quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Operação Sarkozy: Como a CIA alçou um dos seus agentes à presidência da França (2)

As origens do presidente francês Nicolas Sarkozy e as alianças que o conduziram ao poder. Conforme o autor do artigo, todas as informações nele contidas são verificáveis, com exceção de duas imputações, pelas quais ele assume a responsabilidade exclusiva
THIERRY MEYSSAN*
Continuação da edição anterior
Ao longo de todo o seu primeiro mandato, Jacques Chirac manteve Nicolas Sarkozy à distância. Este último se mantém em silencio durante esta longa travessia do deserto. Discretamente, continua a estabelecer relações nos círculos financeiros.
Em 1996, Nicolas Sarkozy, depois de um longo processo de divórcio, casa-se com Cecília. Eles têm como padrinhos os dois milionários Martin Bouygues e Bernard Arnaud (o homem mais rico do país).
ÚLTIMO ATO
Muito antes da crise iraquiana, Frank Wisner Jr. e seus colegas da CIA planejam a destruição da corrente gaullista e a ascensão ao poder de Nicolas Sarkozy. Eles agem em três etapas: primeiro a eliminação da direção do partido gaullista e a tomada de controle de sua estrutura. Depois, a eliminação do principal rival de direita e a investidura do partido gaullista à eleição presidencial. E finalmente, a eliminação de todo rival sério à esquerda de maneira a que fosse certo que Sarkozy ganhasse a eleição presidencial da República Francesa.
Durante anos, os meios de comunicação foram mantidos pendentes das revelações póstumas de um promotor imobiliário. Antes de morrer de uma doença grave, ele registrou, por uma razão nunca esclarecida, uma confissão em vídeo. Por uma razão ainda mais obscura, esse “cassete” caiu nas mãos de um chefe do Partido Socialista, Dominique Strauss-Khan, que o fez chegar indiretamente à imprensa.
As confissões desse indivíduo não resultam em nenhuma sanção judicial, mas elas abrem uma caixa de Pandora. A principal vítima dos sucessivos escândalos será o primeiro-ministro Alain Juppé. Para proteger Chirac, ele assume sozinho todas as infrações penais. O afastamento de Juppé deixa o caminho livre a Nicolas Sarkozy para tomar a direção do partido gaullista.
Sarkozy explora então a sua posição para fazer Jacques Chirac reintegrá-lo ao governo, apesar do seu ódio recíproco. Ele acabou sendo ministro do Interior. Erro grave! Nesse cargo, Sarkozy controla os governadores e utiliza a polícia política, a qual ele utilizou para colocar os seus indicados nos principais setores da administração.
Ele também trata dos assuntos referentes à Córsega. O governador Claude Érignac foi assassinado. Embora ninguém tenha reivindicado a autoria do crime, o assassinato foi imediatamente interpretado como um desafio lançado à República pelos independentistas. Após uma longa caçada, a polícia conseguiu prender um suspeito em fuga, Yvan Colonna, filho de um deputado socialista. Desprezando a presunção de inocência, Nicolas Sarkozy anuncia a sua prisão acusando-o de ser o assassino. É que a notícia é demasiado bela, a dois dias do referendo que o ministro do Interior organiza na Córsega para modificar o estatuto da ilha. Apesar de tudo, os eleitores rejeitam o projeto Sarkozy que, segundo alguns, favorece os interesses mafiosos.
Mesmo que Yvan Colonna posteriormente tenha sido declarado culpado, ele sempre proclamou a sua inocência e não foi encontrada nenhuma prova material contra ele. Estranhamente, o homem se refugiou no silêncio, preferindo ser condenado a revelar o que sabe. Nós revelamos aqui que o governador Érignac não foi morto por nacionalistas, mas sim abatido por um assassino a soldo, imediatamente enviado para Angola onde foi contratado pelo grupo Elf como membro de seu corpo de segurança. O motivo do crime estava precisamente ligado às funções anteriores de Érignac, responsável pelas redes africanas de Charles Pasqua no Ministério da Cooperação. Quanto a Yvan Colonna, é um amigo pessoal de Nicolas Sarkozy há décadas e seus filhos frequentam-se mutuamente.
Explode um novo escândalo: circulam falsas listagens que acusam mentirosamente várias personalidades de esconderem contas bancárias em Luxemburgo, no banco Clearstream. Dentre as personalidades acusadas, Nicolas Sarkozy. Ele se defende apresentando uma queixa e da por entendido que seu rival de direita na eleição presidencial, o então primeiro-ministro Dominique de Villepin, organizou essa manobra. E não esconde sua intenção de colocá-lo atrás das grades.
