segunda-feira, 29 de junho de 2009

A verdadeira história do pré-sal

A verdadeira história do pré-sal

Diretor da Aepet responde com fatos, dados e datas, as distorções que têm sido publicadas sobre a grande descoberta da Petrobrás, realizada apesar da ANP e dos ataques de Fernando Henrique.
A referência inicial é ao texto de Adriano Pires, publicado pelo Jornal O Estado de São Paulo em 08/06JOÃO VICTOR CAMPOSO autor, como é próprio dos lobistas de plantão, procura induzir o leitor a acreditar que a descoberta de petróleo do pré-sal, surgiu em decorrência da promulgação da Lei 9.478/97, no governo do ex-presidente FHC, a qual “flexibilizou” o monopólio estatal e criou a ANP (Agência Nacional do Petróleo). Ele divide a história do pré-sal em duas fases: antes e depois desta Lei.
Ele mostra completo desconhecimento de causa, pois logo no primeiro parágrafo de seu texto incorre em dois erros graves: dizer que “a primeira fase foi iniciada quando o monopólio foi concedido à Petrobrás” e que a Lei 2.004 data de 1952.Dois erros graves para quem se diz conhecedor da história do pré-sal, pois a Lei 2.004 que data de 03 de outubro de 1953, criou o monopólio estatal (ME) e incumbiu a Petrobrás de executá-lo. Portanto o monopólio pertenceu à União e não à Petrobrás.
Esta foi simplesmente a executora, e como tal, o fez brilhantemente.Monopólio Estatal de 1953 a 1997 – 44 anosA Petrobrás só foi instalada em 9 de maio de 1954, quando já existia produção de petróleo na Bacia do Recôncavo (provinda do Campo de Candeias, descoberto em 1941 pelo CNP - Conselho Nacional do Petróleo - e, posteriormente dos campos de Aratu, Itaparica e D. João). Todos os campos do Recôncavo, por ironia do destino, já produziam em reservatórios da chamada fase rifte, sendo que esse óleo foi gerado em camadas lacustrinas próprias desta fase, situados abaixo da discordância pré-aptiana regional.
Como exemplo, nas bacias costeiras, Margem Leste, citamos o maior campo de petróleo até hoje descoberto em terra no Brasil, o Campo de Carmópolis, em Sergipe, o qual produz de reservatórios situados na seção do pré-sal. Ele foi descoberto em 1963, portanto durante a vigência do monopólio estatal. Recentemente, informação não oficial, dá conta que no aprofundamento de um poço deste campo, foi detectada a 700 metros de profundidade, a presença de microbiolitos, reservatório característico do pré-sal, presente na Bacia de Santos, em todos os poços perfurados no “cluster”, núcleo central da nova província.
O petróleo que ocorre nas bacias cretáceas costeiras da Margem Leste, tanto na parte emersa como na imersa, na seção pré-sal ou na pós-sal, tem gerador do Tipo I, i.e. são rochas depositadas em ambiente lacustrino, o que vem a indicar sua origem continental, portanto abaixo da espessa camada de sal que se formou durante a separação dos continentes africano e sul-americano.Pode-se dizer que no Brasil não temos gerador(es) do Tipo II, i.e. de origem marinha.
Apenas alguns traços deste tipo de gerador foram detectados nos campos de Cangoá e Peroá, na Bacia do Espírito Santo.Assim, pode-se inferir facilmente o caminhar da exploração mar adentro, na perspectiva de se encontrar campos cada vez mais promissores. Já se sabia que o gerador era bem mais profundo. A Petrobrás, através do seu corpo técnico, sempre demonstrou estar alerta para isso.Durante mais de 30 anos, desde a descoberta do Campo de Garoupa, em 1974, na Bacia de Campos, em lâmina d‘água de -100 metros, a Petrobrás buscou essa província do pré-sal. Um importante fator que concorreu para a demora na descoberta do pré-sal, está condicionado à evolução da sísmica de reflexão e, principalmente, das dificuldades tecnológicas advindas da perfuração tanto em lâminas d‘água ultra-profundas como em função da espessa camada salífera a ser atravessada. Para exemplificar, o Campo de Roncador, na Bacia de Campos, cujo poço pioneiro situava-se em lâmina d‘água de -1.854 m, só veio a ser perfurado em 1996.
FlexibilizaçãoO anúncio feito pelo governo FHC, em 1995, de que iria “flexibilizar” o monopólio estatal e criar a agência reguladora, levou o corpo técnico da Petrobrás a trabalhar intensamente na seleção das melhores áreas durante os dois anos seguintes, na premissa de requerer as melhores áreas para exploração, direta ou em parceria, com outras empresas. A ANP foi instalada em 19 de janeiro de 1998.A Lei 9.478 de 6 de agosto de 1997, determinou que a Petrobrás deveria submeter à ANP seu programa de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo, o qual foi entregue ao Ministério de Minas e Energia (MME) em 15 de outubro de 1997 na forma de 391 relatórios, sendo 133 para áreas de exploração, 52 para áreas em desenvolvimento e 206 relativos a áreas em produção.
As 133 áreas (ou blocos) de exploração requisitadas pela Petrobrás estavam distribuídas em 21 das 29 bacias sedimentares terrestres e marítimas brasileiras e consistiam, entre outros, na perfuração de 246 poços em prospectos já definidos pela sísmica. A Lei 9.478 estipulou o prazo de um ano para que a ANP avaliasse esse programa e outorgasse contratos de concessão para as áreas em que a empresa tivesse satisfeito os requisitos legais.Na Bacia de Santos, a Petrobrás requisitou 8 blocos, sendo que no Bloco BS-300, para exploração direta, já havia um prospecto definido na sua parte sudoeste, que visava testar um proeminente alto estrutural, com mais de 1.000 km2 de fechamento estrutural, interpretado como seção rifte (pré-sal). Ressalte-se que, nesta época (1997), a equipe técnica da Petrobrás já vislumbrava o alto potencial exploratório da área, inclusive a análise econômica do prospecto indicava a possibilidade de se encontrar expressivos volumes de hidrocarbonetos.
A perfuração permitiria também obter informações sobre a(s) rocha(s) geradora(s) ainda não amostradas na bacia.A exploração do Bloco BS-300 era uma proposta ousada, tanto em termos de lâmina d‘água (mais de 2.000 m) como pela oportunidade de se conhecer convenientemente a seção rifte da bacia, após atravessar quase 2.000 m de seção evaporítica. Era uma nova fronteira exploratória e um grande desafio tecnológico.A análise técnico – econômica do Bloco ANP BS-300, que possibilitou as referências acima descritas, foi entregue ao MME em 15 de outubro de 1997, constituindo o processo No. 48000.003575/97, portanto antes da criação da ANP.Na chamada “Rodada Zero” da ANP, consolidada em agosto de 1998, ficou definida a participação da Petrobrás no novo cenário criado após a promulgação da Lei 9.478/97.
A partir dos relatórios de análise dos blocos feitos pela UFBA (Universidade Federal da Bahia), com a participação de consultores contratados, foram assinados os Contratos de Concessão entre a ANP e a Petrobrás, sobre 115 blocos dos 133 originalmente requeridos. A área da Bacia de Santos que ficou posteriormente conhecida como “cluster”, abrangia o Bloco BS-300 e não fora incluída na “Rodada Zero” pela ANP, desconhecendo-se as razões para justificar esse procedimento. Já na 2ª Rodada de Licitações, no ano 2000, no entanto, a ANP oferecia em leilão os blocos BM-S-7, 8, 9, 10 e 11, sendo que, com exceção do BM-S-7, os demais constituíam o antigo Bloco BS-300.
Conhecimento Conhecedora do potencial da área, a Petrobrás, em parceria com outras empresas, arrematou todos os blocos oferecidos naquela licitação, sendo que apenas no Bloco BM-S-7 a Petrobrás não era a operadora. No Bloco BM-S-10 se situava a locação que a empresa havia proposto quando requereu o antigo Bloco BS-300, em 1997. Portanto, antes da criação da ANP. A perfuração desta locação redundou na descoberta do pré-sal, no prospecto que foi denominada Paraty.
A Petrobrás levou cinco anos estudando a tecnologia necessária para essa descoberta, ocorrida em 2006. A perfuração durou um ano, ao custo total de US$ 260 milhões. Que outra companhia teria a coragem de efetuar tal proeza? Se não aquela que tinha conhecimento de causa? E sabia o que queria?Alguém ainda acha que foi a criação da ANP que resultou na descoberta do pré-sal? E os outros 245 prospectos requeridos pela Petrobrás? Que fim levaram?Só se for o FHC, que teve a petulância de escrever um artigo no dia 7 de setembro de 2008, publicado no Jornal O Globo, outorgando a si este mérito, com a criação por ele, da ANP.
Esqueceu de dizer no artigo, de seus compromissos assumidos com o Diálogo Interamericano, em diversas reuniões que compareceu desde 1982 e na última em março deste ano, na qualidade de Diretor. Estes compromissos com o “Diálogo”, que usava o FMI – Fundo Monetário Internacional – como executor, o levaram a quebrar o Monopólio Estatal do Petróleo, vender 36% das ações da Petrobrás na Bolsa de Nova York por menos de 10% do seu valor real e tentar desnacionalizar a empresa, visando a sua privatização.
*é diretor da AEPET. Este texto foi publicado no Correio da Cidadania (24/06/09).

