sábado, 4 de julho de 2009

Plano Real devastou emprego, produção e patrimônio nacional



PIB desabou, 88 estatais foram privatizadas, tarifas explodiram e dívida publica multiplicou

Não é novidade, para ninguém neste país, que Fernando Henrique Cardoso é desprovido de algumas prerrogativas humanas – caráter e escrúpulos, por exemplo. Portanto, que ele venha, depois de tudo o que aconteceu nos últimos 15 anos, entoar loas ao “plano real”, não é coisa que espante qualquer cidadão brasileiro.

No entanto, o pequeno coro que se ouviu nos últimos dias tem um motivo mais atual do que os gargurejos de um cadáver político: a campanha de Serra a presidente. É só isso que explica o aparecimento de elementos proferindo ridículas litanias sobre um plano que devastou o país de tal forma que ainda estamos tentando, no momento, consertar os estragos.

Se é assim, que façam campanha com isso. Será mais fácil vencê-los – basta citar o que foi, na realidade, esse “plano”, rigorosamente, o período mais negro da história do país. Aliás, é honroso para o PT, e outras forças, que se tenham oposto à essa infâmia desde o início. Que o senador Cristovam Buarque venha conspurcar o túmulo do fundador de seu partido, Leonel Brizola, com suas lisonjas a Fernando Henrique e caterva, apenas significa que ele, no mínimo, não percebeu ainda onde está.



DEPENDÊNCIA



O “plano real”, fundamentalmente, pendurou a economia do país na economia norte-americana. Arrombou as portas do país para a especulação e para os encalhes de mercadorias estrangeiras. Desempregou alguns milhões de trabalhadores. Multiplicou a dívida pública de forma colossal. E, não menos desastroso, torrou o patrimônio nacional – público e privado – fazendo da economia um território ocupado por parasitários monopólios estrangeiros, além de cevar, às custas do Estado e do Tesouro, alguns candidatos internos a monopólio. Nesse sentido, foi também o império da vagabundagem econômica.

Há quem ache que, apesar disso, o “plano” salvou o país da inflação. Porém, a inflação crescia e estava mesmo fora do controle quando Lula assumiu a Presidência. Claro está, destruir o país para controlar a inflação é a mesma coisa que acabar com a gripe suína assassinando os atingidos pela moléstia – e não estamos falando dos porquinhos do governador Serra. Mas nem isso o “plano real” conseguiu, ainda que por algum tempo os índices que expressam a inflação tenham diminuído, basicamente em função do subsídio cambial às mercadorias importadas e da destruição de forças produtivas – com a quebra do parque industrial pelas importações e pelos juros.

Com tudo isso, ou, mais exatamente, por causa disso tudo, pela primeira vez durante um governo o país foi parar três vezes na UTI neoliberal, denominada FMI. Certamente, ir três vezes ao FMI no mesmo governo deve ser a prova de que o “plano real” foi um tremendo sucesso...

Alguns indivíduos, afobados em seus intentos eleitorais, falaram em “estabilidade”. Explodir a economia, levá-la três vezes ao FMI, aumentar estupidamente sua vulnerabilidade externa – é isso o que eles chamam de “estabilidade”. Houve até um idiota que se referiu à “austeridade” - aquela que transformou uma dívida pública de R$ 61,3 bilhões numa dívida pública de R$ 623,2 bilhões; que, apenas nos primeiros seis anos e meio de governo, fez a dívida externa crescer de US$ 128 bilhões para US$ 280 bilhões. Austeridade para essa gente é matar o povo de fome, ao mesmo tempo em que se engordam banqueiros daqui e lá de fora.



PRIVATIZAÇÃO



Repare-se que tal multiplicação da dívida se deu apesar da venda de 88 estatais – inclusive a Vale do Rio Doce, todas as empresas telefônicas e boa parte das distribuidores de eletricidade, estas, em geral, estaduais, mas cuja privatização foi imposta pelo governo federal – sem que o país auferisse nenhuma vantagem, seja em investimentos sociais, seja quanto ao abatimento da dívida, seja em eficiência produtiva ou de serviços. Somente o que aumentou, e de forma cavalar, foram a corrupção - com as propinas para os ricardo-sérgios, as negociatas do hoje condenado Daniel Dantas, as malas-pretas do sr. Sérgio Motta - e as remessas de lucros para o exterior das companhias privatizadas e daquelas empresas privadas que foram vendidas ao capital externo - somente entre 1995 e 2000, foram desnacionalizadas 1.100 empresas privadas.

Em 1996 o crescimento do PIB, que havia sido recuperado pelo governo Itamar, caiu pela metade (2,66%), e, apesar de um pequeno aumento em 1997 (3,27%), desceu violentamente outra vez em 1998 (0,13%) e 1999 (0,79%). O aumento de 4,36% em 2000 refletiu mais o fundo do poço a que se chegara nos anos anteriores do que qualquer recuperação – e, mesmo assim, em 2001 o crescimento caiu mais uma vez verticalmente (1,31%), o que se repetiu em 2002 (1,93%). Assim, tivemos, durante oito anos, uma medíocre taxa média de crescimento anual de 2,3% - abaixo da média da década anterior, chamada “década perdida” em função da mediocridade dos seus 2,9% de crescimento anual.

Mas isso ainda esconde o desastre, ao não levar em conta o crescimento da população no período. Se considerarmos o PIB per capita, veremos que seu crescimento foi de 2,62% em 1995; 1,10% em 1996; 1,72% em 1997; negativo em 1998 (-1,36%), 1999 (-0,71%), 2001 (-0,17%) e praticamente zero (0,44%) em 2002; somente em 2000 (2,82%) ele esteve no mesmo nível de cinco anos antes. Todos esses dados foram extraídos do Sistema de Contas Nacionais do IBGE.



DESEMPREGO



Enquanto isso, a taxa de desemprego, cerca de 12% na Região Metropolitana de São Paulo ao final do governo Itamar, passou para cerca de 19% ao final do governo Fernando Henrique. O salário médio real caiu 15% somente nos últimos cinco anos do governo Fernando Henrique. O rendimento médio real dos trabalhadores ocupados na região metropolitana de São Paulo caiu 28,38% de 1995 a 2002.

Graças às maravilhas da privatização, a energia subiu 72,4% acima da inflação – ao mesmo tempo que o apagão cobria o país, pela falta de investimentos na área. Quanto às tarifas de telefone, subiram 328% acima da inflação – para que a Telefónica e outros abutres arrancassem o couro da população.

E ainda não falamos da destruição dos serviços públicos, dos funcionários que ficaram sete anos sem qualquer reajuste apesar da inflação de 64% no mesmo período, nem dos juros, elevados a 43% de um dia para o outro. E nem do ensino superior, que os tubarões foram estimulados a transformar num negócio para escalpelar os alunos e suas famílias...

Bem, isso aqui é apenas um breve, muito breve, e muito incompleto resumo. Se a plataforma de Serra for defender a obra de Fernando Henrique, a eleição de 2010 será um passeio. E, se não for, será interessante perguntar o que ele acha do “plano real” - afinal, ele foi o principal ministro daquele operoso governo
C.L

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