domingo, 26 de julho de 2009

REFLEXÕES DE FIDEL





O 30º aniversário sandinista e aproposta de San José
O golpe de Estado de Honduras, promovido pela extrema-direita dos Estados Unidos ― que mantinha na América Central a estrutura criada por Bush ― e apoiado pelo Departamento de Estado, não estava dando certo pela enérgica resistência do povo.
A criminosa aventura, condenada unanimemente pela opinião mundial e pelos organismos internacionais, não se podia sustentar.
A lembrança das atrocidades cometidas em décadas recentes pelas tiranias promovidas, instruídas e criadas em nosso hemisfério pelos Estados Unidos, estava ainda fresca.
Os esforços do império foram encaminhados durante a administração de Clinton e nos anos seguintes para impor a Alca em todos os países da América Latina, através das chamadas Cúpulas das Américas.
A tentativa de comprometer o hemisfério com um acordo de livre comércio fracassou. As economias de outras regiões do mundo cresceram a bom ritmo e o dólar perdia sua hegemonia exclusiva como divisa privilegiada. A brutal crise financeira mundial complicou a situação. Em meio a essas circunstâncias, teve lugar o golpe militar em Honduras, um dos países mais pobres do hemisfério.
Após duas semanas de crescente luta popular, os Estados Unidos manobraram para ganhar tempo. O Departamento de Estado indicou o presidente da Costa Rica, Oscar Arias, para auxiliar o golpe militar em Honduras, assediado pela vigorosa, porém pacífica pressão popular. Nunca um fato similar na América Latina tinha recebido tal resposta.
Nos cálculos do governo dos Estados Unidos pesava o fato de que Arias tinha o título de Prêmio Nobel da Paz.
A história real de Oscar Arias indica que se trata de um político neoliberal, talentoso e eloquente, sumamente calculador e aliado fiel dos Estados Unidos.
Desde os primeiros anos do triunfo da Revolução Cubana, o governo dos Estados Unidos utilizou a Costa Rica e lhe enviou recursos para apresentá-la como uma vitrina dos avanços sociais que se podiam atingir no capitalismo.
Esse país centro-americano foi usado pelo imperialismo como base para os ataques piratas contra Cuba. Milhares de técnicos e universitários cubanos foram afastados de nosso povo, que já estava submetido a cruel bloqueio, para prestarem serviços na Costa Rica. As relações entre a Costa Rica e Cuba se reataram há pouco; foi um dos dois últimos países do hemisfério a fazê-lo, o qual nos satisfaz, mas por isso não devo deixar de expressar o que penso neste momento histórico da nossa América.
Arias, procedente do setor rico e dominante da Costa Rica, estudou direito e economia num centro universitário de seu país, estudou e se formou depois como mestre em ciências políticas na Universidade inglesa de Essex, onde finalmente recebeu o diploma de doutor em ciências políticas. Com tais láureas acadêmicas, o presidente José Figueres Ferrer, do Partido Libertação Nacional, nomeou-o assesor em 1970, aos 30 anos, e pouco depois ministro de Planejamento, cargo em que foi ratificado pelo presidente que o sucedeu, Daniel Oduber. Em 1978, ingressou no Congresso como deputado desse Partido. Em 1979, foi promovido a secretário-geral, e presidente pela primeira vez em 1986.
Anos antes do triunfo da Revolução Cubana, um movimento armado da burguesia nacional da Costa Rica, sob a direção de José Figueres Ferrer, pai do presidente Figueres Olsen, tinha eliminado o pequeno exército golpista desse país e sua luta contou com a simpatia dos cubanos. Quando combatíamos na Serra Maestra contra a tirania de Batista, recebemos do Partido de Libertação, criado por Figueres Ferrer, algumas armas e munições, mas era muito amigo dos ianques e logo rompeu conosco. Não devemos esquecer a reunião da OEA em San José, Costa Rica, que deu lugar à Primeira Declaração da Havana em 1960.
Toda a América Central sofreu durante mais de 150 anos e ainda sofre desde os tempos do mercenário William Walker, que se declarou presidente da Nicarágua em 1856, por causa do intervencionismo dos Estados Unidos, que foi constante, apesar de que o povo heróico da Nicarágua conseguiu a independência, que está disposto a defender até o último alento. Não se conhece apoio algum da Costa Rica, depois que a atingiu, embora houvesse um governo desse país, ao qual, na véspera da vitória de 1979, coube a glória de ser solidário com a Frente Sandinista de Libertação Nacional.
Quando a guerra suja de Reagan dessangrava a Nicarágua, a Guatemala e El Salvador também tinham pagado um alto preço de vidas devido à política intervencionista dos Estados Unidos, que forneciam dinheiro, armas, escolas e doutrinação às tropas repressivas. Daniel nos contou que os ianques finalmente promoveram fórmulas que puseram fim à resistência revolucionária da Guatemala e de El Salvador.
Mais de uma vez, Daniel me comentou amargurado que Arias, executando ordens dos Estados Unidos, tinha excluído a Nicarágua das negociações de paz. Ele reuniu-se apenas com os governos de El Salvador, Honduras e Guatemala para impor acordos à Nicarágua. Por isso, expressava enorme gratidão por Vinicio Cerezo. Contou-me igualmente que o primeiro acordo foi assinado num convento de Esquipulas, Guatemala, em 7 de agosto de 1987, depois de dois dias de intensas conversações entre os cinco presidentes centro-americanos. Nunca falei publicamente sobre isso.
Mas, desta vez, ao comemorar-se o 30º aniversário da vitória sandinista em 19 de julho de 1979, Daniel explicou tudo com impressionante clareza, como fez com todos os temas ao longo de seu discurso, que foi escutado por centenas de milhares de pessoas e transmitido pela rádio e televisão. Utilizo suas palavras textuais: "Os ianques o designaram mediador. Sentimos uma profunda simpatia pelo povo da Costa Rica, mas eu não posso esquecer que, naqueles anos duros, o presidente da Costa Rica convocou os presidentes centro-americanos e não nos convidou"...
"Mas os outros presidentes centro-americanos foram mais sensatos e lhe disseram: Aqui não haverá plano de paz, se a Nicarágua não estiver presente. Pela verdade histórica, o presidente que teve o valor de romper o isolamento imposto pelos ianques na América Central ― onde os presidentes foram proibidos de conversarem com o presidente da Nicarágua e queriam uma solução militar, queriam acabar, através da guerra com a Nicarágua, com sua revolução — que deu esse passo valente, foi o presidente da Guatemala, Vinicio Cerezo. Essa é a história verdadeira".
A seguir, acrescentou: "Os ianques foram procurar o presidente Oscar Arias, porque já o conhecem!, para buscar como ganhar tempo, para que os golpistas começassem a fazer exigências que são inaceitáveis. Quando um golpista negociou com a pessoa a quem está arrebatando seus direitos constitucionais? Esses direitos não podem ser negociados, simplesmente, têm que restituir o presidente Manuel Zelaya, tal como disseram os acordos da ALBA, do Grupo do Rio, do SICA, da OEA e das Nações Unidas.
"Em nossos países, queremos soluções pacíficas. A batalha que o povo de Honduras está travando neste momento é uma batalha pacífica, para evitar mais dor da que já houve em Honduras", concluiu textualmente Daniel.
Em virtude da guerra suja ordenada por Reagan e que em parte ―ele me disse― foi custeada com drogas enviadas aos Estados Unidos, perderam a vida mais de 60 mil pessoas e sofreram invalidez outras 5.800. A guerra suja de Reagan deu lugar à destruição e ao abandono de 300 escolas e 25 centros de saúde; 150 professores foram assassinados. O custo beirou dezenas de bilhões de dólares. A Nicarágua dispunha apenas de 3,5 milhões de habitantes, deixou de receber combustível que a URSS lhe enviava e a economia se tornou insustentável. Convocou as eleições e, inclusive, antecipou-as, e respeitou o decidido pelo povo, que tinha perdido a esperança de preservar as conquistas da Revolução. Quase 17 anos depois, os sandinistas retornaram vitoriosos ao governo; há apenas dois dias comemoraram o 30º aniversário da primeira vitória.
No sábado, 18 de julho, o Prêmio Nobel propôs os conhecidos sete pontos da iniciativa pessoal de paz, que tirava autoridade às decisões da ONU e da OEA, e equivaliam a uma ata de rendição de Manuel Zelaya, restavam simpatia e diminuindo o apoio popular. O presidente constitucional enviou o que qualificou de ultimato aos golpistas, que os seus representantes deviam apresentar anunciando, por sua vez, o retorno de Zelaya a Honduras, por qualquer departamento desse país, no domingo, 19 de julho.
No meio-dia desse domingo, teve lugar em Manágua o gigantesco ato sandinista com históricas denúncias à política dos Estados Unidos. Eram verdades realmente transcendentes.
O pior é que os Estados Unidos depararam com a resistência do governo golpista a sua manobra edulcorante. Faltaria precisar o momento em que o Departamento de Estado enviou, por sua parte, uma forte mensagem a Micheletti, e se os chefes militares foram advertidos das posições do governo dos Estados Unidos.
A verdade é que para quem acompanha de perto os fatos, Micheletti se tinha insubordinado contra a paz, na segunda-feira. Seu representante em San José, Carlos López Contreras, havia declarado que a proposta de Arias não podia ser discutida, pois o primeiro ponto, isto é, a restituição de Zelaya, não era negociável. O governo civil golpista tinha tomado a sério seu papel e nem sequer percebia que Zelaya, privado de toda autoridade, não constituia risco algum para a oligarquia e politicamente sofreria um duro golpe, se aceitasse a proposta do presidente da Costa Rica.
No domingo, 19, quando Arias pediu mais 72 horas para explicar sua posição, a senhora Clinton falou telefonicamente com Micheletti e teve o que o porta-voz Philip Crowley qualificou de uma "ligação dura". Um dia saberemos o que lhe disse, mas bastaria ver o rosto de Micheletti, quando falou numa reunião de seu governo na segunda-feira, 20 de julho: parecia realmente o rosto de uma criança do jardim-de-infância repreendido pela mestra. Através da Telesul, assisti as imagens e os discursos da reunião. Outras imagens transmitidas foram as dos representantes da OEA pronunciando seus discursos nessa instituição, comprometendo-se a esperar a última palavra do Prêmio Nobel da Paz na quarta-feira. Sabiam ou não o que Clinton disse a Micheletti? Talvez sim, ou talvez, não. Talvez alguns, mas nem todos, sabiam disso. Homens, instituições e conceitos tornaram-se instrumentos da alta e arrogante política de Washington. Um discurso na OEA nunca brilhou com tanta dignidade como as breves, porém corajosas e inteligentes palavras de Roy Chaderton, embaixador da Venezuela, nessa reunião.
Amanhã, aparecerá a pétrea imagem de Oscar Arias explicando que elaboraram tal e tal proposta de solução para evitar violência. Penso que até o própio Arias caiu na grande armadilha montada pelo Departamento de Estado. Veremos que vai fazer amanhã.
Contudo, o povo de Honduras é quem dirá a última palavra. Nenhum representante das organizações sociais e das novas forças é instrumento de ninguém dentro ou fora do país, eles sabem das necessidades e sofrimentos do povo; suas consciências e sua inteireza se multiplicaram; muitos cidadãos que eram indolentes aderiram; os próprios afiliados honestos dos partidos tradicionais que acreditam na liberdade, na justiça e na dignidade humana julgarão os líderes, a partir da posição que adotaram neste momento histórico.
Ainda se ignora qual a atitude dos militares diante dos ultimatos ianques, e quais mensagens chegam aos oficiais; apenas há um ponto de referência patriótica e honorável: a lealdade ao povo, que suportou com heroísmo as bombas lacrimogêneas, os golpes e os disparos.
Sem que ninguém possa asegurar qual será o último capricho do império, se, a partir das últimas decisões adotadas, Zelaya retorna legal ou ilegalmente, sem dúvida os hondurenhos lhe darão umas calorosas boas-vindas, porque será uma medida da vitória que já atingiram com suas lutas.
Ninguém duvide de que apenas o povo hondurenho será capaz de construir sua própria história!