A resistência cultural palestina

EMIR SADER*

Uma ocupação colonial não é apenas uma ocupação militar. Ela precisa tentar impedir a sobrevivência da cultura, da memória do povo ocupado. Mais ainda quando se trata da ocupação de um povo com uma das mais antigas histórias e mais ricas culturas.Como era impossível que a Capital da Cultura Árabe pudesse ser Bagdá, pela ocupação das tropas norte-americanas, foi decidido que Jerusalém (que eles chamam de Al-Quds) fosse a Capital da Cultura Árabe de 2009. As comemorações têm sido vitimas das mais violentas e odiosas repressões das tropas israelenses de ocupação.
Organizar lindas atividades em torno da cultura árabe passaram a ser um imenso desafio para o Comitê Palestino de Organização, por dificuldades de recursos, de convidar pessoas – poetas, músicos, cantores, artistas do mundo árabe e de outras regiões do mundo - para vir a uma região cercada e ocupada, que deveriam realizar-se nas ruas e praças de Jerusalém.
O ato de apresentação do logotipo dos eventos, programada para ser dar no Teatro Nacional de Jerusalém, em abril do ano passado, foi proibida por Israel, declarado ilegal e reprimido brutalmente por forças militares para tentar impedir sua realização. Foram presos três dos membros do grupo organizador.Apesar de todas as dificuldades, deu-se inicio às comemorações no dia 21 de março deste ano, com atividades populares nas ruas de Jerusalém, que terminaram com uma noite de fala em Bethlehem.
Israel enviou tropas contra crianças que carregavam balões com as cores da bandeira palestina – vermelhas, brancas, verdes e pretas. As tropas de ocupação atacaram os jovens que iam realizar danças tradicionais palestinas, com suas roupas típicas, produzindo cenas de pânico e desespero.
Como reação, todas as escolas, universidades, centros culturais, prefeituras de dentro ou de fora da Palestina, decidiram assumir a celebração organizando atividades sobre a bandeira e o logotipo de Jerusalém Capital da Cultura Árabe de 2009.
Centenas de eventos aconteceram em muitos países como mostra de solidariedade e de protesto contra a repressão israelense. Fica claro, cada vez mais, que não se trata da ocupação e da ação militar contra “forças terroristas”, como alegam os ocupantes, mas contra a resistência da cultura palestina.
Os palestinos adotaram o lema: “Jerusalém nos une e não deve dividir-nos”, reforçando a necessidade de união de todos os palestinos para derrotar a ocupação e pela conquista do direito de um Estado palestino, reconhecido pelas Nações Unidas, mas impedida pelos EUA e por Israel.
“Uma vez liberada, Jerusalém não será apenas a inquestionável capital da cultura árabe, mas será a cidade da diversidade cultural e religiosa, da tolerância e do respeito pelos outros. Uma cidade aberta para a paz cujos tesouros históricos e religiosos serão desfrutados por todos, do leste e do oeste.
O único muro que a cercará será o muro histórico de sua Cidade Velha e suas 12 portas, incluindo a Porta de Ouro, que uma vez aberta, levará todos os povos do bem para o céu.”As palavras são de Ragiq Husseini, presidente do Conselho Administrativo do Comitê Nacional pela Celebração de Jerusalém como Capital da Cultura Arabe em 2009.
Estar aqui, chegar a Ramallah revela, com toda força, como este é um território ocupado, cruzado por muros que dividem aos próprios palestinos, povoado de tropas e de carros militares, submetendo a este heróico povo à ocupação, à opressão, à humilhação, na mais grave situação de violação dos direitos humanos – políticos, sociais, econômicos, culturais – no mundo de hoje.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

Escândalos de prateleira

LUIS NASSIF (*)
Já escrevi algumas vezes sobre o modelo político-midiático brasileiro. Esse episódio do Senado vem apenas comprovar.
Tem-se um escândalo de 14 anos. Nesse período todo, o Senado foi coberto diariamente por jornalistas especializados dos principais jornais. Segundo o Estadão de hoje, os atos secretos beneficiaram 37 senadores, entre os quais o Pedro Simon, Demóstenes Torres, além de Renan, Sarney e companheiros, Delcídio e Augusto Botelho, do PT.
Esses episódios, além dos esquemas de terceirizações da casa (a propósito, investiguem como são as terceirizações em todos os grandes órgãos públicos federais e estaduais) são velhos conhecidos dos jornalistas.
Mas ficam pendentes, não são usados enquanto não têm utilidade. Quando interessa ao jogo político da mídia, vai-se na gôndola do Supermercado de Escândalos e saca-se aquele que melhor se adequa ao momento. Neste caso específico, o objetivo evidente não é o de moralizar a casa, caso contrário não teriam deixado passar em branco 14 anos de irregularidades: é desestabilizar politicamente o país.
Significa que Sarney deve ser poupado? Longe disso. Mas ele foi atacado pela Polícia Federal ligada a José Serra na Operação que flagrou os recursos de campanha de Roseana Sarney - porque interessava à candidatura Serra. Depois, poupado do escândalo Cemar, porque na outra ponta os beneficiários eram grandes fundos de investimento. Foi inicialmente poupado no caso Gautama, porque naquele momento atirar nele não interessava a ninguém. Está sendo atacado de todas as formas agora, inclusive pelo caso Gautama, porque interessa à candidatura Serra.
Não interessa discutir mudanças radicais que eliminem de vez essas aberrações e essa falta de controle.Esses escândalos reiterados são a pulguinha no umbigo do fazendeiro (lembrando a história do médico que formou o filho graças à pulguinha que atormentava o fazendeiro, seu cliente e que, por isso mesmo, não poderia ser morta).
São características que fortalecem a mídia, que lhes dá poder. Essas aberrações institucionais permitem ao editor escolher o caso que quiser, escândalo grande, pequeno ou factóide, e dar-lhe o tratamento que desejar. E, como disse o diretor de redação do Estadão, a edição é um dos pressupostos da liberdade de imprensa.
Se submetida à mesma lente, por exemplo, não escaparia a Assembleia Legislativa de São Paulo, a Câmara de Vereadores, os serviços terceirizados. E, provavelmente, de nenhum outro estado. Mas são escândalos potenciais, que ficam na gôndola aguardando o momento que mais interessar ao jornal. Ou, como uma espada de Dâmocles sobre os governantes, tornando-os mais permeáveis, por exemplo, à venda de publicações pagas com as verbas da Educação - o novo grande veio descoberto pelos grandes grupos de mídia.
Evidentemente não tem santo nessa história. Mas, se tivesse que colocar alguma hierarquia, não incluiria os senadores no início da fila.
(*) Extraído do blog do jornalista

A mídia oligárquica contra as revoluções

*Joaquín Rivery Tur

A estrela do Oriente não ilumina ninguém. Escurece o meio. Prepara um golpe cívico em Santa Cruz de la Sierra com os jornais também reacionários El Deber e El Mundo, que formam a poderosa trilogia dos jornais dessa cidade do leste boliviano nos infrutuosos empenhos da oligarquia para derrubar o governo de Evo Morales.
São guiados pelo egoísmo e ambições sem limites, e se ainda não conseguiram seus objetivos não é por falta de tentativas e manobras, mas Evo Morales e seu Movimento ao Socialismo (MAS) são um osso duro de roer e seus ricos inimigos estão se quebrando os dentes.
O grande aliado dos jornais é a televisão. Entre os quatro, os comícios não tão concorridos e o uso de grupos de assalto da União Juvenil Cruzenha, organização fascista, tentam vencer a grande massa que votou em Evo, ao passo que as bandas atacam aos partidários do MAS para colaborar com o terror.
O primeiro governo indígena da história de Bolívia está sob o ataque constante da mídia oligárquica, que publica mentiras abertas, semi-verdades manipuladas, enquanto oculta a grande tarefa que realiza o governo do MAS.
Nunca mencionam que, graças a esta administração humilde, a Bolívia se tornou o terceiro país alfabetizado da América Latina, que os recursos naturais agora são propriedade da nação, que foram modificados todos os contratos com as empresas petroleiras estrangeiras, que se entregaram milhões de hectares de terra a camponeses e indígenas, que se impulsionou a educação, que se fortalece a saúde para os pobres e é garantida aos idosos uma pensão mínima para sobreviverem em meio a uma crise internacional de terror.
Não só os bolivianos sofrem as consequências das campanhas midiáticas em defesa das grandes empresas nacionais e transnacionais. Antes que eles, também a padeceu a Revolução Bolivariana, liderada por Hugo Chávez.
Na Venezuela, a mídia, fundamentalmente um grupo de televisoras e jornais dos grandes empresários, apoiou abertamente o fugaz golpe de Estado de 2002 e, depois, nem sequer informou das barbaridades fascistas cometidas pelos que perpetraram o golpe, deturpou a realidade e atacou constantemente o governo bolivariano.
As grandes emissoras de televisão sempre estiveram à frente, amiúde, violando as leis. Mas os revolucionários não ficaram de braços cruzados. No ano passado, Radio Caracas Televisión (RCTV), uma das mais raivosas nos ataques contra Chávez, quem é chamado de ditador, como Evo Morales na Bolívia e Rafael Correa no Equador, teve que enfrentar a caducidade da licença de transmissão aberta, não renovada, pelo qual teve que passar à
TV a cabo, com igual veneno, só que com menos alcance.
Globovisión, emissora dedicada a transmitir notícias, a mais reaça contra Chávez, foi advertida há muito de que não pode divulgar notícias de fatos baseados em conjeturas, pois isso vai contra a lei.
Também seus diretivos acreditaram que continuar ativos lançando insultos contra o presidente e suas políticas sob a inútil "proteção" da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP, entidade de proprietários de grandes jornais), das cruzadas internacionais sob falsas restrições e até da OEA, permitia-lhes cometer qualquer infração das leis vigentes, e foram pegos em delito tão graves como a sonegação de impostos, além de quatro processos judiciais contra eles, por diversas razões.
Os mesmos problemas e as mesmas acusações de querer eliminar a liberdade de imprensa, que ninguém pratica no capitalismo, são encarados no Equador pelo presidente Rafael Correa, que sofre os ataques da imprensa oligárquica por redistribuir um pouco mais a riqueza a favor dos pobres.
Atualmente, a emissora Teleamazonas é processada por incluir conteúdos impróprios em horários proibidos, por divulgar informação sem fundamento e instigar a manifestações populares com notícias falsas.
Desatou-se uma longa campanha de acusações contra o governo para tentar eliminar a liberdade de imprensa, como já fizeram na Venezuela e Bolívia, com qualquer medida adotada nesse respeito.
O presidente do Conselho Nacional de Radiodifusão e Televisão (Conartel), Antonio García, declarou que "não vamos ceder às pressões e vamos continuar aplicando de maneira responsável e legal a lei, como estabelece a Constituição com aqueles meios que merecem ser investigados ou processados".
Curiosamente, um comentário de um leitor publicado no jornal El Comércio, afirma: "No Equador, não esta plenamente vigente a liberdade de expressão, mas a liberdade de emprensa, já que os que controlam e têm acesso majoritário aos meios de comunicação são grupos de poder econômico, religioso e governos de turno".
As posições são firmes, mas o vice-presidente, Lenin Moreno, pediu tolerância, em declarações para a mesma Teleamazonas, e advogou por uma sanção não muito severa ao canal.
Mas antes, o presidente Correa havia exposto no seu programa semanal de rádio e televisão que, no caso da Teleamazonas, "estamos aplicando as leis frente à imprensa irresponsável que publica mentiras", e num comunicado oficial mais recente insistiu: "O velho poder derrubado entrincheirou-se nalgumas empresas de comunicação privadas para, a patir da ilegitimidade dos poderes fáticos, tentar prejudicar um governo e a verdadeira representação popular."
Mentiras: a arma preferida das oligarquias e dos Estados Unidos para aplicarem suas políticas injustificadas. Jornais e televisoras esconderam sempre os avanços dos países com governos progressistas, mas divulgarão as mais horrendas invenções contra eles.
Agora lançaram a campanha contra a Venezuela de que os pais perderão o pátrio poder.
A mesma atrocidade foi utilizada contra Cuba há décadas por meio da Operação Peter Pan, que afastou 14 mil crianças de seus pais, porque não podemos esquecer que a Revolução Cubana leva 50 anos lutando contra as macabras fantasias "anticomunistas" de Washington e contra seu grande sistema de meios de comunicação que abrange o mundo inteiro.
E sempre deu em nada. Portanto, não há razão para esperar que nesta ocasião consigam o seu objetivo. Vão perder outra vez em todos os países revolucionários, que cada vez são mais.