Na realidade, as falsas listagens foram postas em circulação por membros da Fundação Franco-Americana, presidida por John Negroponte e administrada por Frank Wisner Jr. O que os juízes ignoram e que nós revelamos aqui é que as listagens foram fabricadas em Londres por um escritório comum da CIA e do MI6, Hakluyt & Co, administrado também por Frank Wisner Jr.
Villepin defende-se das acusações que lhe atribuem, mas é submetido a uma investigação e a uma prisão domiciliar e, de fato, é afastado provisoriamente da vida política. O caminho está livre pelo lado da direita para Nicolas Sarkozy.
Resta neutralizar as candidaturas da oposição. As mensalidades de adesão ao Partido Socialista são reduzidas a um nível simbólico, para atrair novos militantes. De repente, milhares de jovens obtêm seu cartão do partido. Dentre eles, pelo menos dez mil novos aderentes são, na realidade, militantes do Partido trotskista “lambertista” (em referência ao nome do seu fundador, Pierre Lambert). Esta pequena formação de extrema esquerda historicamente pôs-se a serviço da CIA contra os comunistas stalinistas durante a Guerra Fria (ela é o equivalente do SD/USA de Max Shatchman, que agrupou os neo-conservadores nos EUA). Não é a primeira vez que os “lambertistas” se infiltram no Partido Socialista. Eles anteriormente plantaram lá dois célebres agentes da CIA: Lionel Jospin (que se tornou primeiro-ministro) e Jean-Christophe Cambadélis, o principal conselheiro de Dominique Strauss-Kahn.
São organizadas primárias no interior do Partido Socialista com a finalidade de designar seu candidato à eleição presidencial. Duas personalidades participam da disputa: Laurent Fabius e Ségolène Royal. Só o primeiro representa um perigo para Sarkozy. Dominique Strauss-Kahn entra então na corrida com a missão de eliminar Fabius no último momento. E o conseguirá graças aos votos dos militantes “lambertistas” infiltrados, que não votarão nele, mas em Royal.
A operação foi possível porque Strauss-Kahn, de origem judia marroquina, está há muito na folha de pagamento dos Estados Unidos. Os franceses ignoram que ele dá aulas na universidade americana de Stanford, onde foi contratado nada mais nada menos pela Condoleezza Rice.
Imediatamente depois de sua tomada de posse na presidência, Nicolas Sarkozy e Condoleezza Rice agradecerão a Strauss-Kahn fazendo possível sua eleição para a direção do Fundo Monetário Internacional.
PRIMEIROS DIAS NO PALÁCIO DO ELISEU
Na noite do segundo turno da eleição presidencial, quando os institutos de pesquisa anunciam a sua provável vitória, Nicolas Sarkozy pronuncia um breve discurso à nação do seu QG de campanha. Depois, ao contrário de todos os costumes, ele não vai à festa com os militantes do seu partido, mas dirige-se ao Fouquet’s. O célebre restaurante dos Campos Elíseos, que outrora era o ponto de encontro da “União corsa”, hoje é propriedade do dono de cassinos Dominique Desseigne. Foi posto à disposição do presidente eleito para receber seus amigos e os principais doadores de recursos da sua campanha. Uma centena de convidados ali se acotovelam, os homens mais ricos da França ombro a ombro com donos de cassinos.
Depois disso, o presidente eleito se brinda com alguns dias de repouso bem merecidos. Um jet Falcon-900 privado o leva para Malta, onde descansa no Paloma, um iate de 65 metros do seu amigo Vicent Bolloré, um milionário formado no Banco Rothschild.
Finalmente, Nicolas Sarkozy toma posse como presidente da República Francesa. O primeiro decreto que assina não é para proclamar uma anistia, mas para autorizar os cassinos dos seus amigos Desseigne e Partouche a multiplicar as máquinas de caça-níqueis.
Sarkozy forma sua equipe de trabalho e seu governo. Não é surpreendente encontrar ali um suspeito proprietário de cassinos (o ministro da Juventude e Desporto) e o lobista dos cassinos do amigo Desseigne (que se torna porta-voz do partido “gaullista”).
Nicolas Sarkozy apóia-se principalmente em quatro homens:
- Claude Guéant, secretário-geral da Presidência da República. É sócio-gerente do Banco Rothschild.
- David Lévitte, conselheiro diplomático. Filho do antigo diretor da Agência Judia. Foi embaixador da França na ONU, até que foi afastado das suas funções por Chirac, que o julgava demasiado próximo de George Bush.