RAÚL NO ATO DE 26 DE JULHO EM HOLGUÍN


RAÚL CASTRO NO ATO DE 26 DE JULHO

EM HOLGUÍNEvidenciou-se a capacidade de resistência, organização e solidariedade de nosso povo
HOLGUÍN — O presidente dos Conselhos de Estado e de Ministros de Cuba, general-de-exército Raúl Castro, salientou a atitude dos cubanos após a passagem de furacões devastadores em 2008 e afirmou que foram, na verdade, meses difíceis e de trabalho árduo.
Raúl acrescentou que em toda a nação se evidenciou a capacidade de resistência, organização e solidariedade do povo cubano.
“Há cada vez mais exemplos de como se deve trabalhar nestes tempos, e essa foi a atitude assumida pelos habitantes de Holguín depois da passagem do furacão Ike, e o mesmo aconteceu em toda parte, muitos companheiros foram mobilizados durante dias, longe de suas famílias, apesar de que as deles tinham sido também danificadas”, asseverou.
“Confiaram na Revolução e cumpriram as tarefas encomendadas”, enfatizou.
Raúl destacou a solidariedade demonstrada no enfrentamento aos ciclones e assinalou que isso diz muito a respeito de nosso povo, que acolheu em seus lares vizinhos, cujas casas não eram seguras diante deste tipo de fenômeno.
“É nesses valores que o povo cubano é educado, na solidariedade genuína, pois compartilha o que tem com seus irmãos, quer seja cubano, quer de outras terras, não dá o que tem demais e aqui, geralmente, nada sobra”, ressaltou.
Da mesma maneira, o povo cubano agradece a ajuda, os gestos de solidariedade e apoio recebido de diversos cantos do planeta, e reconheceu especialmente o trabalho da fundação interreligiosa Pastores pela Paz, seu líder, o reverendo Lucius Walker, os membros da 20ª Caravana da Amizade EUA-Cuba, e a brigada Venceremos, que já completou 40 anos.
“Os prejuízos dos furacões à habitação é um assunto muito sério”, apontou Raúl, e disse que apenas em Holguín foram devastadas ao redor de 125 mil, das quais foi já recuperada aproximadamente a metade.
“Em nível nacional, se acrescentarmos às moradias danificadas por estes ciclones as que foram destruídas por furacões anteriores, é no total mais de 600 mil em 2008. Por isso, adverti que se precisava de tempo para resolver esta situação”, manifestou.
“É bom salientar que até 20 de julho tinha sido resolvido 43% das casas danificadas, isto é, mais de 260 mil moradias, destacou, e disse que, apesar disso, falta muita coisa por fazer”.
É necessário evitar no futuro que se acumulem essas grandes cifras, levando em conta que os cientistas prognosticam que os furacões, por causa da mudança climática, poderiam ter maior intensidade e ser mais freqüentes.
“Além disso, o país trabalha para estar em condições de prevenir e encarar os efeitos dos recorrentes períodos de estiagem, mediante diversas medidas, entre as quais, o transvase da água de uma província para outra”, disse Raúl.
Sublinhou que Holguín tem uma grande responsabilidade, por ser uma província extensa com mais de um milhão de habitantes e com grande incidência na economia, e ratificou que a escolha desse território como sede é um prêmio ao esforço e ao trabalho realizado.
“Cumprimentamos os habitantes desta província, Miguel Canel Bermúdez, primeiro secretário do PCC na província nesse momento difícil e nos anos anteriores, que foram também de trabalho intenso, e Jorge Cuevas Ramos, o atual primeiro secretário de Holguín”, assinalou.
Felicitou também as províncias destacadas “sem deixar de reconhecer o esforço realizado por todas”, os compatriotas de Pinar del Río e da Ilha da Juventude, que se defrontaram com sérios prejuízos, assim como Camagüey e Las Tunas, particularmente os habitantes de Santa Cruz del Sur e de Guayabal, com sérios estragos e nalguns casos, com destruições quase totais.
Em sua intervenção, o segundo secretário do PCC abordou temas econômicos, as obras hidráulicas que se executam e ressaltou a necessidade de tornar a terra produtiva.
“Eis a terra e os cubanos, veremos se produzimos ou não, não temos alternativa que fazê-la produzir, assinalou referindo-se ao tema abordado há dois anos em Camagüey nesta mesma data.”
“Não podemos ficar tranqüilos se houver um só hectare sem utilizar, sem cultivar”, e enfatizou que a terra que não presta para produzir alimentos, se devem plantar árvores nela.
Raúl anunciou importantes reuniões nos próximos dias, entre as quais, uma do Conselho de Ministros para examinar o segundo corte orçamentário diante da crise financeira internacional, uma reunião plenária do Comitê Central do Partido e as sessões do Parlamento, que debaterá, entre outras questões, o projeto de lei da Controladoria Geral da República. (AIN)

sábado, 11 de julho de 2009

Arnaldo Carrilho chega à Coréia Popular para abrir a embaixada do Brasil

Arnaldo Carrilho chega à Coréia Popular para abrir a embaixada do Brasil

A Embaixada do Brasil na Republica Popular Democrática da Coreia iniciou as suas operações na última sexta-feira dia 03, informou o Ministério das Relações Exteriores brasileiro.

O diplomata Arnaldo Carrilho chegou em Pyongyang na última sexta-feira para assumir o posto de primeiro embaixador brasileiro no país.

No ano de 2002, foi concedida autorização para que a RPDC instalasse sua representação no Brasil, o que ocorreu em 2005, com a abertura da embaixada coreana.

Os dois países tiveram em 2008 um volume de comércio de 380 milhões de dólares e o futuro embaixador tem entre suas missões ampliar esse volume comercial. “O Brasil já é o quarto parceiro comercial do país asiático. Os primeiros são China, Rússia e Coréia do Sul. Estou indo para incentivar o comércio, principalmente o de alimentos e commodities”, afirmou Carrilho, em sabatina com o Senado brasileiro no início do ano.