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Cronologia da agressão à Coreia Popular

Vejamos o desenvolvimento cronológico dos fatos acima citados:
A RPDC retornou às negociações em 11 de junho de 1993. Estas incluíam o compromisso dos EUA de não ameaçarem a RPDC com o uso de bombas nucleares. Elas avançam com a eleição de Bill Clinton que assina acordo no qual os EUA se comprometem a enviar petróleo combustível e reatores nucleares de água leve, cujo combustível não é utilizável para a produção de bombas, para suprir energia à Coreia em substituição ao fechamento de seus reatores.
A RPDC inicia o desmonte de seus reatores, mas os EUA não cumprem sua parte no acordo, situação que se agrava com a posse de W. Bush, que inicia uma cruzada por sanções e intensifica exercícios militares na fronteira entre as Coréias.
Em agosto de 2002, mesmo diante das hostilidades, a RPDC declara que “caso demonstrem a vontade de abrir mão de sua política hostil a RPDC irá ao diálogo, a bola está no campo dos EUA”. São declarações proferidas mesmo depois de Bush ter incluído o país no seu rol de integrantes do “eixo do mal” (janeiro de 2002).
Diante da recusa do governo dos EUA de entregar o petróleo acordado em troca do fechamento de seus reatores, a RPDC anuncia que retomará a atividade dos mesmos para a produção de energia elétrica. É o bastante para a Agência Internacional de Energia Atômica tirar resoluções “deplorando” o país, o que é utilizado para aumentar a pressão sobre a RPDC e aliciamento de outros países – por parte dos EUA – para tentar gerar o estrangulamento econômico da Coréia Popular.
Finalmente, em 10 de janeiro de 2003 a RPDC anuncia mais uma vez sua retirada do TNP e efetiva a saída no dia seguinte, 11 de janeiro. Como vimos, a RPDC afirma que cumpriu o prazo requerido de 90 dias (89 + 1).
O Conselho de Segurança desconhece o direito da RPDC de considerar o prazo regular tomando a soma dos dois momentos em que solicitou seu desligamento do tratado, mesmo diante do fato de que as ameaças, provocações, exercícios militares não só continuaram – apesar de todos os esforços da Coréia Popular para o diálogo – como recrudesceram no período que vai de um a outro pedido de afastamento.
As declarações da RPDC, ao se retirar do TNP em 2003, deixam claro a justeza de sua decisão: “Os Estados Unidos violaram de forma sistemática o acordo RPDC-EUA, criaram outra ‘suspeita nuclear’ para deter o suprimento de petróleo, reduzindo o acordo com a RPDC a letra morta. OS EUA também responderam à proposta sincera da RPDC de conclusão do tratado de não-agressão e a seus pacientes esforços por negociações com ameaças tais como ‘bloqueio’ e ‘punição militar’, tornando-as impossíveis.
A retirada do tratado é uma medida legítima de autodefesa contra o movimento dos EUA para agredir a RPDC e o comportamento injustificado da AIEA que segue a orientação norte-americana”.
Além do mais, basear os hostis artigos da citada resolução – verdadeira declaração de guerra – em uma discussão bizantina sobre cumprimento de prazos por parte de um país sob crescente ameaça da maior potência militar e nuclear do mundo só demonstra a hostilidade contra o comportamento de uma nação territorialmente pequena, mas grande em sua determinação de garantir sua soberania. .

