenberg para a telefonia fixa, inovação introduzida por Graham Bell em 1870 e cuja primeira linha foi instalada no Brasil em 1877 por D. Pedro II, o problema na pane de terça-feira foi que os usuários telefonaram demais.
“As centrais de telefonia devem funcionar sempre com planos de contingência, que já preveem situações de emergência. Com isso, o próprio sistema consegue definir caminhos alternativos para a ligação ser completada, caso a primeira opção não funcione”, frisou Antônio Carlos Gianoto, professor do curso de engenharia elétrica do Centro Universitário FEI.
As sucessivas panes ocorridas nos serviços da Telefónica não são de responsabilidade de São Pedro. A causa óbvia é a falta de investimentos em manutenção, ampliação e modernização da rede. Ficam, então, as perguntas: onde foram parar os R$ 2 bilhões fornecidos pelo Estado brasileiro? Teriam sido remetidos para o exterior? Para que serve a Anatel, dita agência reguladora?
VALDO ALBUQUERQUE

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