A Conferência Nacional de Comunicação e o fortalecimento das mídias públicas


A Confecom carrega consigo, principalmente, um caráter estratégico, pois nela estarão em jogo os interesses do povo brasileiro, sua necessidade de construir um sistema de comunicação nacional, sustentáculo da soberania do país frente às investidas externas e capaz de dotar os brasileiros de uma informação veraz, humanizadora e civilizatória. Metas que o mercado cartelizado revelou-se incapaz de promover
BETO ALMEIDA*
Há uma linha de sintonia e coerência na convocação da Confecom feita pelo presidente Lula com as lutas históricas dos trabalhadores, dos sindicatos, dos movimentos sociais, do PT e da esquerda, e do movimento de democratização da comunicação. Lula dá continuidade a toda sua trajetória de luta em que foi alvo preferencial da oligarquia da mídia e desdobra, em ações concretas, o que ficou estabelecido no Seminário Nacional de Comunicação e Cultura do PT, realizado em meio à Campanha de 2002, quando o documento aprovado “A imaginação a serviço do Brasil” definiu claramente o fortalecimento da comunicação pública como linha de trabalho para o governo que viria ser eleito naquele mesmo ano.
Neste documento já estavam presentes as linhas de atuação na comunicação que hoje sustentam a convocação, pelo Presidente, da primeira conferência da área de comunicação que se realiza na história do Brasil. Aquele documento também definia a constituição de uma TV Pública baseada na união, centralização, qualificação e expansão dos instrumentos comunicativos que o estado brasileiro já possuía, tais como a Radiobrás, a TVE do Rio, a Rádio Nacional, a Rádio Mec, o canal NBR, a Agência Brasil. Hoje, todos estes instrumentos estão unificados na EBC – Empresa Brasil de Comunicação, cumprindo o programa de campanha Lula-Presidente de 2002.
Certamente, a expectativa dos movimentos que formam a luta pela democratização da comunicação era muito mais ampla, desproporcional à sua escassa capacidade de mobilização social hoje pela agenda da democracia na comunicação. Porém, mesmo um governo de composição como o do presidente Lula, sem maioria parlamentar, com uma base de apoio heterogênea, e sem ter nos partidos de esquerda e nos sindicatos um sólido apoio político que fizesse com que a questão da comunicação se tornasse prioridade em sua agenda nacional, avança com passos mais lentos do que o esperado, mas avança. E coloca a comunicação na agenda do Estado e da sociedade...
E talvez seja aí um ponto importante para definir política, programa e tática a serem aplicadas na Confecom de tal modo que ela resulte, senão numa ampla revolução comunicacional - improvável, já que os setores hegemônicos desta sociedade capitalista não foram plenamente desalojados de suas posições de poder - mas que seja concretamente um espaço onde os movimentos organizados da sociedade, em aliança com o governo Lula, conquistem o fortalecimento das políticas públicas de comunicação, a consolidação das estruturas de comunicação do campo público e estatal, a qualificação e democratização dos conteúdos veiculados, o apoio para uma informação conteúdo cultural que reverta o esmagamento informativo-cultural brasileiro a que o país está submetido. Porém, é exatamente nas avaliações sobre uma política clara de alianças entre os setores sociais organizados e o governo Lula representado na Confecom, estimulando a mais ampla participação popular, onde estarão concentradas as maiores possibilidades de avanço, ou, caso esta aliança política não ocorra, as principais limitações capazes de explicar eventuais frustrações.
Trata-se, a Confecom, de uma oportunidade histórica que representa por si só que o governo Lula retira o tema da penumbra - tema considerado tabu e de discussão restrita aos oligarcas e aos oligopólios da mídia - lançando-o ao debate aberto da sociedade. Só isto já tem importância política histórica. Basta analisar a importância de outras conferências nacionais temáticas como as de Saúde, a de Saúde Mental, a de Segurança Alimentar, que serviram de estruturação de políticas públicas que hoje reduzem significativamente os graus de barbárie a que a sociedade brasileira ainda está submetida tragicamente. Seria ainda mais terrível socialmente sem estas políticas públicas como a Lei Antimanicomial, o SUS, as políticas de combate a fome, o programa de aquisição de alimentos etc., tudo isto nascido das conferências nacionais.
Comparemos: mesmo os outros governos populares da América Latina, alguns mais à esquerda, que também estão adotando medidas de fortalecimento e expansão dos instrumentos públicos e estatais de comunicação não tinham chegado ao ponto de fazer uma convocação democrática da sociedade para o debate da comunicação e este aspecto deve ser valorizado porque é indicador das possibilidades de uma política e uma tática dos movimentos sociais com o setor público para avançar em medidas concretas de democratização da comunicação. Vale alertar que sem esta aliança, os movimentos sociais terão escassa possibilidade de verem algumas de suas propostas alcançadas. Primeiro porque não dispõem de força social organizada, tão é assim que a Fenaj acaba de sofrer retumbante derrota com decisão oligárquica do Supremo ao terminar com a obrigatoriedade do diploma de jornalismo para o exercício da profissão, sem qualquer chance de sensibilizar a sociedade para uma reversão a curto prazo desta medida desreguladora.
PROJETOS EM JOGO
Na Confecom, dois projetos de comunicação, na verdade projetos políticos, estarão frontalmente em jogo: de um lado a ideia de desregulamentar o setor da comunicação, auspiciada pelos oligopólios midiáticos internacionais porque querem, a partir da convergência tecnológica telecomunicação-radiodifusão, impor maiores níveis de desnacionalização na área informativo-cultural. Querem assim dar continuidade e aprofundar a linha de ocupação do audiovisual brasileiro expressa, por exemplo, na Lei do Cabo, que resultou no predomínio avassalador dos canais estrangeiros, basicamente norte-americanos, com enorme prejuízo para produção audiovisual nacional e a formação da necessária noção de nacionalidade e soberania do povo brasileiro.
De outro lado, a reação soberana que vários governos vêm implementando na América Latina, a partir da criação de emissoras de tv e rádio públicas e estatais, a partir também de jornais estatais - como o jornal Cambio, na Bolívia, e o jornal Correo do Orenoco, na Venezuela - que fazem a disputa com o jornalismo da desintegração promovido pelos veículos ligados à sinistra SIP (Sociedade Interamericana de Imprensa), historicamente vinculada às criminosas ações da CIA contra os povos latino-americanos. Entre estes exemplos positivos estão a Telesur (que agora tem oferecido exemplar cobertura de jornalismo anti-hegemônico no golpe militar de Honduras), o Canal Encuentro, da Argentina, em sinal aberto e disputando frontalmente com a programação de baixaria dos canais privados, a partir da exibição de programas humanísticos, de um jornalismo cidadão que questiona a programação consumista e degradante da tv-comércio. Também podemos citar as boas experiências da Venezuela, que vai alterando sua legislação de comunicação, estimulando a recuperação da produção audiovisual nacional em detrimento da invasão dos lixos de Miami, e que também já debate maneiras de considerar o espaço radio-elétrico como propriedade do povo venezuelano, o que significa que mesmo os empresários privados devem pagar pelo seu uso. Além disso, o governo bolivariano está considerando a possibilidade de instalar um sistema público para o controle dos anúncios privados, já que por meio da veiculação destes, verdadeiras fortunas são acumuladas sem que os verdadeiros donos do espaço radio-elétrico, o povo da Venezuela, seja beneficiado pelo transporte destes sinais sem qualquer tipo de cobrança que resulte em benefício da Nação venezuelana. Todas estas são experiências de controle público que não dispensam o fortalecimento do protagonismo do estado, ao contrário, estão diretamente ligadas a este novo protagonismo.
Aqui na Confecom as propostas para o fortalecimento das políticas públicas sofrerão enorme combate da grande mídia comercial subordinada ao poder dos anunciantes que, em sua maioria, os mais poderosos, são as transnacionais ou poder econômico-financeiro a elas submetido. Os oligopólios transnacionais querem, por exemplo, avançar na demolição de todo e qualquer instrumento legislativo que proteja o mercado brasileiro de comunicação das suas investidas expansionistas e colonizadoras, uma operação para ampliar o controle do fluxo mundial da informação e da comunicação, com a finalidade de impor os valores que mais importam para o imperialismo, suas operações de guerra, a criminosa ação de sua indústria bélica, das transnacionais farmacêuticas ou do veneno (é o Brasil o maior consumidor de agrotóxico no mundo), suas linhas ideológicas de desestabilização de todo e qualquer governo que pretenda nacionalizar seus recursos, como ocorre com a Venezuela, Bolívia, Equador, alvos de terrorismo midiático internacional. E o Brasil, com tantas riquezas a preservar, a nacionalizar em favor do progresso do povo brasileiro, como o petróleo do pré-sal, por exemplo, é sempre um alvo prioritário para o imperialismo, suas agências midiáticas expansionistas e de projetos sustentados por agências e fundações vinculadas aos objetivos estratégicos do aparato de estado imperial norte-americano, sempre buscando criar áreas de influência e dependência político-financeira nos segmentos universitários, intelectuais, que repercutam os interesses da política externa dos EUA, radicalmente contrária a uma linha de nacionalização da comunicação e ao fortalecimento das emissoras estatais e públicas.
Por isso a SIP critica Lula por ter criado a TV Brasil e também por ter convocado a Confecom, já que vê nestas medidas o prejuízo para seus sinistros planos dirigidos a ampliar a vulnerabilidade ideológica do Brasil, para o quê precisa de desregulamentação generalizada e estado raquítico, sem instrumentos próprios de comunicação.
PROPOSTAS
É preciso que a TV Brasil, as TVs legislativas, educativas e universitárias sigam o exemplo das tvs comunitárias do Rio e de Brasília que estão promovendo debates com diferentes segmentos sociais, visando construir uma agenda programática a ser sustentada na Confecom. Inclusive para defender que todas escapem do confinamento da lei do cabo e tenham sinal aberto no sistema digital, ampliando a pluralidade e a regionalização informativa nacional. Evidentemente, esta agenda não pode ser tão ampla que nem mesmo um governo de composição heterogênea consiga sustentar, nem pode estar mais além da precária capacidade de mobilização dos movimentos sociais de democratização da comunicação. Mas pode ser uma agenda que contemple a linha de fortalecimento, expansão, qualificação e consolidação dos instrumentos de comunicação públicos e estatais e de recuperação dos espaços públicos midiáticos em curso pela América Latina.
Exemplo disto é manter, consolidar e democratizar a Voz do Brasil, programa de enorme audiência e com enorme importância para uma massa de milhões de brasileiros que praticamente está proibida da leitura de jornais, cujas tiragens são cronicamente raquíticas e registram linha de queda, juntamente com a sua já precária credibilidade.
A Voz do Brasil deve incluir o direito de antena, regulamentando o acesso sistemático dos diferentes segmentos organizados da sociedade em sua grade. Mas, a Voz do Brasil está na linha de tiro. Os comerciantes da comunicação querem tomar o espaço de 1 hora da Voz do Brasil para fazer mais consumismo, mais baixaria, mas também para quebrar o simbolismo do único programa jornalístico de caráter nacional que informa sobre todas as ações dos poderes públicos, quando os veículos comerciais informam apenas aquilo que interessa a seus anunciantes, ou estão apenas preocupados com o seu “vale-tudo” pela audiência. Para milhões de brasileiros espalhados pelos grotões a Voz do Brasil é talvez a única oportunidade de ter a presença em sua região dos poderes públicos, por meio da informação. Que, obviamente, pode ser melhor qualificada, jornalisticamente falando.
É preciso que a Confecom apresente medidas que façam da TV Brasil uma tv de fato nacional, capaz de chegar a todo o território nacional, disputando de fato audiência com a programação embrutecedora das tvs de mercado e de consumismo. Mas para isto é preciso investir em equipamentos mais modernos, melhorar seu sinal, melhorar e ampliar sua programação nacional (uma emissora que sai do ar de madrugada não está fazendo a disputa de audiência), e não deve conformar-se com “decreto” de não fazer teledramaturgia, ou de não pretender dar cobertura ao futebol e às festas populares, especialmente o Carnaval do Rio de Janeiro. É preciso ainda reformular a linha editorial pois a cobertura de muitos fatos nacionais e internacionais ainda está fortemente marcada por um jornalismo convencional.
Exemplo disso é que a linha da editoria internacional da TV Brasil revela coincidências editoriais com o jornalismo de desintegração, em franca falta de sintonia com a política externa do Brasil, que segue uma linha de integração, de promoção de uma nova ordem internacional sem supremacia dos países mais poderosos. Apesar das mudanças na política externa, apesar da simbologia do novo expressa na convocação de uma Confecom, a TV Brasil segue difundindo uma linha editorial predominantemente marcada pelas agências editorialmente dirigidas pelos países centrais do capitalismo, quando é perfeitamente possível e urgente fazer um jornalismo plural, que questione as hegemonias, que tenha novos olhares sobre os problemas mais agudos da cena internacional.
As experiências positivas da criação do Blog da Petrobrás e a da nova política de redistribuição democrática e nacional dos anúncios oficiais, alcançando muitos outros municípios e veículos de comunicação, indicam que algo mais audacioso também pode ser feito pela Empresa Brasil de Comunicação, sobretudo em suas rádios. Não tem sentido as emissoras de rádio da EBC não fazerem um jornalismo mais incisivo e agressivo como fazem as rádios privadas, embora com o claro e exclusivo intuito de promover uma guerra midiática contra o governo Lula, por vezes numa clara prática anti-jornalística. Exemplo notável desta falta de faro jornalístico das Rádios da EBC ocorreu quando do encontro de Lula com Obama, quando a entrevista coletiva foi transmitida ao vivo desde a Casa Branca por rádios privadas brasileiras, ao tempo em que as emissoras da EBC continuavam tocando apenas música, sem transmitir o encontro de inequívoco simbolismo estratégico. Como disputar a audiência com as rádios privadas sem ter este faro jornalístico?
Também é fundamental que na agenda dos movimentos sociais para a Confecom sejam apresentadas propostas para a consolidação das tvs comunitárias e universitárias, para que suas programações também sejam veiculadas em sinal aberto digital, escapando do confinamento atual da lei do Cabo que é um verdadeiro apartheid audiovisual. Para tanto, é importante que se criem mecanismos como um Fundo Público para a Comunicação capaz de garantir a estas emissoras do campo público (incluindo as educativas, comunitárias, universitárias) uma possibilidade real de estruturação, com equipamentos mais modernos, melhoria de seus recursos humanos e qualificação de sua programação, o que tem pleno respaldo no disposto na Constituição Federal, assegurando uma comunicação plural, diversificada, regionalizada, educativa e humanista.
Assim, a experiência da convocação da Confecom pelo governo Lula é de fundamental importância para que a sociedade possa amadurecer em sua leitura crítica da comunicação, desenvolvendo sua capacidade de reivindicar e de participar na construção de outros instrumentos públicos comunicativos, o que só poderá ter sucesso com o fortalecimento do protagonismo do estado nesta área, tal como tem se dado em outras áreas, como na indústria naval, para dar um exemplo.
Como alerta, citemos exemplo negativo do que significa a demolição do estado: a ocupação de 90 por cento do mercado do cinema brasileiro por filmes norte-americanos, uma ocupação que foi preparada claramente com a extinção da Embrafilme. Na época, com a Embrafilme, o cinema brasileiro chegou a ter o controle de 40 por cento do mercado cinematográfico nacional.
O mesmo estaria sendo planejado pelos oligopólios midiáticos estrangeiros, visando demolir as poucas ferramentas de proteção da comunicação nacional, como se evidencia no conteúdo do Projeto de Lei número 29 que desnacionaliza radicalmente o setor.
Por isso mesmo, é fundamental incluir na agenda da Confecom a imperiosa necessidade de recuperar o protagonismo de estado na área das telecomunicações, reintroduzindo a Telebrás como alavanca fundamental no processo da convergência tecnológica, caso contrário esta apenas se dará ao sabor da capacidade dos gigantes conglomerados transnacionais de ocupar, cartelizar e esmagar qualquer possibilidade de uma política pública, de controle público e de um verdadeiro controle nacional para a era da comunicação digital que se inaugura. Sem presença de instrumentos do estado, como a Telebrás, a digitalização será sinônimo de desnacionalização e oligopolização, soterrando todas as expectativas de democratização.
Neste mesmo diapasão deve ser considerada a importância do Brasil recuperar ou reconstruir uma empresa estatal do porte do que foi a Embratel, hoje uma empresa nas mãos do capital estrangeiro, permitindo que informações estratégicas do país encontrem-se sob controle dos EUA e de suas políticas expansionistas. Será também o momento de se medir os verdadeiros crimes de lesa-pátria cometidos durante a era da privataria tucana.
Para fazer frente às investidas dos oligopólios internacionais e para fazer avançar e expandir os instrumentos públicos e estatais de comunicação e informação, é decisiva uma aliança dos movimentos sociais com o governo Lula, aliança que, em alguns pontos, pode até mesmo contar com segmentos do empresariado nacional da comunicação, amedrontados com a devastadora expansão da ditadura midiática mundial de alguns poucos conglomerados gigantes apoiados pelo imperialismo.
Diante disto, a Confecom carrega consigo, principalmente, um caráter estratégico, pois nela estarão em jogo os interesses do povo brasileiro, sua necessidade de construir um sistema de comunicação nacional, sustentáculo da soberania do país frente às investidas externas e capaz de dotar os brasileiros de uma informação veraz, plural, humanizadora e civilizatória. Metas que o mercado cartelizado revelou-se incapaz de promover.
* Presidente da TV Comunitária de Brasília