Quem é quem na política iraniana

M.K. BHADRAKUMAR*


“A oposição cenográfica dos habitantes dos bairros ricos de Teerã cumpriu o papel de acrescentar cor, óculos ‘de griffe’ e hinos pró-mercado à campanha de Mousavi. Tido com reformador e progressista, Mousavi jamais foi nem uma coisa nem outra”, diz o indiano M.K. Bhadrakumar
A política iraniana nunca é fácil de decifrar. A agitação criada em torno do resultado das eleições presidenciais da 6ª-feira passada intrigou muitos dos sempre presentes jornalistas e analistas autoproclamados decifradores bem informados dos códigos políticos iranianos. Tanto se escreveu sobre tantas pistas falsas que, hoje, já ninguém parece saber quem é quem na disputa política no Irã, e o que mais interessa a cada um.
O grande vitorioso foi o Líder Supremo, o Aiatolá Ali Khamenei; esse, sim, alcançou vitória retumbante. A ‘eminência parda’ da política iraniana, Akbar Hashemi Rafsanjani, é o perdedor, obrigado agora a lidar com os efeitos de uma acachapante derrota.Resta saber se, afinal, estará caindo a cortina, depois de encerrado o último ato da tumultuada carreira do “Tubarão” –, apelido que ‘colou’ em Rafsanjani, desde o tempo em que nadava no poço sem fundo de intrigas que é o Parlamento ( Majlis) iraniano. Naquele poço, Rafasanjani acostumou-se a nadar sem qualquer restrição, como predador político e como deputado porta-voz da Revolução Iraniana, desde os primeiros dias.
Com a enormíssima porcentagem de 64% dos votos, o presidente Mahmud Ahmedinejad venceu as eleições em 2009. E é difícil resistir à tentação de escrever que, como a grande baleia de Herman Melville em Moby Dick – a força, a fúria, a premeditação e a maldade –, Rafsanjani foi profundamente ferido pelo arpão eleitoral; e resta-lhe agora afundar, o mais silenciosamente possível, rumo ao esquecimento, no oceano da política iraniana. Isso, é claro, se a política iraniana fosse facilmente previsível; mas não é.
O governo do presidente Barack Obama nos EUA parece ter conseguido adivinhar o que viria, ou interpretou corretamente o significado alegórico da eleição iraniana; seja como for, antecipou-se ao terremoto que viria, desencadeado pelo vingancismo de Rafsanjani-Mousavi; e fez o melhor que havia a ser feito: manteve-se à distância, cuidadosamente afastado das eleições iranianas, resultados, protestos. Começa agora a parte mais difícil, para Obama: seduzir o Conselho dos Anciãos que Khamenei preside como monarca quase absoluto.
Primeiro, um ‘abecedário’ das eleições.
Quem é Mir Hossein Mousavi, principal adversário que Ahmedinejad derrotou nas eleições? É um enigma, travestido em mistérios. Impressionou a juventude e as classes médias urbanas como reformador e progressista. Jamais foi nem uma coisa nem outra.
Como primeiro-ministro iraniano, de 1981 a 1989, Mousavi jamais passou de político linha-dura, sem qualquer refinamento político. Estranhamente, a campanha eleitoral caríssima e over high-tech pôs em circulação outro Mousavi, que ninguém jamais vira antes, no Irã: como se o personagem tivesse sido desmontado peça a peça e, depois, se tivesse remontado, ele mesmo, para outras finalidades operacionais.
Para avaliar a mudança, basta ler as declarações de Mousavi, em 1981, depois da ‘crise dos reféns’ (como ficou conhecido o cerco de 444 dias à embaixada norte-americana em Teerã, quando estudantes, da jovem guarda revolucionária iraniana mantiveram presos, no prédio da embaixada, os diplomatas norte-americanos): “Foi o começo do segundo estágio da revolução islâmica. Depois da tomada da embaixada dos EUA descobrimos nossa verdadeira identidade islâmica. Depois daquela ação, sentimos que podíamos enfrentar cara à cara a política ocidental e analisá-la com a frieza com que o ocidente sempre nos analisou e avaliou ao longo de muitos anos.”
Há quem diga que Mousavi também participou da organização e criação do Hizbollah no Líbano. Ali Akbar Mohtashami, mártir reverenciado pelo Hizbollah, foi ministro do Interior no governo de Mousavi nos anos 80. Mousavi também teve participação no ‘affair’ conhecido como “Irangate” em 1985. O caso conhecido como “Irangate” foi negócio costurado pelo governo Ronald Reagan, no qual os EUA forneceriam armas ao Irã; em troca, Teerã trabalharia para obter que o Hizbollah liberasse os reféns presos em Beirute.
Ironia é que, naqueles idos dos anos 80s, Mousavi aparecia como perfeita antítese de Rafsanjani; aliás, o primeiro ato de Rafsanjani, quando afinal assumiu a presidência em 1989, foi demitir Mousavi. Rafsanjani não perderia nem um segundo de tempo, com os delírios “antiocidentais” de Mousavi, ou com suas manifestações de rejeição visceral ao ‘mercado’.
A plataforma eleitoral de Mousavi foi uma estranhíssima mistura de políticas contraditórias e interesses ocultados mas muito claramente dirigidos para uma única meta, como uma espécie de obscessão maníaca: retirar poderes da presidência da República, no Irã.
Por isso conseguiu reunir autoproclamados ‘reformistas’ que apoiavam o ex-presidente Mohammad Khatami, e, também as alas mais ultraconservadoras do regime. Rafsanjani é o único político iraniano capaz de reunir grupos tão completamente diferentes; e sempre trabalhou ao lado de Khatami para fazer diminuir os poderes da presidência da República.
Se se deixa de lado a ‘oposição’ cenográfica feita pelos habitantes dos bairros ricos de Teerã (“multidão Gucci”, como se disse em Teerã), que cumpriu o papel de acrescentar cor, maquiagem, óculos ‘de griffe’ e hinos pró-mercado à campanha de Mousavi, o núcleo duro de sua plataforma política foram poderosos interesses que, nessa eleição, fizeram sua derradeira tentativa para derrubar o regime liderado pelo Aiatolá Khamenei.
Por outro lado, esses grupos de interesse sempre se opuseram furiosamente às políticas econômicas implantadas durante a presidência de Ahmadinejad, políticas que ameaçaram o controle que aqueles grupos sempre tiveram sobre setores-chave da economia, como comércio internacional, educação privada, propriedade da terra e produção agrícola.
Para quem conheça melhor o Irã, basta dizer que a família (clânica) Rafsanjani é proprietária de vários impérios financeiros no Irã, empresas de exportação-importação, latifúndios e da maior rede de universidades privadas do país. O grupo, conhecido como “Azad” tem mais de 300 universidades espalhadas pelo Irã; não são unidades produtoras apenas de pensamento ‘privatista’, também chamado ‘neoliberal’; também serviram como importante instrumento de propaganda da candidatura Mousavi: no total, foram cerca de 3 milhões de estudantes ativistas anti-Ahmadinejad, organizados nas universidades da família Rafsanjani.
As universidades do grupo “Azad” e grupos associados foram a espinha dorsal da campanha de Mousavi nas províncias. A ideia geral foi mobilizar os estudantes das universidades do grupo “Azad” para levar a campanha até os mais pobres nas provínciais e ‘desmontar’ as bases consideradas chave para a reeleição do presidente Ahmadinejad.
Rafsanjani é político cujo estilo sempre o levou a construir redes extensas em praticamente todos os escalões da estrutura do poder, com especial atenção a corpos político-administrativos como o Conselho de Guardiães, o “Expediency Council”, os clérigos Qom, o Parlamento, os tribunais, a burocracia, o bazar e, até, com elementos infiltrados nos grupos mais próximos de Khamenei. Construídas suas redes, Rafsanjani põe-se a jogar com esses bolsões de influência.
O eixo Rafsanjani e Khatami foi a base da plataforma política de Mousavi, que reuniu reformistas e conservadores. Tudo estava preparado para levar a eleição para um segundo turno, dia 19/6, com o Irã, sim, já completamente dividido ao meio. A candidatura do ex-comandante do Corpo de Guardas Revolucionários Iranianos [ing. Iranian Revolutionary Guards Corps, IRGC] foi incluída na disputa para arrancar uma fatia de votos dos mais conservadores.
Esperava-se também que o programa “reformista” do quarto candidato, Mehdi Karrubi, contribuísse para arrancar votos de Ahmedinejad, mediante a propaganda de políticas econômicas de justiça social, como o programa imensamente popular de distribuição da renda do petróleo entre os cidadãos, em vez de esses lucros serem acrescentados diretamente no orçamento do governo.
O plano de Rafsanjani visava, de certo modo, a levar a eleição para fora da disputa eleitoral; esperava-se que Mousavi capitalizasse todos os votos ‘anti- Ahmedinejad’ – estimando-se que Ahmedinejad teria, no primeiro turno, 10-12 milhões dos 28-30 milhões de votos (de um total de 46,2 milhões de eleitores). Por esses cálculos – mas só se houvesse 2º turno – Mousavi seria o grande beneficiário, se os votos para Rezai e Karrubi fossem essencialmente votos ‘anti-Ahmadinejad’.
O regime já estava bastante envolvido na campanha eleitoral, quando afinal percebeu que, por trás do clamor por ‘mudanças’, Rafsanjani trabalhava, de fato, contra, sobretudo, a liderança de Khamenei; a batalha eleitoral não passava de simulacro e pretexto.
De fato, a luta entre Rafsanjani e Khamenei tem longa história, desde o final dos anos 80; e foi, então, vencida por Khamenei, que assumiu a liderança em 1989.Rafsanjani foi um dos indicados pelo Imam Khomeini para o primeiro Conselho da Revolução Islâmica; Khamenei chegou bem depois, quando o Conselho aumentou o número de membros. Por isso, Rafsanjani sempre cultivou um ressentimento; sempre entendeu que Khamenei usurpou o lugar que seria seu, como Líder Supremo. O establishment clerical mais próximo de Rafsanjani difundiu a ideia de que Khamenei não teria as credenciais religiosas necessárias; que seria indeciso; e que o processo eleitoral seria questionável, o que gerou dúvidas sobre a legalidade do poder de Khamenei.
Clérigos de prestígio, estimulados por Rafsanjani, insistiram na ideia de que o Líder Supremo não seria apenas autoridade religiosa ( mujtahid), mas deveria ser também fonte de emulação e proselitismo (marja ou um mujtahid com ‘adeptos’, seguidores religiosos) e que Khamenei não satisfaria esse requisito; mas Rafsanjani, sim.
Os ataques contra Khamenei passaram a ser construídos a partir do argumento, vil sob vários aspectos, de que sua educação religiosa não seria satisfatória. O trabalho de desconstrução, pelos clérigos ligados a Rafsanjani, continuaram até os primeiros anos da década de 90. Então, Khamenei escolheu recolher-se e permaneceu recolhido, consciente de que estava sob cerco, durante os anos em que Rafsanjani ocupou a presidência (1989-1997).
Resultado disso, Rafsanjani foi o presidente que mais poder teve, em todos os tempos, em Teerã. Mas enquanto isso, Khamenei, recolhido, também construía novos poderes. Se não tinha prestígio entre a elite do establishment clerical iraniano, cuidou de atrair para seu lado o establishment da segurança, sobretudo o ministro da Inteligência, os Guardas Islâmicos Revolucionários e as milícias Basij.
Enquanto Rafsanjani mais e mais se envolvia com os clérigos e com o ‘mercado’, Khamenei procurou apoio num grupo de jovens políticos brilhantes, com experiência de organização e de luta, e que estavam voltando ao Irã depois da guerra Irã-Iraque; por exemplo, Ali Larijani, atual líder do governo no Parlamento; Said Jalili, atual secretário do Conselho de Segurança Nacional; Ezzatollah Zarghami, presidente da Rádio e Televisão Estatais; e, sim, também o próprio Ahmadinejad.
O poder político real começou a tender na direção de Khamenei, depois de ele ter atraído para seu campo os Guardas Revolucionários e as milícias Basij. Quando o mandato presidencial de Rafsanjani chegou ao fim, Khamenei já comandava os três principais braços do poder governamental e toda a mídia estatal; já era comandante-em-chefe das Forças Armadas e, também, de várias instituições estatais, como a “Imam Reza Shrine” ou a “Fundação pelos Oprimidos”, máquinas praticamente ilimitadas para gerar apoios políticos.
Hoje, toda a estrutura de poder assumiu a forma de um complexo aparelho de liderança patriarcal. Analistas bem informados e sensíveis anotaram, com precisão, que Ahmadinejad não teria qualquer interesse pessoal ou eleitoral que justificasse atacar diretamente Rafsanjani, durante o debate do dia 4/6, em Teerã, com Mousavi. O ataque a Rafsanjani não foi ataque eleitoral: foi ataque em disputa política mais profunda.
Ahmadinejad disse, naquele debate: “Hoje, nesse debate, não enfrento apenas o Dr. Mousavi, nem ele está sozinho, aqui à minha frente. Aí estão três governos passados: do Dr. Mousavi, do Dr. Khatami e do Dr. Rafsanjani, todos reunidos contra a minha presidência e o desejo dos eleitores iranianos.” Mirou e atirou diretamente contra Rafsanjani, acusando-o de organizar golpe contra as eleições. Disse que Rafsanjani prometera à Arábia Saudita que não haveria segundo governo de Ahmadinejad.
Rafsanjani respondeu fogo com fogo, dias depois, em carta a Khamenei, em que exigia que Ahmadinejad se retratasse, “para evitar que [Rafsanjani] fosse forçado a tomar medidas judiciais cabíveis”.
“Espero que o senhor resolva esse impasse, e apague o fogo, cuja fumaça já se vê de longe; e que evite desdobramentos perigosos. Mesmo que eu estivesse disposto a relevar esse tipo de agressão, não duvide de que há gente, partidos, grupos, facções, que não a relevariam” – Rafsanjani ameaçou Khamenei sem meias-palavras.Simultaneamente, Rafsanjani convocou toda a sua base clerical: uma claque de 14 altos clérigos reuniram-se em Qom, à volta dele.
Já foi ato de desespero, acionado por interesses ocultos que já sabiam do crescimento muito significativo dos movimentos dos Guardas Revolucionários, nos últimos anos. Mas, se Rafsanjani supusera que seria fácil criar um ‘motim’ entre os clérigos, e que isso ‘desequilibraria’ Khamenei... errou muito gravemente no cálculo do poder político em Teerã.
Khamenei fez o que de melhor poderia ter feito para esvaziar o ‘movimento’ golpista de Rafsanjani: Khamenei simplesmente ignorou o “Tubarão”.Dezenas de milhões de voluntários da Guarda Revolucionária e das milícias Basij foram rapidamente mobilizados para votar; somaram-se aos milhões de pobres das áreas rurais que se vêem manifestos em Ahmadinejad. Daí em diante, foi só esperar que se repetisse o que já acontecera nas eleições de 2005. O comparecimento às urnas – 85% dos eleitores votaram – foi o maior da história do Irã. Esse comparecimento às urnas, não qualquer tipo de ‘fraude’ eleitoral, determinou a vitória de Ahmadinejad, sem 2º turno; horas depois de anunciados os resultados, Khamenei aplaudiu o comparecimento dos eleitores às urnas, que, segundo suas palavras, mereceria “verdadeira celebração”.
Disse Khamenei: “Congratulo-me (...) com o povo iraniano por esse sucesso de todos. Todos temos muito o que agradecer, por tantas bênçãos recebidas”. Preveniu os jovens e “os que apoiam o candidato eleito e demais candidatos e apoiadores”, para que todos se mantivessem bem alertas, “para evitar os discursos e as ações de provocação.”
A mensagem de Khamenei a Rafsanjani foi bem clara: aceite a derrota e não volte a envolver-se em movimentos golpistas. Os resultados da eleição de 6ª-feira asseguram que a casa do Aiatolá Khamenei, Líder Supremo, continuará a ser o ponto focal do poder político no Irã. É o quartel-general do Presidente, das forças armadas iranianas e, sobretudo, dos Guardas Revolucionários. É fonte legítima do poder dos três braços do governo e é ponto nodal de todas as políticas econômicas, de segurança e de relações internacionais no Irã.
O presidente Barack Obama já deveria já estar pensando em construir caminho para aproximar-se (amistosamente, não beligerantemente, nem mediante sanções econômicas) e buscar vias de entendimento com o Aiatolá Khamenei. Difícil imaginar desafio maior e mais complexo.
*M. K. Bhadrakumar é diplomata de carreira do MRE indiano. Serviu na União Soviética, na Coreia do Sul, no Sri Lanka, na Alemanha, no Paquistão, Uzbequistão, Kuwait e Turquia.

BBC mente na cobertura de Teerã

BBC mente na cobertura de Teerã
A rede de notícias inglesa BBC apresentou em seu site imagens de manifestação a favor do presidente iraniano reeleito, Mahmoud Ahmadinejad, e informou que se tratava de protestos contra o governo e em favor do candidato derrotado Houssein Mousavi. A manipulação da BBC foi apontada pelo site norte-americano “What Really Happened”. A legenda da foto divulgada pela BBC afirma: “Partidários de Mir Hossein Mousavi desafiam novamente o veto a protestos”.
A imagem é facilmente confrontada com outra fotografia divulgada pelo jornal norte-americano “Los Angeles Times” em sua página na internet na quinta-feira, que apresenta o presidente iraniano saudando os apoiadores. Apesar disso, o LATimes colocou a legenda: “centenas de milhares protestam no Irã contra o resultado eleitoral”, mesmo com a presença de Ahmadinejad no primeiro plano da foto.
Denunciada a manipulação, a BBC alterou a legenda da foto em seu artigo original que agora afirma: “Teerã tem visto maciças manifestações dos dois lados desde a eleição”. Apesar de flagrantes desse tipo, o site da BBC mantém a seguinte definição a respeito dos seus “valores”: “Confiança é o alicerce da BBC: somos independentes, imparciais e honestos”.