- Alain Bauer, o homem das sombras. Seu nome não aparece nos anuários. É o encarregado dos serviços de inteligência. Neto do Grande Rabi de Lyon, antigo Grão-Mestre do Grande Oriente da França (a principal loja maçônica francesa) e antigo nº. 2 da National Security Agency estadunidense na Europa.
- Frank Wisner Jr., que então fora nomeado enviado especial do presidente Bush para a independência de Kosovo, insiste em que Bernard Kouchner seja nomeado ministro de Relações Exteriores com uma dupla missão: a independência de Kosovo e a liquidação da política da França para o mundo árabe.
Kouchner, um judeu de origem báltica, começou sua carreira participando na criação de uma ONG humanitária. Graças aos financiamentos da National Endowment for Democracy, ele participou nas operações de Zbigniew Brzezinski no Afeganistão, ao lado de Osama Bin Laden e dos irmãos Karzai contra os soviéticos. Nos anos 90 podia ser encontrado junto a Alija Izetbegoviç na Bosnia-Herzégovina. De 1999 a 2001 foi Alto Representante da ONU em Kosovo.
Sob o controle do irmão mais novo do presidente Hamid Karzaï, o Afeganistão tornou-se o primeiro produtor mundial de papoula. O seu sumo é transformado ali em heroína e transportado pela US Air Force para Campo Bondsteel (Kosovo). Lá, a droga passa para os homens de Haçim Thaçi que se encarregam da distribuição, principalmente para a Europa e eventualmente para os Estados Unidos. Os lucros são utilizados para financiar as operações ilegais da CIA.
Karzai e Thaçi são amigos pessoais de longa data de Bernard Kouchner, que certamente ignora suas atividades criminosas apesar dos relatórios internacionais que lhes foram consagrados.
Para completar seu governo, Nicolas Sarkozy nomeia Christine Lagarde como ministra de Economia e Finanças. Ela fez toda a sua carreira nos Estados Unidos, onde dirigiu o prestigioso gabinete de juristas Baker & McKenzie. No seio do Center for International & Strategic Studies de Dick Cheney, ela co-presidiu com Zbigniew Brzezinski um grupo de trabalho que supervisionou as privatizações na Polônia. Ela organizou um lobby intenso por conta da Lockheed Martin contra o construtor de aviões francês Dassault.
Nova escapada durante o Verão. Nicolas, Cecília e a babá de seus filhos vão de férias aos Estados Unidos, em Wolfenboroo, perto da propriedade do presidente Bush. A conta, desta vez, é paga por Robert F. Agostinelli, um banqueiro de negócios de Nova Iorque, sionista e neo-conservador de pura cepa que expressa seus pontos de vista em Commentary, a revista do American Jewish Committee.
O sucesso de Nicolas beneficia o seu meio-irmão, Pierre-Olivier. Sob o nome americanizado de “Oliver”, é nomeado por Frank Carlucci (que foi o nº. 2 da CIA depois de ter sido recrutado por Frank Wisner Sr.), diretor de um novo fundo de investimento do Grupo Carlyle (a sociedade comum de gestão de carteiras de ações dos Bush e dos Bin Laden). Transformado no quinto negociante à nível mundial, ele administra atualmente as principais contas dos fundos soberanos do Kuwait e de Cingapura.
A taxa de popularidade do presidente Sarkozy está em queda livre nas pesquisas. Um dos seus conselheiros em comunicação, Jacques Séguéla (que também é assessor em comunicação política da NED para diferentes operações da CIA na Europa Oriental), aconselha desviar a atenção do público com novas “people stories”.
O anúncio do divórcio de Cecília foi publicado pelo Libération, o jornal do seu amigo Edouard de Rothschild, para cobrir os slogans dos manifestantes num dia de greve geral.
Pior ainda, o assessor organizou um encontro com a artista e ex-modelo Carla Bruni. Alguns dias mais tarde, sua ligação com o presidente é oficializada e a campanha de mídia encobre novamente as críticas políticas. Algumas semanas mais tarde se produz o terceiro casamento de Nicolas. Desta vez, ele escolhe como padrinhos Mathilde Agostinelli (a esposa de Robert) e Nicolas Bazire, antigo chefe de gabinete de Edouard Balladur, que se tornou sócio-gerente do Banco Rothschild.
Quando os franceses abrirão os olhos para ver o que têm que fazer?
* Analista político, fundador da Réseau Voltaire. Último livro publicado, L´Effroyable imposture 2 (a remodelação do Oriente Próximo e a guerra israelense contra o Líbano).

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