Pacto secreto permite há 37 anos

Pacto secreto permite há 37 anos armas nucleares dos EUA no Japão
revelado pelo ex-ministro japonês, Ryohei Murata, abre condições para ataques nucleares a partir de qualquer uma das dezenas de bases mantidas pelos Estados Unidos no Japão
O Japão e os Estados Unidos mantém um acordo secreto que permite às forças militares norte-americanas introduzir armas nucleares na nação asiática, afirmou na terça-feira, dia 7, o jornal japonês Yo-miuri Shimbun, o maior do país.Ryohei Murata, ex-vice-ministro do Ministério de Assuntos Exteriores, revelou ao jornal que os dois governos assinaram esse acordo secreto, através do qual o Japão autorizava os desembarques e a passagem por território nipônico de barcos de guerra norte-americanos com armas nucleares a bordo. O ex-diplomata, que ocupou esse cargo no Ministério desde julho de 1987 até agosto de 1989, assinalou que a administração desta questão estava a cargo de altos funcionários das Relações Exteriores, e que os primeiros-ministros e chanceleres eram informados sobre o acordo logo que assumiam seus cargos. Outros três ex-ministros adjuntos para assuntos políticos japoneses confirmaram a existência desse pacto que escondido da sociedade japonesa.
Em sua entrevista, Murata declarou que “meu predecessor me pediu que transmitisse o conteúdo do acordo secreto ao ministro na qualidade de vice-ministro administrativo”, acrescentando que naquele momento revelou os pontos do acordo ao titular de Assuntos Exteriores.
O porta-voz do governo japonês Kawamura Takeo e o ministro adjunto de Assuntos Exteriores Mitoji Yabunaka negaram enfaticamente o fato, se esforçando para não se chocar com a população e para dar credibilidade aos repetidos protestos feitos contra os testes nucleares realizados pela República Popular Democrática da Coréia, RPDC.

Michael Jackson: um ser de faz de conta

MARIA CLARA BINGEMER*
Com todo respeito ao sofrimento de quem estava doente há tanto tempo e morreu em deplorável situação de debilitamento físico, pesando 51 quilos e com vários ossos quebrados, Michael Jackson parece mais fictício do que real. A fantasia sempre imperou sobre a realidade na vida deste menino pobre, o sétimo dos nove filhos de uma obscura família de Gary, Indiana, cujo pai era testemunha de Jeová e dava aos filhos rígida educação.
O talento dos rebentos, que faziam música sem sua permissão, foi um dia descoberto pelo severo patriarca Joseph. Ele percebeu que ali estava o segredo que o tiraria da pobreza. Mudou-se, então, para a Califórnia, onde primeiramente o jovem Michael começou a cantar num conjunto com os outros irmãos, o famoso Jackson Five, até iniciar, em 1971, a carreira solo que o transformaria num astro pop.
A partir daí, a vida de Michael Jackson foi marcada por um constante paradoxo entre uma história de sucesso entremeada com escândalos, anomalias, dramas e tragédias.
Acusações de abuso sexual, operações várias para corrigir problemas de uma saúde frágil, transformações faciais e corporais, misturavam-se com milhões e milhões de cópias de discos vendidos, fãs se descabelando e gritando seu nome, querendo tocá-lo, esperando de tocaia na porta dos hotéis onde se hospedava, imitando seu jeito de dançar, dando aos filhos seu nome.
Ao mesmo tempo em que fazia vultosas doações para entidades filantrópicas, Michael Jackson vivia em litígio com a justiça por acusações de abuso sexual, pedofilia, evasão de divisas, sonegação de impostos. Impossível esquecer a imagem terrível do cantor em delírio absoluto, balançando o filho recém nascido para fora da janela do alto do hotel onde se encontrava hospedado em Berlim, em 2002. Provocou terror no mundo inteiro e as acusações de abuso sexual recrudesceram fortemente.
A morte do cantor, no último dia 25, ganhou as manchetes do mundo inteiro. Sua saúde física parecia decair no mesmo ritmo vertiginoso que a saúde mental. A estrela do astro pop, que brilhava há tantos anos, decaía e empalidecia, enquanto sua vida ia se esboroando, assim como suas finanças. Morreu endividado, destruído fisicamente pela dependência química, pela insanidade mental, de forma melancólica.
Acima de tudo, Michael Jackson passou pela vida com ar de faz de conta. Parecia não ser de verdade aquele superstar que à medida que ganhava mais visibilidade semeava a dúvida sobre se era homem ou mulher, negro ou branco, caritativo ou desonesto, pai amoroso ou pedófilo cruel.
Nada nele parecia real. E sua morte comprova essa aura de ficção quando, ao mesmo tempo em que ganha as páginas dos jornais, é objeto de declarações sobre casamentos não consumados, seguros milionários forjados de última hora, filhos assumidos como seus mas de duvidosa paternidade.
E, no entanto, fãs do mundo inteiro declaram-lhe sua eterna saudade, desejam ser seus seguidores, dançam uma e outra vez o passo da lua, o célebre “moonwalk” que o imortalizou e sublinhava seu estilo light, juntamente com sua voz andrógina e inclassificável. Mais ainda: há informações de que o Rio de Janeiro erguerá uma estátua em sua homenagem no Morro Santa Marta, onde ele gravou um vídeo clipe em 1996.
Parece-me um tanto preocupante essa idolatria de um astro irreal, que não pisa no chão e dança lunaticamente. E propõe um modelo de humanidade que não possui consistência e carece de realidade. Por que nos repugna tanto voltar o olhar para os paradigmas reais, os heróis de verdade, que a cada dia arriscam a vida para salvar a de outros?
Que Michael Jackson descanse em paz. Certamente agora terá se defrontado com a verdade sobre si mesmo e sobre a vida. E que nós possamos descobrir modelos e paradigmas mais nobres e consistentes para inspirar nossa vida e nossa conduta.
Para que não nos tornemos, nós também, seres de faz de conta.
*é teóloga, professora e decana do Centro de Teologia e Ciências Humanas da PUC-Rio e também autora de “A Argila e o espírito - ensaios sobre ética, mística e poética” (Ed. Garamond), entre outros livros. Texto extraído da Agência Brasil de Fato.

Os reconhecimentos a FHC

Os reconhecimentos a FHC
EMIR SADER (*)
Que cada um expresse aqui o reconhecimento que FHC pede.
Felizmente para a oposição, FHC não se contém, não consegue recolher-se ao fim de carreira intelectual e política melancólicos que ele merece. E cada vez que fala, o apoio ao governo e a Lula aumentam.
Agora reaparece para reclamar que não se lhe dá os reconhecimentos que ele julga merecer. Carente de apoio popular, ele vai receber aqui os reconhecimentos que conquistou.
Em primeiro lugar, o reconhecimento das elites dominantes brasileiras por ter usado sua imagem para implementar o neoliberalismo no Brasil. Por ter afirmado que ia “virar a página do getulismo”. Por ter, do alto da sua suposta sapiência, dito a milhões de brasileiros que eles são “inimpregáveis”, que ele assim não governava para eles, que não tinham lugar no país que o tinha elegido e para quem ele governava.
O reconhecimento por ter dito que “A globalização é o novo Renascimento da humanidade”, embasbacado, deslumbrado com o neoliberalismo.
O reconhecimento por ter quebrado o país por três vezes, elevado a taxa de juros a 48%, assinado cartas de intenção com o FMI, que consolidaram a subordinação do Brasil ao capital financeiro internacional.
O reconhecimento dos EUA por ter feito o Brasil ser completado subordinado às políticas de Washington, por ter preparado o caminho para a Alca, para o grande Tratado de Livre Comércio, que queria reduzir o continente a um imenso shopping Center.
O reconhecimento a FHC por ter promovido a mais prolongada recessão que o Brasil enfrentou.
O reconhecimento a FHC por ter desmontado o Estado brasileiro, tanto quanto ele pôde. Privatizou tudo o que pôde. Entregou para os grandes capitais privados a Vale do Rio Doce e outros grandes patrimônios do povo brasileiro.
Por isso ele é adorado pelas elites antinacionais, por isso montaram uma fundação para ele exercer seu narcisismo, nos jardins de São Paulo, chiquérrimo, com o dinheiro que puderam ganhar das negociatas propiciadas pelo governo FHC.
FHC será sempre reconhecido pelo povo brasileiro, que tem nele a melhor expressão do anti-Brasil, de tudo o que o povo detesta, ele serve para que se tome consciência clara do que o povo não quer, do que o Brasil não deve ser.
(*) Do Blog do Emir, na Carta Maior.