Desdolarização: o desmantelamento do império financeiro-militar dos EUA


Além de evitar o financiamento tanto da compra da sua própria indústria pelos EUA como do cerco norte-americano ao globo, a China, a Rússia e outros países gostariam sem dúvida de obter a mesma espécie de “almoço gratuito” que a América tem obtido. Tal como a questão se lhes apresenta, veem os Estados Unidos como um país fora da lei, tanto financeira quanto militarmente. Como caracterizar de outra maneira um país que mantém um conjunto de leis para os outros – sobre guerra, reembolso de dívida e tratamento de prisioneiros – mas ignora-as em relação a si próprio?
MICHAEL HUDSON*
Aquilo que pode vir a demonstrar-se como os ritos finais da hegemonia americana começou em abril na conferência do G-20 e tornou-se ainda mais explícito no Fórum Econômico Internacional de S. Petersburgo, quando o sr. Medvedev apelou à China, Rússia e Índia para “construírem uma ordem mundial cada vez mais multipolar”. O que isto significa em bom inglês é: nós atingimos o nosso limite no subsídio ao cerco militar da Eurásia pelos Estados Unidos, enquanto permitimos também que os EUA se apropriem das nossas exportações, companhias, ações e patrimônio em troca de papel-dinheiro de valor discutível.
“O sistema unipolar mantido artificialmente”, esclareceu o sr. Medvedev, “está baseado sobre um grande centro de consumo, financiado por déficits crescentes, e, portanto, dívidas crescentes, uma moeda de reserva anteriormente forte, e um sistema dominante de avaliação de ativos e riscos”.
O ponto de impasse é a capacidade dos EUA de imprimirem ilimitadas quantidades de dólares. Os super-gastos dos consumidores americanos com importações que excedem as exportações, as compras americanas de companhias e patrimônio estrangeiro, e os dólares que o Pentágono gasta no exterior, acabam todos em bancos centrais estrangeiros. Estas agências enfrentam então uma escolha difícil: ou reciclar estes dólares de volta aos Estados Unidos através da compra de títulos do Tesouro dos EUA, ou deixar a força do “livre mercado” aumentar o valor relativo da sua moeda em relação ao dólar – com isso aumentando o preço de suas exportações, colocando-as fora dos mercados mundiais e, portanto, criando desemprego interno e insolvência nos negócios.
Quando a China e outros países reciclam as suas entradas de dólares comprando títulos do Tesouro dos EUA para “investir” nos Estados Unidos, esta acumulação não é realmente voluntária. Ela não reflete a fé na economia dos EUA, ou o enriquecimento de bancos centrais estrangeiros através das suas poupanças, ou qualquer preferência de investimento calculado, mas simplesmente uma falta de alternativas. “Livres mercados” ao estilo-USA penduram países num sistema que os força a aceitar dólares sem limites. Agora eles querem sair.
Isto significa criar uma nova alternativa. Ao invés de fazer simplesmente “mudanças cosméticas, como alguns países, e talvez como as próprias organizações financeiras internacionais desejam”, concluiu o sr. Medvedev no discurso de S. Petersburgo, “o que precisamos são instituições financeiras de um tipo completamente novo, em que questões e motivos políticos, e países em particular, não dominarão”.
Quando os gastos militares no estrangeiro forçaram a balança de pagamentos dos EUA ao déficit e levaram os Estados Unidos ao abandono do ouro, em 1971, os bancos centrais ficaram sem o ativo tradicional utilizado para regular desequilíbrios de pagamentos. A alternativa, na falta de outra, era investir as suas subsequentes entradas de pagamentos em títulos do Tesouro dos EUA, como se estes ainda fossem “tão bons quanto ouro”. Os bancos centrais agora possuem US$ 4 trilhões desses títulos nas suas reservas internacionais – o aterrissamento desses empréstimos financiou a maior parte dos déficits do orçamento interno do governo dos EUA durante mais de três décadas! Uma vez que cerca da metade dos gastos discricionários do governo dos EUA é com operações militares – incluindo mais de 750 bases militares no estrangeiro e operações cada vez mais dispendiosas nos países produtores de petróleo e nas vias de acesso ao mesmo – o sistema financeiro internacional está organizado de um modo que financia o Pentágono, assim como as compras americanas de ativos estrangeiros, que se espera renderem muito mais do que os títulos do Tesouro possuídos pelos bancos centrais estrangeiros.
A principal questão política enfrentada pelos bancos centrais do mundo é, portanto, como evitar acrescentar ainda mais dólares às suas reservas e, portanto, financiar ainda mais o gasto deficitário dos EUA – incluindo a despesa militar junto às suas fronteiras.
Em primeiro lugar, os seis países da SCO [Organização de Cooperação de Shangai, que reúne Rússia, China, Cazaquistão, Tajiquistão, Quirguistão e Uzbequistão] e os países BRIC [Brasil, Rússia, Índia e China] pretendem usar suas próprias moedas no comércio, de modo a obterem o benefício do crédito mútuo que os Estados Unidos até agora monopolizaram para si próprios. Tendo em vista este objetivo, a China selou acordos bilaterais com a Argentina e o Brasil no sentido de fazer o seu comércio em renminbi ao invés do dólar, da libra esterlina ou dos euros, e duas semanas atrás a China alcançou um acordo com a Malásia no sentido de fazer o comércio entre os dois países em renminbi. O antigo primeiro-ministro, Dr. Mahathir Mohamad, explicou-me em janeiro que, como país muçulmano, a Malásia quer evitar fazer qualquer coisa que facilite a ação militar dos EUA contra países islâmicos, incluindo a Palestina. O país já tem demasiados ativos em dólares, explicaram os seus colegas. O governador do banco central Zhou Xiaochuan, do Banco do Povo da China, redigiu uma declaração oficial no seu site da Internet, segundo a qual o objetivo agora é criar uma moeda de reserva “que seja desconectada de países individuais”. Este é o objetivo das discussões em Yekaterinburg.
Além de evitar o financiamento tanto da compra da sua própria indústria pelos EUA como do cerco norte-americano ao globo, a China, a Rússia e outros países gostariam sem dúvida de obter a mesma espécie de “almoço gratuito” que a América tem obtido. Tal como a questão se lhes apresenta, veem os Estados Unidos como um país fora da lei, tanto financeira quanto militarmente. Como caracterizar de outra maneira um país que mantém um conjunto de leis para os outros – sobre guerra, reembolso de dívida e tratamento de prisioneiros – mas ignora-as em relação a si próprio? Os Estados Unidos são agora o maior devedor do mundo, mas tem evitado o sofrimento dos “ajustes estruturais” impostos a outras economias devedoras. As reduções de taxas de juros e fiscais em face dos déficits comerciais e orçamentários em explosão são vistas como o cúmulo da hipocrisia, considerando os programas de austeridade a que Washington força outros países, através do FMI e outros dos seus veículos.
Os Estados Unidos dizem às economias devedoras para liquidarem as suas empresas públicas e os seus recursos naturais, elevarem as suas taxas de juros e aumentarem os impostos enquanto arruínam as suas redes de segurança social a fim de espremer dinheiro para pagar aos credores. E, internamente, o Congresso proibiu a CNOOK, da China, de comprar a Unocal com o argumento da segurança nacional, assim como proibiu Dubai de comprar portos e outros fundos de riqueza soberana de comprarem infraestruturas chave. Os estrangeiros são convidados a emularem a compra japonesa de troféus tipo elefantes brancos, tal como o Rockefeller Center, no qual os investidores perderam rapidamente um bilhão de dólares e acabaram por se afastar.
Quanto a isto, os EUA não deram realmente à China, e a outros países com excedentes de pagamentos, grande alternativa exceto descobrir um meio de evitar nova acumulação de dólares. Até à data, as tentativas da China de diversificar os seus haveres em dólares para além dos títulos do Tesouro não tiveram muito êxito. Para começar, Hank Paulson, da Goldman Sachs, dirigiu o seu banco central para os títulos de rendimento mais alto da Fannie Mae e do Freddie Mac, explicando-lhes que estes eram de fato obrigações públicas. Ambos entraram em colapso em 2008, mas pelo menos o governo dos EUA tomou posse destas duas agências de empréstimos hipotecários, acrescentando formalmente os seus US$ 5,2 trilhões em obrigações à dívida nacional. De fato, foi em grande parte o investimento oficial estrangeiro que estimulou o salvamento. Impor uma perda a agências oficiais estrangeiras teria rompido de imediato o padrão-título do Tesouro, não só por destruir totalmente a credibilidade dos EUA, como também porque, simplesmente, há muito poucos títulos do governo para absorverem a inundação de dólares na economia mundial devida à elevação dos déficits da balança de pagamentos norte-americana.
Procurando uma posição de equilíbrio para proteger o valor dos seus haveres em dólares quando a bolha do crédito do Federal Reserve levou ao rebaixamento das taxas de juro, os fundos de riqueza soberana da China procuraram diversificar a partir do fim de 2007. A China comprou participações no bem entrelaçado fundo de ações Blackstone e no Morgan Stanley, em Wall Street, no Standard Bank, do Barclays, na África do Sul (antes filiado ao Chase Manhattan, no tempo do apartheid) e no conglomerado financeiro belga Fortis, que entrou logo em colapso. Mas o setor financeiro dos EUA estava entrando em colapso sob o peso da sua dívida piramidal e os preços das ações de bancos e firmas de investimento afundaram em todo o mundo.
Os estrangeiros veem o FMI, o Banco Mundial e a Organização Internacional de Comércio como emanações de Washington num sistema financeiro apoiado em bases militares e porta-aviões americanos que envolvem todo o globo. Mas esta dominação militar é um vestígio de um império americano que já não é mais capaz de dominar pela força econômica. O poder militar norte-americano é músculo em excesso, baseado mais no armamento atômico e ataques aéreos à longa distância do que sobre operações no terreno, as quais politicamente tornaram-se demasiado impopulares para serem montadas em grande escala.
Na frente econômica, não há meio previsível pelo qual os Estados Unidos possam descarregar os US$ 4 trilhões que devem a governos estrangeiros, aos seus bancos centrais e aos fundos de riqueza soberana estabelecidos para dar destino à inundação global de dólares. A América tornou-se uma caloteira – e na verdade, uma caloteira militarmente agressiva, pois procura manter-se como a potência única que, através de meios econômicos, chegou a ser. O problema é como restringir o seu comportamento. Yu Yongding, um antigo conselheiro do banco central chinês, agora na Academia de Ciências da China, sugeriu que o secretário do Tesouro, Tim Geithner, fosse avisado de que os Estados Unidos deveriam “salvar-se” antes e acima de tudo pela redução do seu orçamento militar. “O imposto de renda dos EUA provavelmente não aumentará no curto prazo devido ao baixo crescimento econômico, a despesas inflexíveis e ao custo de ‘combater duas guerras’ “.
Atualmente são as poupanças estrangeiras, não as dos americanos, que estão financiando o déficit orçamentário dos EUA, através da compra da maior parte dos títulos do Tesouro. O efeito é tributação sem representação para os eleitores estrangeiros, pois não podem dizer ao governo dos EUA como utilizar as suas poupanças forçadas. Portanto, é necessário aos diplomatas financeiros que ampliem o âmbito das suas decisões políticas para além do setor do mercado privado. As taxas de câmbio são determinadas por muitos fatores além de “cartões de crédito detidos pelos consumidores”, o eufemismo habitual que a mídia dos EUA menciona para o déficit da balança de pagamentos. Desde o século XIII, a guerra tem sido um fator dominante na balança de pagamentos dos principais países – e de suas dívidas nacionais. O financiamento de governos através de títulos faz-se sobretudo para dívidas de guerra, pois em tempos de paz normais os orçamentos tendem a ser equilibrados. Isto liga o orçamento de guerra diretamente à balança de pagamentos e às taxas de câmbio.
Os países estrangeiros veem-se presos a títulos de dívida impagáveis – sob condições em que, se se movimentassem para travar o almoço gratuito dos EUA, o dólar afundaria e os seus haveres em dólares cairiam de valor em relação às suas próprias moedas internas e outras divisas. Se a moeda da China se elevasse em 10% em relação ao dólar, o seu banco central teria o equivalente a uma perda de US$ 200 milhões nos seus haveres de US$ 2 trilhões, quando convertidos em yuan. Isto explica porque, quando agências de classificação de títulos falam acerca da perda da classificação AAA para os títulos do Tesouro dos EUA, elas não querem dizer que o governo não possa simplesmente imprimir os dólares de papel para “tornar bons” estes títulos. Querem dizer que os dólares se depreciarão em seu valor internacional. E isso é exatamente o que está se verificando agora. Quando o sr. Geithner fez uma cara séria e disse numa sessão na Universidade de Pequim, no princípio de junho, que acreditava num “dólar forte” e que, portanto, os investimentos da China nos EUA eram seguros e saudáveis, a reação foram risadas sarcásticas.
A previsão de uma elevação da taxa de câmbio da China dá um incentivo aos especuladores para procurarem tomar emprestado em dólares a fim de comprar renminbi e se beneficiarem com a valorização. Para a China, o problema é que este influxo especulativo tornar-se-ia uma profecia auto-cumprida ao forçar a alta da sua divisa. Assim, o problema das reservas internacionais está inerentemente ligado ao do controle de capitais. Por que a China deveria ver as suas companhias mais lucrativas serem vendidas por dólares criados livremente, os quais o banco central deve utilizar para comprar títulos do Tesouro dos EUA, de baixo rendimento, ou perder ainda mais dinheiro em Wall Street?
Para evitar esse dilema é necessário inverter a filosofia dos mercados de capital abertos que o mundo tem adotado desde Bretton Woods, em 1944. Por ocasião da visita do sr. Geithner à China, “Zhou Xiaochuan, ministro do Banco Popular da China, o banco central do país, disse enfaticamente que esta era a primeira vez, desde as conversações semestrais principiadas em 2006, que a China precisava aprender tanto com os erros americanos como com os seus êxitos” no que concerne à desregulamentação de mercados de capital e desmantelamento de controles.
Uma era está, portanto, chegando ao fim. Face ao contínuo super gasto dos EUA, a desdolarização ameaça forçar os países a retornarem à espécie de taxas de câmbio duais que eram comuns entre a I e a II Guerras Mundiais: uma taxa de câmbio para o comércio de mercadorias e outra para movimentos de capital e investimentos, pelo menos das economias da área do dólar.
Mesmo sem controles de capital, os países que se reúnem em Yekaterinburg estão dando passos para evitar serem os receptores relutantes de ainda mais dólares. Ao verem que a hegemonia global dos EUA não pode continuar sem os gastos de poder que eles próprios fornecem, os governos estão tentando acelerar o que Chalmers Johnson denominou “as aflições do império” no seu livro com o mesmo nome (“The Sorrows of Empire”). Se a China, a Rússia, e seus aliados não alinhados, prosseguirem o seu caminho, os Estados Unidos já não viverão mais das poupanças dos outros (na forma dos seus próprios dólares reciclados) nem terão o dinheiro para as suas despesas e aventuras militares ilimitadas.
Autoridades americanas quiseram comparecer como observadores à reunião de Yekaterinburg. Disseram-lhes Não. É uma palavra que os americanos ouvirão muito no futuro.
* É ex-economista de Wall Street especializado em balanço de pagamentos e bens imobiliários no Chase Manhattan Bank (agora JPMorgan Chase & Co.), Artur Anderson e, depois, no Hudson Institute. Em 1990 colaborou no estabelecimento do primeiro fundo soberano de dívida do mundo para Scudder Stevens & Clark. Hudson foi assessor econômico chefe de Dennis Kucinich na campanha primária presidencial democrata e assessorou os governos dos EUA, Canadá, México e Letônia, assim como o Instituto das Nações Unidas para Formação e Pesquisa. Destacado professor e pesquisador na Universidade de Missouri, na cidade de Kansas, é autor de numerosos livros, entre eles “Super Imperialism: The Economic Strategy of American Empire”.