Teles não investem e deixam banda larga à beira da ruína

Cobram muito caro e prestam péssimos serviços
No sábado, dia 4, o serviço de banda larga Velox, da Oi, e a 3G da mesma empresa, entraram em pane em quatro Estados. Os usuários do Rio, Minas, Bahia e Ceará ficaram sem internet.
Uma semana antes, o Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro havia condenado a NET pelas “péssimas condições do serviço” (sic) de banda larga. A NET está sendo processada, somente no Rio, em 2.043 ações judiciais.
A Embratel, pertencente à Telmex/AT&T, apresenta uma lentidão tão grande em seus serviços que resolveu classifi-cá-los como “internet rápida” ao invés de “internet por banda larga” para “evitar polêmicas”. E haja rapidez!
QUEIXAS
A Telefónica de Espanha já está, somente este ano, na sexta pane de seu serviço de internet por banda larga, denominado “Speedy”, em São Paulo.
Como na Europa, a Telefónica consegue ser a pior entre os piores. Em pesquisa nossa, localizamos 629 sites e/ou blogs intitulados “Eu Odeio a Telefónica”. No Procon-SP, a Telefónica é a empresa com mais reclamações, tantas que o órgão inaugurou uma página somente para as denúncias de usuários da companhia. O assessor-chefe do Procon, Carlos Coscarelli, informou que as queixas sobre a banda larga da Telefónica crescem sempre mais do que as reclamações sobre outros problemas.
Realmente, só um elemento algo fora da normalidade, como o deputado Paulo Bornhausen, pode dizer, como disse na audiência pública da Câmara do último dia 23, que “o maior programa social do país não é o Bolsa Família. É a privatização das telecomunicações”. Que ele seja entreguista, servil a qualquer bucaneiro de fora e defensor de uma mega-negociata, provavelmente é um problema genético. Mas não precisava ser tão estúpido.
Sobretudo quando o desastre está à vista. A privatização das telecomunicações conduziu o país a uma situação de calamidade. Diz o presidente da Telefónica que o responsável é o usuário, que, nos últimos cinco anos, aumentou seu acesso a imagens, filmes, áudios, etc., como se isso fosse uma grande novidade. E como se o usuário não pagasse caro por um serviço que em outros países é gratuito.
Em cinco anos, a Telefónica não ampliou sua estrutura para uma demanda que era apenas a tendência natural. Imagine-se quando a chamada “convergência digital” - a integração de TV, internet, telefonia, etc., num mesmo sistema – estiver a pleno vapor, o que, aliás, está previsto acontecer num prazo relativamente curto (ou não acontecer, se depender da Telefónica e congêneres).
Hoje, segundo a Anatel, somente 5,19% da população tem acesso à internet via banda larga – entretanto, já está instaurado um pandemônio, quase um colapso. É impossível universalizar a banda larga com esse gargalo instaurado por três ou quatro monopólios. Muito menos efetivar a “convergência digital”.
O presidente Lula está absolutamente certo ao pensar na reativação da Telebrás para chegar a esses objetivos. Aliás, a decisão foi tomada pelo presidente há três anos, ficando a operacionalização a cargo de uma comissão ministerial, que, infelizmente, ainda não executou a decisão presidencial.
TÉCNICA
Sem isso, nem banda larga de verdade o país pode ter, como não está tendo. Um diretor da NET, entrevistado pela jornalista e webmaster Elis Monteiro, descreveu assim a situação: “Imaginem um prédio no qual a água é compartilhada por todos os moradores, que a recebem através de canos, que chegam a cada unidade do edifício.
Agora, imaginem um apartamento só consumindo quase toda a água, deixando o cano ‘seco’ para os demais”.
Comentário da jornalista, especializada em telecomunicações: “O problema é que [essa analogia] não diz que em vez de aumentar a quantidade de água e otimizar o transporte dessa através dos canos, as operadoras em atuação no Brasil têm preferido... aumentar o número de apartamentos atendidos e, por consequência, de moradores. (…) assim como a Telefónica, outras operadoras têm subdimensionado o uso das redes por parte dos assinantes, investido menos do que deveriam na ampliação de suas redes e tentado ‘fazer caber’ o maior número possível de assinantes dentro da mesma infraestrutura. O resultado? Pane”.
O conselheiro Plínio de Aguiar, da Anatel, um dos poucos focos de lucidez nessa agência, depois de observar que “grande parte das operadoras está terceirizando completamente a infraestrutura.
Isso é um risco”, comentou, especificamente sobre São Paulo, onde estão 4,46 milhões dos 11,4 milhões de usuários de banda larga do país: “a Telefónica não tem o domínio técnico-operacional suficiente para controlar o sistema. A qualidade da rede é definida no investimento. Ao investir pouco, a qualidade cai”.
Em carta ao Conselho Consultivo da Anatel, a Associação dos Engenheiros de Telecomunicações (AET) relatou sua investigação, de natureza eminentemente técnica, sobre a banda larga da Telefónica, onde constatou que “a atual topologia da rede de dados (banda larga) já não atende à demanda crescente de tráfego” e que essa rede “não tem recebido investimento”.
A AET observa que “a interrupção da comercialização dos serviços Speedy não garante que não haja a ocorrência de novas paralisações da rede de dados (banda larga), uma vez que na atual topologia da rede existe uma instabilidade crônica (…). Ainda não conseguimos entender por que, tecnicamente, a Telefónica, com aval da Anatel, garante apenas 10% da velocidade do serviço prestado através de tecnologia ADSL para o usuário final, enquanto em determinados momentos chega a consumir até 90% do recurso da rede dando prioridade à troca de informações internas em relação à aplicação do usuário”.
As operadoras de banda larga, com aprovação da Anatel, só estão obrigadas a disponibilizar 10% da velocidade que consta do contrato. Assim, o assinante paga (e a banda larga no Brasil é das mais caras do mundo) por aquilo que não lhe é fornecido.
Diante das reclamações, a Anatel havia declarado, através de sua assessoria de imprensa, que “a empresa [operadora] está vendendo a garantia mínima, não há possibilidade de entrega do máximo em tempo integral”. No entanto, esta não é a opinião dos engenheiros especializados em telecomunicações, como é explícito na carta da AET.
LÓGICA
A lógica – ou a falta de lógica – do monopólio privado é lucrar, e que se dane o resto, isto é, o país, a população em geral, os usuários em especial, e, inclusive, o conjunto do sistema de telecomunicações. Somente no último trimestre do ano passado – período de eclosão da crise nos países centrais – o lucro líquido mundial da Telefónica foi de US$ 2,543 bilhões, tendo crescido 89% em relação ao último trimestre do ano anterior. Um terço da receita (US$ 18,82 bilhões) veio da América Latina, ou seja, principalmente do Brasil. O aumento dos lucros aqui foi devido sobretudo à expansão das vendas da banda larga. No primeiro trimestre deste ano, a América Latina foi a única região do mundo em que a Telefónica aumentou seus lucros.
O presidente da filial da Telefónica no Brasil, debaixo da pressão causada pelas panes sucessivas que forçaram a Anatel a suspender as vendas de banda larga da companhia, afirmou que ela pode dar conta de até 80 mil acessos por segundo, mas a demanda é de 120 mil acessos por segundo, ou seja, 50% mais. Na terça-feira, Valente acrescentou que a empresa precisará dobrar o número de funcionários, o que é uma confissão de que a empresa está funcionando com metade (ou menos) dos empregados necessários.
O presidente da AET frisa que desde que a Anatel existe a falta de fiscalização passou a ser um problema crônico. Porém, diz Bottesi, a situação piorou ainda mais depois da posse de Ronaldo Sardenberg, ex-ministro de Fernando Henrique, na presidência da Anatel: “a responsabilidade é do homem que está sentado na presidência da agência: é do Sardenberg. O que parece é que esse pessoal não está comprometido com o país”.
CARLOS LOPES

quarta-feira, 8 de julho de 2009

O AMOR Aylton Neves

O AMOR POR OUTRA PESSOA, NO PRIMEIRO MOMENTO É DESEJO, É OLHAR, É VOZ, INTELIGÊNCIA, É TER.
NO SEGUNDO MOMENTO É SER COM O OUTRO.
O AMOR SE CONSTROI E CONSTROI.
O AMOR SE PRATICA, NÃO APENAS FALA.
O AMOR É “PECADO”.
“PECA-SE” POR AMOR.
O AMOR É CUMPLICIDADE
CUMPLICE DA VIDA
O AMOR NÃO É PIEGAS
O AMOR É VIDA
A VIDA COM TODAS AS SUAS CONTRADIÇÕES.
SEM CONTRADIÇÕES NÃO EXISTE AMOR, “SEM CONTRADIÇÕES NÃO HÁ VIDA”
O AMOR É SENTIR FELICIDADE E TRISTEZA
O AMOR É AMAR UMA MULHER, APENAS.
MULHER LINDA, SENTINDO SEU CHEIRO.
LUTAR NA VIDA É O AMOR
O AMOR É O TRABALHO, É A MÚSICA
O AMOR É A LIBERDADE DOS POVOS
O AMOR É SENTIR O VENTO
A BRISA DO MAR, VER O BALANÇAR DAS ARVORES, O VOÔ DA BORBOLETA AZUL
PENSAR EM TI.
O AMOR É O RESPEITO, BEIJAR SUA BOCA, SUAS MÃOS, SEU ROSTO...TE AMO, SENTIR SEU CHEIROLINDA MULHER. TE AMO E LHE RESPEITO. BEIJOS

O AMOR CONSTROI E É CONSTRUIDO

O AMOR CONSTROI A PAZ
O AMOR SERÁ SEMPRE VOCÊ
VOCE QUE VIVE
O AMOR É A TERRA, QUE NOS SUSTENTA E A TODOS OS SERES VIVENTES NELA.
O AMOR É A REPRODUÇÃO
O AMOR É A “QUIMICA” QUE NOS APROXIMA
O AMOR É AS MÃOS , QUE COM ELAS CONSTRUIMOS
O AMOR SÃO AS FLORES QUE BROTAM, A CADA ANO E FAZ LEMBRAR VOCE
O AMOR É COMO AS ARVORES, SUPORTA O SOL, E O TRANSFORMA EM ENERGIA, O VENTO FORTE, O TEMPO NUBLADO, CHUVOSO...
MAS O SOL, A BRISA, O VENTO FAZ COM QUE AS ARVORES CANTEM NUM BELO BAILADO SINCRONIZADO DE SUAS FOLHAS E GALHOS.
O AMOR É VER A LUA REFLETIR NO MAR DE SAHY E IBYCUI
O AMOR É ENTENDER O OUTRO
O AMOR NÃO É PASSIVO
O AMOR É PENSAR EM TI, DE TUDO O QUE FIZEMOS DE BOM E AINDA HAVEREMOS DE FAZER.
O AMOR COM CERTEZA É A VIDA.
“AMAI-VOS UNS AO OUTROS COMO A SI PRÓPRIO”
O AMOR NA PLENITUDE TEM ACERTOS E DEFEITOS
AMAR COM AS DIFERENÇAS.
SEM DIFERENÇAS NÃO HÁ VIDA
SEM VIDA NÃO HÁ E NÃO HAVERA AMOR. TE AMO
TE ADORO MEU GRANDE AMOR

Fundação Ford como fachada filantrópica da CIA na Europa

Fundação Ford como fachada filantrópica da CIA na Europa
Em nossa edição de 1º de junho, publicamos o artigo de Paul Labarique, da Rede Voltaire, sobre a ação atual da Fundação Ford. O que hoje reproduzimos, embora não tenha sido assinado pelo autor - apareceu como material editorial da Rede - é uma síntese da primeira parte do trabalho de Labarique. Seu tema é a história inicial da Fundação Ford, suas origens, a bem dizer, suas raízes. No momento em que, como frisou Mário Jakobskind, alguns argumentam, no âmbito da comissão que organiza a Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), que a Fundação Ford é um órgão perfeitamente inocente, neutro, e até mesmo progressista, mere- cem ser rememorados aqueles tempos em que “intelectuais de esquerda” - tipo Fernando Henrique Cardoso - eram apoiados por tão generosa instituição. Nesse sentido, parece que nada mudou na Fundação Ford. E nem nos incautos, que sempre existem.
C.L.
A Fundação Ford foi criada em 1936 por Henry Ford. Antissemita militante, publicou “A Judiaria Internacional”. Figura legendária da indústria automobilística, apoiou todos os projetos totalitários do século XX: financiou o nacional-socialismo alemão antes de 1933, foi condecorado pelo chanceler Hitler com a Grande Cruz da Águia Alemã em 1938 e proveu uma boa parte do capital da empresa química IG Farben, fabricante do gás Zyklon B.
Todavia, foi depois de sua morte que sua fundação adquire o máximo esplendor, quando recebe 70 milhões de dólares das empresas Ford e converte-se na maior associação filantrópica do mundo. Como afirma Henry Ford II, novo presidente do conselho de administração, os anos 1949-1950 “marcam uma virada na história da Fundação Ford”.
"NOVOS TEMPOS"
O mesmo se produz quando os Estados Unidos adquirem o status de potência mundial de primeiro plano. Em Washington, o ex-embaixador na União Soviética, George F. Kennan, leva adiante uma campanha para persuadir os seus compatriotas de que o perigo vermelho é muito maior que a ameaça nazista e leva ao presidente Truman a não desarmar-se, mas a ocultar a máquina de guerra norte-americana e a preparar-se para um novo enfrentamento. Convence o secretário adjunto da Guerra, John J. McCloy, a não desmantelar os serviços secretos em funcionamento durante a Segunda Guerra Mundial, mas a adaptá-los aos novos tempos. É o teórico do “stay-behind”, uma rede composta inicialmente por agentes nazistas e fascistas que permaneceram atrás da linha de frente organizando a capitulação do Reich e que logo foram aproveitados pelos anglo-norte-americanos para continuar a luta contra a influência comunista na Europa. Dessa forma, um grupo de industriais reunidos ao redor do jurista H. Rowan Gaither Jr consegue impedir o desmantelamento do serviço de investigação, privatizando-o e batizando-o como Rand Corporation (Rand é o acrônimo de Research And Development).
Levando a termo toda essa lógica, Kennan cria uma estrutura permanente e secreta do aparato de Estado através do National Security Act, validado pelo Congresso em 1947. Institui a CIA, o Conselho de Segurança Nacional e o Estado Maior Conjunto. Este dispositivo tem, além disso, um plano de intervenção pública, promovido pelo general George C. Marshall, em forma de empréstimo para a reconstrução outorgado aos Estados europeus sobre a égide de Washington e cuja implementação é confiada a Paul G. Hoffman.
As fundações norte-americanas, a frente das quais se encontra a Fundação Ford, serão “soldados” de Washington nesta “Guerra Fria”. A nova dimensão financeira adquirida pela Fundação Ford em1947 desenvolve suas ambições. Para redefinir seus objetivos, o conselho de administração decide, no outono de 1948, encomendar “um estudo detalhado (...) a pessoas competentes e independentes que sirva de guia sobre a melhor forma (...) em que os fundos ampliados da Fundação podem ser utilizados em áreas de interesse geral”.
A comissão criada para isso é presidida por H. Rowan Gaither Jr, que acabara de criar a Rand Corporation graças às garantias bancárias da Fundação Ford. Gaither havia sido administrador do MIT durante a guerra e havia trabalhado com os físicos do Projeto Manhattan. Aconselhado por esta comissão, o conselho de administração promove o diretor do Plano Marshall, Paul G. Hoffman, para o posto de presidente da Fundação, função que assume em 1º de janeiro de 1951. Segundo o jornalista Volker R. Berghahm, este encarna “o papel mais amplo e internacional concebido pelo informe de Gaither para a Fundação”. A pauta havia sido traçada: paralelamente à rede stay-behind no campo político e ao Plano Marshall no econômico, a Fundação Ford será o braço cultural das redes de ingerência norte-americana na Europa.
Entre a elite dirigente dos Estados Unidos a favor da guerra da Coreia, a criação da Guerra Fria foi se consolidando na senda da extrema direita por um teórico temível, Paul H. Nitze. Ao mesmo tempo, a vida política interna submerge na “caça às bruxas”, da qual o senador Joseph McCarthy se converte em líder.
ARENA INTERNACIONAL
A maioria das fundações que prosperam ao final da guerra gastam a maior parte de seu orçamento em programas nacionais: assim, a Fundação Ford gasta, de 1951 a 1960, 32,6 milhões de dólares em programas educativos, 75 milhões para o ensino de economia e gestão, e cerca de 300 milhões para os hospitais e escolas de formação em medicina. No entanto, uma parte de seus quadros deseja dirigir a atividade para a arena internacional.
Uma primeira tentativa se refere ao Free Russia Fund, cuja presidência é confiada, naturalmente, ao criador da Guerra Fria, George F. Kennan, que encontra nela uma via para continuar sua carreira. Seu orçamento é de 200.000 dólares. Em julho de 1951 a Fundação oferece igualmente 1,4 milhões de dólares à Free University, em Berlim Ocidental.
No informe anual de 1951, Henry Ford menciona a “criação de condições para a paz”. Este programa teria como objetivo “tratar de reduzir as tensões exacerbadas pela ignorância, a inveja e a incompreensão” e “aumentar a maturidade do juízo e a estabilidade da determinação nos Estados Unidos e no estrangeiro”. Hoffman organiza uma equipe dedicada a promover esta ideia de “condições para a paz”. Junto a ele se encontra Rowan Gaither, mas também Milton Katz, seu ex-assistente na administração do Plano Marshall (ECA) e Robert M. Hutchins da Universidade de Chicago. A partir de 1º de janeiro de 1952 a equipe é reforçada por outro consultor da ECA, Richard M. Bissell Jr. Em 15 de julho de 1952, o orçamento dos programas internacionais da Fundação Ford se aproxima dos 13,8 milhões de dólares, isto é, a metade da soma destinada aos programas nacionais.
RICHARD BISSEL JR.
Em março de 1952, Richard M. Bissell escreve um texto de dezesseis páginas intitulado “Criar as Condições para a Paz”, em que fixa a linha do próximo programa. Segundo o documento, “o objetivo da Fundação deve ser contribuir para a criação de um contexto no qual seja possível para o Ocidente, graças a nova posição de força militar que está levando a cabo, negociar uma paz justa e honrada com o Leste”.
Nesse contexto, Hoffman recorre ao ex- secretário adjunto de Guerra, John J. McCloy (que havia passado a ser presidente do Banco Internacional para a Reconstrução e o Desenvolvimento, antecessor do Banco Mundial) que se une à Fundação com um dos seus colaboradores: Shepard Stone.
Desde o verão de 1952 Hoffman se compromete junto a Dwight D. Eisenhower, candidato à eleição presidencial, esperando obter o posto de secretário de Estado na nova administração. Uma equipe da Fundação, sob a direção de Shepard Stone, escreve com diligência o programa do candidato republicano, trabalhando habilmente as suscetibilidades dos democratas.
Fracassa a tentativa de aliança e, desde sua entrada na Casa Branca, Eisenhower nomeia John Foster Dulles ao posto de secretário de Estado. Seu irmão, Allen Dulles, fica à frente da CIA onde adota uma posição muito dura em relação a URSS, desenvolvendo a estratégia do “rollback” na Europa Central.
Estas nomeações são uma nova camuflagem para os projetos de Hoffman, Kennan, Stone, McCloy e Milton Katz, que continuam multiplicando os contatos com intelectuais liberais e especialistas em questões internacionais para conduzir uma estratégia mais diplomática em relação à URSS. Durante estes encontros surge a ideia de que os países não alinhados podiam constituir um bom terreno para projetos pilotos elaborados pela Fundação.
Segundo os arquivos da correspondência entre os diferentes dirigentes da Fundação, John J. McCloy se perguntava então se “o trabalho que faziam não era mais difícil (...) que governar a Alemanha ou tratar de estabelecer uma comunidade européia”.
Ao final, os contatos realizados pelo grupo permitem aos dirigentes da Fundação considerá-la um “elemento de direção estimulante” para repensar a relação soviético-norte-americana, segundo informe final de McCloy e Stone.
Segundo este documento, a Europa Ocidental seria uma região chave cuja base institucional deveria ser fortalecida e onde a Fundação Ford “poderia patrocinar de forma útil a criação de uma instituição ou uma série de instituições dedicadas ao estudo dos problemas da comunidade européia”. Este projeto se intitula Programa Condições para a Paz. Se cria um comitê consultivo presidido por McCloy, em que Shepard Stone ocupa o posto de diretor.
Um dos seus objetivos é elaborar um método que permita “obter o apoio dos socialistas da Europa para a paz internacional”. Para tanto, a Fundação deve “considerar a ideia de reunir os pensadores socialistas avançados destes países, homens com prestígio no seio de seus próprios partidos, estudar o problema da coexistência e propor soluções”.
O programa suscita as ambições pessoais. Ao término das lutas de influência, se põe abaixo a jurisdição do Council on Foreign Relations (CFR) e Shepard Stone se converte em um elemento chave na qualidade de chefe da Divisão para os Assuntos Europeus e Internacionais da Fundação Ford.
Seja como for, a Fundação é uma ferramenta que deseja utilizar cada departamento ministerial. Desde 5 de maio de 1951, Hans Speier, da Rand Corporation, envia um memorando a Rowan Gaither em que revela que o Departamento de Estado e o Alto Comissionado Civil na Alemanha (HICOG) querem dissimular seu apoio a organizações na Alemanha Ocidental para que deixem de aparecer como submetidas a Washington. Para tanto, junto com a CIA, tratam de encontrar os meios para fazer chegar os fundos indiretamente.
PROJETOS
Em 20 de março de 1952, Milton Katz faz circular um memorando dentro da direção da Fundação em que recorda a especial importância da Europa para a diplomacia norte-americana. Segundo ele, a Europa só pode ser considerada “de forma construtiva se é membro da comunidade atlântica”. Nesse sentido, é importante contribuir para a liberação “dos grandes sindicatos franceses e italianos das mãos do comunismo”.
Katz enumera então uma série de projetos da Fundação Ford como “a instauração do equivalente do CDE (Comitê para o Desenvolvimento Econômico) para a Europa Continental. Termina com uma lista de personalidades que poderiam difundir a ação da Fundação: Jean Monnet, Oliver Franks, Hugh Gaitskell, Geoffrey Crowther, Robert Marjolin, Dirk Stikker y Dag Hammarskjöld.
Em maio de 1953 Rowan Gaither redige um memorando em que refere-se a um novo princípio: a Fundação deve evitar “o que seja um prolongamento ou repetição de ações efetivas de governo ou outras agências”. E, prossegue, “algumas das mais importantes oportunidades da Fundação (...) podem residir no fato de completar, estimular e fazer melhores as atividades de outros, especialmente as do governo”. O vínculo Governo norte-americano/Fundação Ford encontra aqui seu modus operandi.
“LIBERDADE DA CULTURA”
Com o final do maccartismo e o início da coexistência pacífica, se atenuam as querelas em Washington. A Ford não se apresenta como uma alternativa à CIA, mas como sua associada. Richard Bissell Jr deixa a Fundação para assumir cargo na direção de operação do stay-behind, enquanto a Ford assiste a CIA em várias grandes operações, a substitui no financiamento do Congresso para a Liberdade da Cultura e confia um estudo sobre o fracasso do tratado da Comunidade Européia de Defesa na França a David Lerner e a Raymond Aron, figura essencial do Congresso. Financia a orquestra Hungarica Philarmonica, composta por músicos obrigados a exilar-se devido ao stalinismo e que a CIA quer erigir como símbolo do mundo livre.
Financia igualmente o American Committee on United Europe (ACUE), uma fachada da CIA encarregada de favorecer a construção de uma Europa Federal conforme os interesses de Washington. O ACUE é presidido pelo ex-diretor dos serviços secretos durante a Guerra Mundial e seu vice-presidente é fundador da CIA.
A ação da Ford junto ao Congresso para a Liberdade da Cultura é possível, explica Grémion, pela proximidade entre os atores que formam parte de ambas entidades. Como o Congresso, a Ford está composta por “liberais” (no sentido norte-americano do termo), quer dizer, pela esquerda não comunista. “Ferramenta de uma diplomacia não governamental, o objetivo de seus dirigentes [no campo da arte] é dar uma imagem diferente da cultura norte-americana, separada da frequente imagem de cultura popular de massas”.
Nesse sentido, “a Ford situa assim sua ação desde o início no marco de uma prática de mecenato ilustrado”. Finalmente, está orientada também no desenvolvimento das ciências sociais: Rowan Gaither estima que, algum dia, estas permitirão obter resultados tão brilhantes no campo social como a engenharia no campo da técnica. A Ford financia com muita prioridade as ciências sociais, antes que as humanas e a medicina. Multiplica igualmente os intercâmbios universitários e acadêmicos, assim como as criações institucionais: financia o Centro de Sociologia Europeia de Raymond Aron e a rede de planificadores Futuribles, de Bertrand de Jouvenel.
Sua presença é tão discreta que, segundo um memorando redigido por Shepard Stone depois de uma viagem a Europa em 1954, a Fundação tem grande reconhecimento na Europa “inclusive nos círculos de extrema esquerda do Partido Trabalhista britânico, o SPD alemão e entre numerosos intelectuais esquerdistas na França”. A admiração é recíproca: Shepard Stone sente grande atração pela cultura européia, a que se opõe a cultura popular norte-americana, e sente-se próximo dos intelectuais do Congresso que, logo que critiquem o comunismo, “valorizam as virtudes da liberdade individual e de uma sociedade livre”. Assim, financia revistas próximas ao Congresso como Encounter, Preuves e Forum.
Depois de vários meses de conflitos internos, Shepard Stone obtém a direção da totalidade do programa europeu da Ford em meados de 1956. A atividade da Ford se amplia. Stone reivindica cinco milhões de dólares suplementares de orçamento somente para o programa europeu. Este dinheiro permite ajudar os refugiados procedentes da Hungria ou Polônia e instalar estruturas para acolhê-los. A Fundação Ford organiza igualmente programas de formação e estudo para cientistas procedentes do Pacto de Varsóvia, enviados para os Estados Unidos e a Europa Ocidental.
Ao mesmo tempo, se lançam no Japão programas de promoção de língua inglesa, estudos norte-americanos e contatos entre Japão e Europa. A diplomacia filantrópica da Ford se torna mundial. Em todas as partes do mundo se encarrega de impulsionar a cultura estadunidense e ganhar para sua causa os Não Alinhados. Na África, a ameaça de um alinhamento com Moscou dos países recentemente independentes motiva numerosos programas de ajuda nessa direção, especialmente na Argélia. Monta-se igualmente um programa agrícola na Índia com a ajuda de investidores europeus a quem Shepard Stone estimulou a criar fundações no estilo da Ford.
UNIVERSIDADES
Em nível universitário, a Fundação Ford financia o St Antony’s College de Oxford, especializado em Humanidades, em 1959. O Centro Europeu de Investigação Nuclear (CERN) também recebe subvenções a partir de 1956, assim como o instituto do físico nuclear dinamarquês Niels Bohr. Assim, com a aprovação da CIA, este pôde levar à Dinamarca a delegação de cientistas polacos, soviéticos e inclusive chineses, em virtude, oficialmente, do “diálogo científico”. Neste mesmo sentido, a própria universidade de Oxford recebe uma subvenção de um milhão de dólares em 1958, assim como o Churchill College de Cambridge.
Na França, a Maison des sciences de l’homme (Casa das Ciências do Homem), dirigida por Gaston Berger, recebe um milhão de dólares em 1959 para a criação de um centro de investigação em ciências sociais defendido por professores universitários como Fernand Braudel.
A revelação, em 1966 e 1967, do financiamento do Congresso pela Liberdade da Cultura por parte da CIA, tem como consequência o descrédito da Ford. Se espalha a ideia de um vínculo entre a Ford e os serviços secretos norte-americanos. Mais ainda, é o conjunto das atividades pretendidamente filantrópicas realizadas pela Fundação na Europa as que são vistas através de um novo olhar: não se trata acaso de uma formidável operação de ingerência cultural estadunidense?