terça-feira, 23 de junho de 2009

O AMOR E ÓDIO NA HUMANIDADE

O AMOR É SPARTUCUS
O AMOR É JESUS
O ÓDIO É OS CESARES ROMANOS
O ÓDIO É OS SENHORES FEUDAIS
O ÓDIO É O CATOLICISMO INVASOR
O ÓDIO É OS NAVIOS NEGREIROS
O ÓDIO É OS ESCRAVOCRATAS
O AMOR É ZUMBI
O AMOR É JOSE DO PATROCINIO
O AMOR É MACHADO DE ASSIS
O AMOR É TIRADENTES
O ÓDIO É SILVÉRIO DOS REIS
O AMOR É JOSÉ BONIFÁCIO
O ÓDIO É O IMPÉRIO ROMANO
O ÓDIO É NERO
O ÓDIO É OS ANGLO-SAXÕES QUE MATARAM OS INDIOS
O AMOR É MATHER LUTER KING
O ÓDIO É OS ESPANHOIS ASSASSINOS INVASOR
O AMOR É SANDINO
O AMOR É PANCHO VILA
O AMOR É GETULIO VARGAS
O AMOR É DUQUE DE CAXIAS
O ÓDIO É WASHIGTON LUIS E O QUE ELE REPRESENTAVA
O AMOR É STALIN
O ÓDIO É HITLER
O ÓDIO É MUSSOLINI
O AMOR É LENIN, KARL MARX E ENGHELS
O ÓDIO É O FASCISMO
O AMOR É O COMUNISMO O SOCIALISMO
O ÓDIO É ROCKHEFELER
O ÓDIO É FORD
O ÓDIO É O CAPITALISMO
O AMOR É GHANDHI
O AMOR É FRANKLIN ROOSEVELT
O AMOR É ABRAHM LINCON
O AMOR É MARIA QUITÉRIA
O AMOR ANA NERY
O AMOR É PERON
O AMOR É NELSON MANDELA
O ÓDIO É O APARTHEID
O AMOR É FIDEL CASTRO
O ÓDIO É BUSH E OS REPUBLICANOS FASCISTAS
O AMOR É SADAM HUSSEIN
O AMOR É YASSER ARAFAT
O ÓDIO É A ELITE FASCISTA DE ISRAEL
O AMOR É MAO TSE TUNG
O AMOR É KING SUNG
O ÓDIO É DALAI LAMA
O AMOR É HUGO CHAVES
O AMOR É O POVO IRAQUIANO, PALESTINO
O AMOR É O POVO BRASILEIRO
O ÓDIO É GRANDE MIDIA COLONIZADA, QUE TENTA SUBMETER NOSSO POVO
O AMOR É LEONEL BRIZOLA
O AMOR É JUSCELINO KUBISHEKH
O AMOR É JOÃO GOULART
O AMOR É JOÃO AMAZONAS
O AMOR É CLAUDIO CAMPOS
O ÓDIO É OS QUE ENRIQUECEM COM O TRÁFICO DE DROGAS
O AMOR É ANASTÁCIA
O AMOR É CHE GUEVARA
O ÓDIO É BOAVENTURA (SINDICALISTA)
O ÓDIO É FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E SEUS PARES.
O ÓDIO É FERNANDO COLLOR
O AMOR É CHICO MENDES
O AMOR É MIGUEL ARRAES
O AMOR É LUIS CARLOS PRESTES
O AMOR É JORGE AMADO
O AMOR É SUASSUNA
O AMOR É O POETA VICENTE PORTELLA
O AMOR É A HUMANIDADE
O ÓDIO É A BARBARIE
O AMOR É LUIS INÁCIO LULA DA SILVA
O AMOR É A FARTURA
O ÓDIO É A FOME, O DESEMPREGO.
O ÓDIO SÃO OS ESPECULADORES, “INVESTIDORES”
O ÓDIO É MIRIAM LEITÃO, ALEXANDRE GARCIA DA GLOBO
O AMOR É LIBERDADE DOS POVOS
O ÓDIO SÃO OS TUCANOS DO PSDB
O AMOR É CHICO BUARQUE DE HOLANDA
O AMOR É FAGNER
O AMOR É VER VC NUA, LINDA E TE AMAR
O AMOR É SOLIDÁRIO
O ODIO É O EGOISMO EM SI
O AMOR NÃO ODEIA
O ÓDIO AFASTA O AMOR
O AMOR REPUDIA O ÓDIO
SEM AMOR NÃO HÁ LIBERDADE
O AMOR CONSTROI A LIBERDADE
COM ÓDIO NÃO HÁ LIBERDADE
O ÓDIO APRISIONA O SER
O ÓDIO QUER DESTRUIR O OUTRO
O AMOR FORTALECE O OUTRO
O AMOR LIBERTA O SER
O ODIO MATA O OUTRO E A SI
O AMOR VIVE O OUTRO E A SI
O AMOR É CONTRADITÓRIO
E POR SER CONTRADITÓRIO TEM VIDA
O AMOR É VIDA...
O AMOR...
O ÓDIO...