sábado, 4 de julho de 2009

A verdadeira história dos testes nucleares norte-americanos


Até hoje os EUA não ratificaram o tratado sobre a proibição de testes nucleares, o que tornou esse acordo sem validade. Mas essa não é a única razão pela qual o escarcéu feito na mídia norte-americana – e em suas filais de outros países – sobre o recente teste nuclear coreano rescende a mero cinismo e hipocrisia.
Merece que seja lembrado o que foram os testes nucleares dos EUA. Ao contrário da Coreia, os EUA não eram um país cercado, bloqueado e constantemente ameaçado por uma força muito superior à sua. Pelo contrário, os EUA são o único país do mundo que promoveu um bombardeio nuclear sobre outra nação – aliás, sobre os civis desta nação, em Hiroxima e Nagasáqui. Não admira, portanto, que até o “Diário de Notícias”, de Lisboa, jornal mais longe da esquerda que Salazar de Dom Sebastião, haja recordado, em reportagem editorial, o que foram os testes nucleares norte-americanos. É uma síntese desta reportagem que hoje reproduzimos. A maior parte dos dados já foram publicados por nós há alguns anos, com exceção dos que se referem aos acontecimentos no atol de Bikini. Mesmo assim, a matéria dos jornalistas lusitanos é muito interessante, e muito bem escrita – por isso, mantivemos integralmente a prosódia do português falado naquele país
Na sua sede de Albuquerque, o DOE (Departamento de Energia norte-americano) armazena 6500 rolos de filme cujo visionamento foi negado durante décadas à opinião pública dos Estados Unidos e que tiveram de esperar até meados da década de 1990 para que perdessem o seu caráter de matéria reservada.
Que tem de especial esta documentação para que tenhamos fixado a nossa atenção nela? Muita coisa. Em princípio, não se trata de nada remotamente parecido com aquelas filmagens propagandísticas da guerra fria, em que instavam os cidadãos norte-americanos a ver o átomo como um amigo e o armamento nuclear como a garantia das liberdades democráticas frente à horda vermelha que chegava do outro lado do oceano. Pelo contrário, estas imagens mostram a realidade nua e crua dos testes atômicos. Mostram paisagens e situações nas quais o adjetivo “apocalíptico” deixa de ser uma expressão literária gratuita para recuperar o seu verdadeiro sentido.
Episódios lamentáveis passam, uns atrás dos outros, como a existência de ensaios nucleares na catástrofe - ecológica e humana - provocada pelas detonações levadas a cabo no atol de Bikini, cujas consequências ainda tardaram muitos anos em ser disfarçadas e que causaram a evacuação de praticamente toda a população das ilhas Marshall.
“Somos uns filhos da puta”. Foram estas as históricas e pouco solenes palavras pronunciadas a 16 de Julho de 1945, às 5 horas, 29 minutos e 45 segundos, pelo doutor Kenneth Bainbridge. Acabava de ser testemunha da primeira explosão nuclear no campo de tiro de Alamogordo (Novo México), concretamente num lugar que tinha o nome adequado de “Jornada do Morto”. Ali, a humanidade entrou na denominada “era atômica”. Com aquela explosão culminava o Projeto Manhattan, a maior operação militar secreta de todos os tempos. A maior parte do mérito daquele êxito pertencia ao doutor J. Robert Oppenheimer, que tinha conseguido levar a bom porto a empresa de que se tinha encarregado em 1942: fabricar uma bomba atômica antes dos alemães.
Apenas um mês depois deste teste, 200 mil pessoas pereciam queimadas nas cidades japonesas de Hiroxima e Nagasáqui.
Foram elas as vítimas imoladas em prol de uma “boa causa” para encurtar a guerra, e que passaram oficialmente à história como as primeiras vítimas do armamento nuclear. No entanto, os primeiros seres humanos que sofreram na carne a dentada da radiação de uma bomba atômica foram na realidade norte-americanos.
Não havia precedentes, assim teve de se improvisar, o que fez com que em Alamogordo se cometessem os primeiros, embora nem por isso menos graves, ensaios nucleares norte-americanos. Por exemplo, a auto-estrada nacional 380, que passava apenas a 15 quilômetros do local da explosão, foi atingida por uma considerável dose de radiação. Uma dose semelhante de radiação abateu-se sobre as propriedades de duas famílias na cidade vizinha de Bingham, as quais não foram nem alertadas nem evacuadas pelas autoridades militares. Até em locais mais distantes se puderam apreciar efeitos da detonação sobre o gado de algumas quintas dos arredores, já que muitos destes animais apresentavam graves queimaduras produzidas pela radiação beta.
Apesar de todo este acumular de irresponsabilidades, em 1975, o lugar mereceu a designação de monumento histórico nacional, e uma equipa de trabalhadores (que receberam uma gratificação extraordinária por trabalharem ali) ergueram um obelisco comemorativo no local exato em que teve lugar a explosão.
EXPULSOS DO PARAÍSO
Não se tinha passado um ano desde Hiroxima e Nagasáqui quando a marinha de guerra norte-americana começou a interrogar-se até que ponto a nova arma também lhes poderia ser útil. Para dar resposta a essa pergunta, planejou-se a denominada Operação Crossroads.
A data fixada para este novo teste foi o dia 1 de Julho de 1946.
A Operação Crossroads consistia basicamente em comprovar os efeitos que teria uma detonação nuclear sobre uma frota naval. O lugar escolhido para a quarta explosão nuclear da História foi o atol de Bikini, no arquipélago das ilhas Marshall, cenário de uma das mais sangrentas batalhas da guerra do Pacífico. Em Fevereiro de 1946, o comodoro Ben H. Wyatt, governador militar das ilhas, comunicou oficialmente aos seus habitantes que deveriam abandonar temporariamente as suas casas, já que o Governo dos Estados Unidos tinha previsto efetuar ali uma prova nuclear. O seu sacrifício contaria com a gratidão de toda a humanidade, já que esta prova seria uma peça fundamental no futuro desenvolvimento tecnológico e no fim definitivo de todas as guerras.
Assim, em Março de 1946, começou o penoso êxodo dos 167 habitantes de Bikini, com o seu rei à cabeça, que foram deportados para outro atol a 200 quilômetros de distância, Rongerik, um lugar muito menor, com escassos recursos de água e alimentos. Para cúmulo das humilhações, Rongerik era tradicionalmente considerado como um lugar maldito pelos habitantes de Bikini. Tudo isto contribuiu para que os nativos se arrependessem de ter acatado tão docilmente a decisão dos Estados Unidos. Mas já era demasiado tarde.
O certo é que Bikini era o lugar perfeito para aquele objetivo; isolado, deserto (uma vez deportada a população aborígene, claro) e afastado das rotas marítimas habituais. Durante dias espalhou-se pela área circundante uma sinistra frota de barcos fantasma, formada por embarcações de todos os tipos e tamanhos, que se encontravam prestes a serem desmanteladas e que serviam de “alvo”, levando a bordo uma tripulação formada por 5400 porcos, ratos, cabras e ovelhas que substituiriam os marinheiros e permitiriam estudar os efeitos da radiação sobre os organismos afetados pela detonação.
O principal resultado daquela experiência foi que os habitantes de Bikini jamais regressaram à sua ilha, convertendo-se no primeiro povo da História a ter sofrido um êxodo nuclear. Hoje em dia, levam uma vida errante, dependendo da hospitalidade de outros povos e sonhando em regressar um dia a um paraíso que já não existe.
O ARSENAL ATÔMICO
O ano de 1951 foi quando os Estados Unidos conceberam um arsenal nuclear tal como o entendemos na atualidade, o qual foi testado ao longo de uma série de ensaios coletivamente conhecidos como Buster/Jangle e que decorreram num campo de testes instalado no deserto de Nevada para tal efeito.
Yucca Flat, um antigo território de garimpeiros situado a menos de cem quilômetros a norte de Las Vegas, foi o local escolhido para as sete detonações nucleares que foram executadas enquanto durou o projeto. Nessa altura, cientistas e militares tinham interesses diferentes e os testes tiveram de ser planejados para satisfazer as expectativas de ambos. Os cientistas necessitavam de afinar os aspectos tecnológicos, como o aperfeiçoamento de dispositivos de descarga mais confiáveis, ou encontrar formas de obter uma energia maior com a mesma quantidade de material físsil. Pelo seu lado, os generais precisavam desenvolver a tática da guerra nuclear, um estilo de combate inédito que necessitaria de procedimentos próprios. Para desenvolver estas táticas, efetuaram-se uma série de manobras militares que coincidiam com os testes e em que centenas de soldados foram expostos à radiação das explosões atômicas. A primeira destas desafortunadas unidades foi o 354th Engineer Combat Group, que foi a encarregada de preparar o campo para as primeiras manobras atômicas da História.
COBAIAS HUMANAS
No outono de 1950, a guerra da Coreia encontrava-se no seu apogeu e os Estados Unidos tinham perdido o monopólio nuclear ao ter sido detonado com êxito o primeiro artefato atômico soviético. A guerra fria era um fato e o fantasma de um apocalipse radioativo abatia-se sobre o mundo. A única maneira viável para que o arsenal termonuclear não fosse uma ameaça inútil era conseguir que a sua utilização não fosse um sinônimo do fim do mundo, quebrando a doutrina da destruição “mútua assegurada” que mantinha o precário equilíbrio entre as superpotências. Tratava-se de desenvolver armas menores que fossem suscetíveis de ser utilizadas de modo “seguro” numa batalha real. No entanto, os cientistas não se encontravam ali para testar uma arma, mas sim uma teoria. Concretamente estavam muito mais interessados nos efeitos da radiação sobre os organismos vivos, algo que já tinha começado a ser estudado no atol de Bikini. Desta vez, a novidade era que as centenas de animais que deram as suas vidas pelo progresso atômico foram piedosamente anestesiados, antes de serem expostos aos efeitos da explosão e mais tarde dissecados. Claro que, se na verdade queriam conhecer os efeitos da radiação sobre o corpo humano, podiam ter recorrido aos 75 mil doentes de cancro da tiróide devido, segundo o Instituto Nacional do Cancro, às provas nucleares de Nevada ou às vítimas do aumento de 40% dos casos de leucemia infantil que aconteceram no vizinho Estado de Utah entre 1951 e 1958.