AUTOR: AYLTON NEVES
O AMOR E O ÓDIO
O AMOR É SPARTUCUS
O AMOR É JESUS
O ÓDIO É OS CESARES ROMANOS
O ÓDIO É OS SENHORES FEUDAIS
O ÓDIO É O CATOLICISMO INVASOR
O ÓDIO É OS NAVIOS NEGREIROS
O ÓDIO É OS ESCRAVOCRATAS
O AMOR É ZUMBI
O AMOR É JOSE DO PATROCINIO
O AMOR É MACHADO DE ASSIS
O AMOR É TIRADENTES
O ÓDIO É SILVÉRIO DOS REIS
O AMOR É JOSÉ BONIFÁCIO
O ÓDIO É O IMPÉRIO ROMANO
O ÓDIO É NERO
O ÓDIO É OS ANGLO-SAXÕES QUE MATARAM OS INDIOS
O AMOR É MATHER LUTER KING
O ÓDIO É OS ESPANHOIS ASSASSINOS INVASOR
O AMOR É SANDINO
O AMOR É PANCHO VILA
O AMOR É GETULIO VARGAS
O AMOR É DUQUE DE CAXIAS
O ÓDIO É WASHIGTON LUIS E O QUE ELE REPRESENTAVA
O AMOR É STALIN
O ÓDIO É HITLER
O ÓDIO É MUSSOLINI
O AMOR É LENIN, KARL MARX E ENGHELS
O ÓDIO É O FASCISMO
O AMOR É O COMUNISMO O SOCIALISMO
O ÓDIO É ROCKHEFELER
O ÓDIO É FORD
O ÓDIO É O CAPITALISMO
O AMOR É GHANDHI
O AMOR É FRANKLIN ROOSEVELT
O AMOR É ABRAHM LINCON
O AMOR É MARIA QUITÉRIA
O AMOR ANA NERY
O AMOR É PERON
O AMOR É NELSON MANDELA
O ÓDIO É O APARTHEID
O AMOR É FIDEL CASTRO
O ÓDIO É BUSH E OS REPUBLICANOS FASCISTAS
O AMOR É SADAM HUSSEIN
O AMOR É YASSER ARAFAT
O ÓDIO É A ELITE FASCISTA DE ISRAEL
O AMOR É MAO TSE TUNG
O AMOR É KING SUNG
O ÓDIO É DALAI LAMA
O AMOR É HUGO CHAVES
O AMOR É O POVO IRAQUIANO, PALESTINO
O AMOR É O POVO BRASILEIRO
O ÓDIO É GRANDE MIDIA COLONIZADA, QUE TENTA SUBMETER NOSSO POVO
O AMOR É LEONEL BRIZOLA
O AMOR É JUSCELINO KUBISHEKH
O AMOR É JOÃO GOULART
O AMOR É JOÃO AMAZONAS
O AMOR É CLAUDIO CAMPOS
O ÓDIO É OS QUE ENRIQUECEM COM O TRÁFICO DE DROGAS
O AMOR É ANASTÁCIA
O AMOR É CHE GUEVARA
O ÓDIO É BOAVENTURA (SINDICALISTA)
O ÓDIO É FERNANDO HENRIQUE CARDOSO E SEUS PARES.
O ÓDIO É FERNANDO COLLOR
O AMOR É CHICO MENDES
O AMOR É MIGUEL ARRAES
O AMOR É LUIS CARLOS PRESTES
O AMOR É JORGE AMADO
O AMOR É SUASSUNA
O AMOR É O POETA VICENTE PORTELLA
O AMOR É A HUMANIDADE
O ÓDIO É A BARBARIE
O AMOR É LUIS INÁCIO LULA DA SILVA
O AMOR É A FARTURA
O ÓDIO É A FOME, O DESEMPREGO.
O ÓDIO SÃO OS ESPECULADORES, “INVESTIDORES”
O ÓDIO É MIRIAM LEITÃO, ALEXANDRE GARCIA DA GLOBO
O AMOR É LIBERDADE DOS POVOS
O ÓDIO SÃO OS TUCANOS DO PSDB
O AMOR É CHICO BUARQUE DE HOLANDA
O AMOR É FAGNER
O AMOR É VER VC NUA, LINDA E TE AMAR
O AMOR É SOLIDÁRIO
O ODIO É O EGOISMO EM SI
O AMOR NÃO ODEIA
O ÓDIO AFASTA O AMOR
O AMOR REPUDIA O ÓDIO
SEM AMOR NÃO HÁ LIBERDADE
O AMOR CONSTROI A LIBERDADE
COM ÓDIO NÃO HÁ LIBERDADE
O ÓDIO APRISIONA O SER
O ÓDIO QUER DESTRUIR O OUTRO
O AMOR FORTALECE O OUTRO
O AMOR LIBERTA O SER
O ODIO MATA O OUTRO E A SI
O AMOR VIVE O OUTRO E A SI
O AMOR É CONTRADITÓRIO
E POR SER CONTRADITÓRIO TEM VIDA
O AMOR É VIDA...
O AMOR...
O ÓDIO...

AUTOR: AYLTON NEVES

domingo, 21 de junho de 2009

A MIDIA E A VIOLÊNCIA

A Grande mídia colonizada no Brasil tenta induzir a todos, os homens e mulheres de bem deste país, a maioria que o assassinato brutal de um menino de 06(seis) anos no Rio de Janeiro, Zona Norte, que é defensora da não violência, dos bons costumes, da civilização, dos direitos humanos da justiça.
A hipocrisia, a farsa, desmascara-se, quando ela propõe, o fim da maioridade, na lei penal. Para que os pobres, jovens, sejam postos na cadeia mais cedo e apodreçam.
Esconder os fatos, a realidade, mentir, tem sido o papel desta mídia colonizada.
Precisamos ir fundo, analisar os fatos, sem distorções e propor, soluções que acabem com a violência. Com certeza, uma dessas soluções é mudar em profundidade, a programação, principalmente da Televisão brasileira.
Temos de rever essas concessões, qual tem sido a responsabilidade, desta mídia colonizada, na geração da violência. Da violência às consciências, praticada diariamente, principalmente na juventude.
Qual é a origem dos jovens que cometeram o crime, em que condições sócio-econômicas, culturais, eles vivem e viveram?
São jovens que não ultrapassam os 23(vinte e três) anos de idade.
Como o país foi governado neste período?Que política econômica, social e cultural foi aplicada?Como se comportou a grande mídia colonizada, neste período e hoje se comporta?
Nestes 23(vinte e três) anos, claro que há mais tempo, mas refiro-me ao período de existência destes jovens, milhões de homens e mulheres perderam seus empregos, a cidadania, tornaram-se biscateiros,
Milhares de indústrias, comércio foram à falência, até guarda-chuva, alfinete, caixa de fósforos, importamos, não porque não sabemos fabricar guarda-chuva, fósforo, alfinete, porque a política aplicada neste período, de favorecimento ao capital estrangeiro, especulativo, facilitaram a entrada destes produtos importados, quebrando nossas indústrias.
E a grande mídia colonizada dizia que nossas indústrias eram obsoletas, tecnologicamente atrasadas, que caras de pau, não sabemos nós os tupiniquins, fazer palito de fósforo, alfinete, sabonete, até coco passamos a importar.
O governo que eles defendiam tucanos barateou o dólar e fez que entrasse produtos de quinta categoria, no país.
A educação, as escolas quase foram a lona.
Os valores cívicos, morais, nacionais, perderam-se, com ajuda da mídia colonizada.
A juventude brasileira passou a não ter perspectivas, na educação e no trabalho.
O Patrimônio público, as empresas, construídas ao longo de décadas, pelo esforço do povo brasileiro, foram “doadas”, assaltadas, pelas sanguessugas, monopolistas, e os vermes, sócios menores no Brasil, os tucanos lacaio.
A monstruosidade cometida neste período, à nação brasileira, por estes indivíduos os tucanos e seus comparsas, mereciam fuzilamento em praça pública.
A grande mídia colonizada, neste período, veio com a “ideologia” do “livre mercado”, só os “mais competentes”, sobreviveriam, a lei do cada um por si, o individualismo exaltado como ideologia dominante, ter “competitividade” e outras baboseiras mais. O incentivo ao consumismo do que era importado era melhor estavam e estão na ordem do dia deles, na TV principalmente.
A grande mídia colonizada apoiou a “cultura da barbárie”, se é que é cultura, é ofender a cultura. Duro de Matar, 1,2,3...”Rambos” e etc. A “cultura” da barbárie veio com a “ideologia de mercado”.
Vincula-se diariamente na TV, a destruição da família, as novelas viraram verdadeira imoralidade, troca de casais, desvalorização da mulher, do negro, o pai, de família virou um irresponsável, fracassado.
O verdadeiro incentivo à prostituição, mudou até o nome, “garota de programa”. Na música, se podemos chamar de música, o funk criminal, o samba sem raiz, Mamonas, Xuxa, o Tcham, dezenas de porcarias são ouvidas diariamente, nas rádios, TVs, sem conteúdo musical, apenas para vender, e ganharem rios de dinheiro, verdadeira contracultura, atendendo o “livre mercado”, dos monopólios. Violência veiculada diariamente. Como podemos chamar de cultura nacional “eguinha pocotó”, tiririca, Fiorentina. Que liberdade de imprensa é esta?Não existe liberdade de imprensa, porque só sai nos jornais, TVs, rádios, o que os donos destas empresas querem e seus patrocinadores determinam... é a liberdade dos monopólios. estrangeiros. E estes não querem que nada que seja nacional, da cultura nacional, seja veiculado. O que eles dizem que é nacional é estereótipo, lixo, que eles veiculam. À custa de muito dinheiro eles massificam com “musicas”, ”modismo”, a vender estes lixos.
Os interesses “empresariais”, jamais estarão em consonância, com interesses nacionais, no caso da mídia colonizada.
No Brasil, a grande mídia colonizada, esta umbilical mente, ligado aos interesses da ideologia do colonizador. Não é permitida qualquer manifestação de cultura nacional, principalmente na TV. Eles dirão, mas nós veiculamos os desfiles das escolas de samba, mas estas se impôseram, ao longo de décadas de luta.
Mesmo assim, tentam dar um caráter individualista as escolas, valorizando em excesso os coreógrafos, o cantor do samba, as artistas da TV. Esta arte é coletiva, verdadeira arte nacional coletiva, sem aquele coletivo das escolas de samba, não seria o espetáculo que é, isso eles engolem, tiram até uma casquinha... ganhando um bom dinheiro.
Um dia desses, nas escadarias da Assembléia Legislativa do RJ, um rapaz gritando: “Acordem, Acordem”. com um grupo de pessoas, vestido de preto, com faixas em preto. Depois soube que era do grupo “musical”, “Detonautas”, esse rapaz.
Esses grupos que a mídia colonizada, inventa, pensam que estão fazendo musica. Esse rapaz que gritava cheio de balangandãs, na orelha, no nariz e o pessoal deles também, cheio de penduricalhos no corpo, uma gente esquisita, pareciam uns defuntos vivos. Gritando desesperado, é claro que ninguém de bom censo, vai dar ouvido a essa gente. Estes grupos, fabricado pela mídia colonizada, faz muito barulho, que dizem ser “musica”. Com esta barulhada tocando diariamente, essa violência praticada, é que faz com que uma parcela da nossa juventude, fique alienada, diante dos problemas do país... da coletividade.
Esses grupelhos... pregam o invidualismo... a luta sem causa...a “liberdade” individual...como podes se ser livre... sem todo o coletivo ser livre...bem ao gosto da pequena burguesia reacionária... serve muito bem aos interesses da grande mídia colonizada.
Estamos acordados, rapaz, você que ainda vive no pesadelo... se naquela gritaria não tinha povo... como vocês esperavam... porque sabemos que as soluções para resolver a violência... passa inclusive...pela não existência do que vocês produzem...”musical mente”. E a solução é ao contrario do que a mídia colonizada tem pregado, que é mais Estado, mais Estado junto ao povo, mais cultura nacional, trabalho,porque o povo precisa de mais Estado... vocês e seus amos não...
As conseqüências, sociais, culturais, que hoje vivemos é fruto desta junção; da propaganda da mídia colonizada entreguista, com a política econômica, aplicada, da política de terra arrasada, do assalto ao patrimônio público, da contracultura. Eles são os responsáveis pelo caos e a violência... o que ocorreu é a ponta, do que realmente foi praticado.
Os jovens, o menino que morreu, as famílias de ambos são vitimas deles, desta política, defendida, há muito pela mídia colonizada.
Precisamos de um estado não repressor, mas com saúde pública digna, educação de qualidade, que estimule a geração de emprego.
Nas periferias das grandes cidades, centenas de milhares de jovens são assassinados, jogados aos trafico. São filhos dos biscateiros, dos desempregados, dos arrochados salariais, filhos da miséria.
Vivemos em um país rico, absurdamente, não usufruímos nada, ou quase nada desta riqueza. No Brasil, existir a miserabilidade que existe é crime.
Pelo potencial humano, material, que tem o Brasil, ter milhares de famílias, vivendo debaixo das pontes, nas condições piores nas favelas, nas ruas em condições subumanas, é crime.
A mídia colonizada tenta jogar a culpa nos jovens, nos pobres, da periferia.
Ninguém de bom censo 'a favor, do que foi feito praticado pelos jovens que mataram o menino. Estes indivíduos têm que ser punidos de acordo com a lei.
Tanto a família do menino assassinado, quanto aos jovens que cometeram o crime são vitimas de toda a política econômica, social, cultural, aplicada no Brasil nos últimos anos.
Como disse o presidente Lula, “se tivéssemos investido, no emprego, na educação, vinte e trinta anos atrás, as cadeias estariam vazias.”.
A Hipocrisia da mídia colonizada, ela é co-responsável por este estado de violência.
A solução para eles é baixar o porre te no povo.
A resistência, a luta do nosso povo tem sido grande, resistimos e tiramos os tucanos, resta agora é darmos um basta a esta mídia colonizada. Aí sim começaremos a diminuir esta violência.