A fase seguinte de testes nucleares foi executada sob o nome de código de Tumbler/Snapper, e passará à História como a experiência nuclear em que mais seres humanos se viram envolvidos como cobaias. Sob o patrocínio da recém-criada Comissão de Energia Atômica, centenas de seres humanos foram expostos, agora mais diretamente que nunca, à ação das detonações atômicas. Houve abusos de todo o tipo e até se deram casos em que foi ordenado aos pilotos que atravessassem o cogumelo radioativo para recolherem amostras da atmosfera. O objetivo desta atitude aparentemente inexplicável era efetuar um minucioso estudo psicológico acerca do comportamento das tropas num campo de batalha atômico. Em caso de guerra era preciso contar com operacionais eficazes que apoiassem de imediato a contundente ação dos bombardeiros nucleares e, ao serem treinados velhos cavalos de batalha com o disparo de armas de fogo perto deles para que, chegado o momento, não se assustassem, chegou-se à conclusão de que com seres humanos se podia fazer o mesmo. Assim teve início uma autêntica loucura em que a cada teste os soldados eram colocados cada vez mais próximos do núcleo da explosão: “Antes destes homens serem designados para a operação”, disse em tom enfático o narrador do documentário, “tinham um monte de preconceitos em relação à bomba e aos seus efeitos. Tal como tantas outras pessoas na sua situação, muitos deles estavam assustados. Nunca tinham dedicado tempo ou esforço a aprender os fatos, bem como aquilo que teriam de fazer no que se referia ao armamento atômico. Estes homens foram doutrinados acerca do que sucederá e do que devem fazer se a bomba cair”.
No entanto, apesar do entusiasmo do narrador, os resultados não puderam ser mais desanimadores. Segundo os psicólogos, os soldados sofriam um enorme stress emocional quando presenciavam uma explosão nuclear e isso tornava-os imprevisíveis em situação de combate. É compreensível que estivessem assustados.
Durante os anos que se seguiram os membros deste coletivo desenvolveram todo o gênero de cancros, enfermidades sanguíneas, degenerativas e psíquicas. Isto sem contar com os danos genéticos que transmitiram aos seus filhos e netos, e que fazem com que os afetados recordem amargamente como os seus instrutores ridicularizavam os seus medos no que se referia ao impacto da radiação sobre a sua capacidade reprodutora. O pior de tudo é que não obtiveram qualquer auxílio ou indenização já que, dada a condição de elevada confidencialidade daquelas experiências, não existia maneira de demonstrar perante um tribunal a relação entre os seus males e os testes nucleares nos quais participaram.
Logicamente, a opinião pública mantinha-se alheia a tudo isto, apesar do programa de testes nem sequer ser um segredo, e meios da comunicação social como a revista Life mantinham os norte-americanos informados do que estava a suceder no Estado de Nevada, publicando até fotografias das nuvens nucleares - encontrávamo-nos no apogeu de uma campanha propagandística a todos os níveis para que os norte-americanos vissem aquilo que dizia respeito à energia nuclear com absoluta naturalidade.
Durante o programa Tumbler/Snapper testaram-se vários tipos de bomba atômica com potências que oscilavam entre 1 e 30 quilotoneladas. Foi construída uma cidade com edifícios e árvores junto à zona de ensaios para reproduzir com a maior fidelidade possível os efeitos de uma explosão atômica num núcleo urbano. Pouco a pouco, o campo de Yucca Flat foi-se cobrindo de crateras de diferentes tamanhos e profundidades, dependendo da intensidade de cada explosão e das condições geológicas do terreno. A Comissão de Energia Atômica nunca parecia satisfeita, e solicitava sempre “mais um teste” para verificação de uma ou outra teoria no terreno.
A BOMBA H
A perda do monopólio nuclear por parte dos Estados Unidos tinha colocado as superpotências num equilíbrio incômodo. O desenvolver da bomba de hidrogênio era o projeto em que os norte-americanos tinham posto todas as suas esperanças, de modo a fazerem com que a balança voltasse a pender para o seu lado. Sobre o estirador do projeto, a construção do novo artefato atômico não se revestia de especial dificuldade. Mas não bastava fabricá-lo: também era necessário comprovar no terreno o seu potencial destruidor, pelo que se voltaram para o Pacífico, onde tiveram lugar os ensaios a que se deu o nome de código Operação Ivy. Desta vez, o cenário do teste seria o atol de Enewetak, mais uma vez nas já castigadas ilhas Marshall, onde se montaria e se faria rebentar a Mike, a primeira bomba de hidrogênio da História, cujo nome foi escolhido pelo “M” de megatonelada.
Ninguém sabia com toda a certeza o que poderia acontecer, já que até àquele momento a “bomba H” tinha sido apenas uma mera concepção teórica.
Mike era assim uma verdadeira incógnita, e estimativas como as distâncias de segurança estabeleceram-se praticamente a olho. As 10,4 megatoneladas do artefato outorgavam-lhe uma potência 650 vezes superior à da bomba de Hiroxima, e isso despertou uma certa inquietação entre os responsáveis pela experiência, a chamada “Comissão Panda” encabeçada por J. Carson Mark, no laboratório de Los Alamos. Mas a tentação de ir mais além do que alguém tinha alguma vez sonhado, desencadeando uma energia apenas comparável com aquela que vibra no coração do sol, era grande. Tratava-se de executar a maior demonstração de poder que jamais se tinha realizado na História humana. Mas a natureza tinha uma surpresa reservada para os cientistas e militares responsáveis pelo projeto.
Mike foi um êxito para lá das expectativas dos que a projetaram e ainda hoje é a quarta maior explosão nuclear da História dos Estados Unidos. Com o passar do tempo foram muitos os militares que confessaram terem-se sentido horrorizados ao comprovar que tinham nas mãos o instrumento para exterminar para sempre da face da Terra enormes núcleos populacionais.
Mas, como sempre, a Comissão de Energia Atômica não estava satisfeita e começou a fabricar King - neste caso, o “K” era de quilotoneladas -, um segundo protótipo completamente operacional e projetado para ser lançado por um bombardeiro B-36 sobre a ilha Kwajalein, também no arquipélago das Marshall. King chegou quase a superar o seu irmão apesar de ter um tamanho consideravelmente menor. Esta única detonação libertou mais poder destrutivo do que todo aquele que tinha sido utilizado durante a Segunda Guerra Mundial. King foi o modelo utilizado no desenvolvimento da Mk-18, uma arma nuclear, da qual os Estados Unidos construíram dezenas de unidades durante os anos que se seguiram.
REGRESSO A BIKINI
No meio deste clima tornou-se necessária uma nova bateria de testes nucleares que, sob o nome de Operação Castle, se realizaram num cenário que já se tinha convertido num clássico das experiências atômicas: o atol de Bikini. O objetivo principal nesta ocasião consistia em testar artefatos nucleares baratos e de pouco peso que pudessem ser produzidos em massa e eficazmente utilizados como arma de bombardeamento. Podemos fazer uma ideia das intenções que animavam o projeto através das palavras do general Clarkson, a mando da Junta da Força Operativa 7, encarregada da execução do projeto: “Castle foi, sem dúvida, a mais completa e significativa operação na curta mas impressionante História dos testes militares e, na minha opinião, absolutamente vital para a segurança nacional e para o resto do mundo livre.”
A ilha de Perry foi a escolhida como o lugar onde se montariam as bombas e Enyu seria o sítio de onde se dispararia o primeiro artefato, conhecido com o nome de código de Bravo. A tecnologia nuclear já não era algo de novo e, assim, nesta ocasião respirava-se confiança entre os participantes na missão; no entanto, neste caso a confiança foi inevitavelmente a antecâmara do erro. A quantidade de radiação emitida foi sensivelmente maior que a esperada e, se as provas anteriores já tinham afetado a ilha, a Operação Castle converteu-a num verdadeiro cemitério nuclear em que foram registradas leituras que ultrapassavam os 100 rad por hora.
A 1º de Março de 1954, e devido a um inexplicável erro de cálculo, as 3 megatoneladas previstas converteram-se em 1512. A bomba explodiu com muitíssimo mais potência do que o previsto, espalhando-se rapidamente uma chuva de radiação que se expandiu a 300 quilômetros em redor, cobrindo uma área de oito mil quilômetros quadrados. A ofuscante bola de fogo produziu um cogumelo de 25 quilômetros de altura que aspirou com uma força irresistível milhões de toneladas de areia, água, corais, plantas e fauna marinha, que foram pulverizados, radioativamente carregados e espargidos por todo o arquipélago. A explosão gerou um furacão artificial que arrancou pela raiz todas as árvores de Bikini. Toda a população das Marshall ficou afetada e houve até quem tivesse ficado queimado pelas cinzas radioativas. O povo exilado de Bikini tinha agora de sofrer na pele o mesmo que a sua terra natal já tinha experimentado. Os militares norte-americanos tão-pouco se libertaram dos efeitos da radiação.
NAÇÕES UNIDAS
O mais triste de toda a situação é que tudo isto ocorria com a cumplicidade das Nações Unidas que, em 1947, tinha qualificado a zona como de interesse estratégico, colocando-a sob a administração dos Estados Unidos, uma medida estranha que não tinha precedentes e que nunca mais voltou a ser tomada. Para além de outorgar autorização aos norte-americanos para fazer e desfazer a seu gosto o arquipélago, a resolução da ONU também impunha certas obrigações aos administradores, como “promover o desenvolvimento econômico e a auto-suficiência dos habitantes” e “proteger os habitantes contra a possível perda das suas terras e recursos”.