Aylton Neves de Mattos Filho.
30/03/2007

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Sem ideologia do desenvolvimento não há desenvolvimento nacional

“Sem ideologia do desenvolvimento não há desenvolvimento nacional”
Há alguns meses, tentando rastrear as origens do conceito de “nacional-desenvolvimentismo” (não propriamente o seu conteúdo, mas quando ele se condensou sob esta forma, isto é, sob este nome), o ISEB – Instituto Superior de Estudos Brasileiros – apareceu como a mais forte referência. Realmente, se o termo não surgiu (é provável que tenha surgido) das discussões e ensinamentos do ISEB, instituição do Ministério da Educação inaugurada em 1955 e fechada pela ditadura em 1964, foi ali que, sem dúvida, se consolidou e recebeu a forma final.
Foi no correr dessa pesquisa que nosso grande amigo Werner Rempel, vereador e ex-vice-prefeito de Santa Maria, RS, apareceu-nos com os dois colossais volumes de “Consciência e Realidade Nacional”, do filósofo Álvaro Vieira Pinto, publicados pelo ISEB em 1960. Nessa época, o Conselho Curador do ISEB era constituído por Tancredo Neves, pelo brigadeiro Dario Cavalcanti de Azambuja, pelo médico Eurico Costa Carvalho, professor da Faculdade Nacional de Medicina, pelo empresário Guilherme da Silveira Filho, dono da fábrica Bangu, pelo físico José Leite Lopes, pelo futuro primeiro-ministro Hermes Lima e pelo diretor do instituto, filósofo e deputado federal Roland Corbisier.
Há alguns dias, por correio, recebemos novo presente – e nova revelação – por parte de Werner. Lá de sua cidade, enviou-nos ele os dois volumes de “O Conceito de Tecnologia”, publicado em 2005 pela Editora Contraponto e reimpresso em 2008. Infelizmente, Álvaro Vieira Pinto, falecido em 1987, não viu a publicação desta outra sua grande obra – talvez aquela em que ele foi mais à frente, de forma mais clara e profunda, na síntese de uma filosofia nacionalista.
Mas, voltemos à primeira obra.
“Consciência e Realidade Nacional” é um estudo de mil páginas (1.078, para ser exato), em que Álvaro Vieira Pinto aborda as relações entre a ideologia e o desenvolvimento em um país dependente. De certa forma, é um desdobramento - é verdade que um desdobramento gigantesco - de sua aula inaugural no curso de filosofia do ISEB, em 14 de maio de 1956, onde ele estabelece: “sem ideologia do desenvolvimento não há desenvolvimento nacional”.
No livro de 1960, o filósofo estuda duas formas gerais de consciência: a “consciência ingênua”, aquela que concebe a realidade sem perceber que ela própria é condicionada por essa realidade; e a “consciência crítica”, que concebe a realidade pela crítica do próprio condicionamento imposto por essa realidade.
Na sua formulação: “Para a mentalidade ingênua a nação é coisa que ‘já existe’ e precisamente existe enquanto coisa. Está feita, sua realidade é completa, ainda que admitindo-se que sofra modificações ao longo da história. (...) Ora, o que a consciência crítica desvendará é justamente o oposto: é a minha atividade que torna possível a existência da nação. A nação não existe como fato, mas como projeto. Não é o que no presente a comunidade é, mas o que pretende ser, entendendo-se a palavra ‘pretende’ em sentido literal, como ‘pre-tender’, tender antecipado para um estado real. (…) A comunidade constitui a nação ao pretender ser, porque é assim que a constitui no projeto de onde deriva a atividade criadora, o trabalho. A nação resulta, pois, de um projeto da comunidade, posto em execução sob a forma de trabalho”.
Esta citação de “Consciência e Realidade Nacional” foi escolhida, com extrema felicidade, pelos editores como epígrafe de “O Conceito de Tecnologia”. Realmente, não poderia haver epígrafe mais essencial.
Em uma obra posterior, “Ciência e Existência”, de 1979, Álvaro Vieira Pinto dirá: “Para o país que precisa libertar-se política, econômica e culturalmente das peias do atraso e servidão, a apropriação da ciência , a possibilidade de fazê-la não apenas por si mas para si, é condição vital para a superação da etapa da cultura reflexa, vegetativa, emprestada, imitativa, e a entrada em nova fase histórica que se caracterizará exatamente pela capacidade, adquirida pelo homem, de tirar de si as ideias de que necessita para compreender a si próprio tal como é e para explorar o mundo que lhe pertence, em benefício fundamentalmente de si mesmo”.
Nessa obra, ele também formularia: “a criação de uma sociedade justa e humana é o objetivo imediato, final, incondicionado, para o qual o pesquisador tem de contribuir com seu trabalho de estudo e descoberta”.
Álvaro Vieira Pinto era, profissionalmente, médico, professor e pesquisador na Faculdade Nacional de Medicina. No entanto, estudou física e matemática na antiga Universidade do Distrito Federal, cujo reitor, Alceu Amoroso Lima, nomeou-o professor de lógica matemática – a primeira cadeira do país nessa disciplina. Logo, estava lecionando a mesma matéria na Faculdade Nacional de Filosofia, e, em 1945, tornou-se titular de História da Filosofia.
Em 1955, quando o ISEB é fundado, Roland Corbisier convida Álvaro Vieira Pinto para chefiar o departamento de filosofia do instituto.
Quando, em dezembro de 1958, Hélio Jaguaribe forçou uma cisão pela direita no ISEB – sua proposta, já naquela época, era que o “nacionalismo da atualidade” incluísse a privatização de setores estratégicos, como a petroquímica - Álvaro Vieira Pinto não teve dúvida sobre de que lado ficar.
Como lembra Caio Navarro de Toledo, em seu último e mais profícuo período, o ISEB “esteve sob a direção política e intelectual do filósofo Álvaro Vieira Pinto (….) e do historiador Nelson Werneck Sodré”. O mesmo autor observa que “em contraposição aos cientistas sociais da USP – avessos e contrários ao engajamento político –, os isebianos sintonizavam-se com a dinâmica das lutas sociais e políticas presentes na sociedade brasileira dos anos 1950 e 1960”, uma avaliação que Paula Beiguelman, advinda da USP, mas completamente oposta ao espírito dominante nesta universidade, confirmaria plenamente, até por ser exceção.
Certamente, esse compromisso do ISEB com a nação e o povo brasileiros fizeram com que, após 64, ele se tornasse um dos principais alvos da perseguição reacionária e entreguista. Além do fechamento e de um estúpido inquérito - o “IPM do ISEB”, a que seus integrantes foram arrastados - a sede do instituto “foi objeto da sanha golpista. Nos dias seguintes à ‘revolução’ vitoriosa, a biblioteca, os arquivos e os móveis da sede do Instituto foram destruídos. (….) através do ato de vandalismo, a inteligência era repudiada e o pensamento crítico passaria a ser reprimido no país por mais de 20 longos anos” (Caio Navarro de Toledo, “50 anos de fundação do Iseb”, Jornal da Unicamp, 8 a 14/08/2005).
Álvaro Vieira Pinto, cassado pelo primeiro dos atos institucionais, trilhou o caminho do exílio. Porém, em dezembro de 1968, voltou ao Brasil. Dias depois, outro ato institucional fecharia a vida pública por alguns anos. O filósofo se sustentaria com traduções, feitas sob pseudônimo. Publicou, depois, alguns trabalhos importantes. Porém, “O Conceito de Tecnologia” teria que aguardar mais de 30 anos para ser publicado.
Esta é uma pequena coletânea do pensamento de Álvaro Vieira Pinto. Não ficaremos por aqui, o leitor pode ter certeza. Outras virão. Dedicamos esta a Werner Rempel – sem o seu esforço e dedicação, Werner, seria impossível, a nós, contribuir para a recuperação da obra e da memória de Álvaro Vieira Pinto.

“O filósofo do país periférico, existencialmente, não está em face do Nada, mas do Tudo que há por fazer diante do mundo que é seu”
ÁLVARO VIEIRA PINTO
“O papel dos filósofos pertencentes ao meio subdesenvolvido na compreensão de seu mundo, das razões de tal estado e na proposta de rumos e ações políticas e culturais transformadoras da realidade ambiente é decisivo. Para isso, porém, faz-se mister, antes de tudo, compreenderem o que significa ser filósofo no país pobre e dependente. A primeira exigência consiste em admitir que não pode significar a mesma coisa ser filósofo no país desenvolvido, dominador e autônomo e no que ainda vegeta no subdesenvolvimento, na ignorância do saber letrado e na carência de soberania e capacidade de definição e direção de seu processo de existência enquanto ser histórico particular. No mundo subdesenvolvido e na maior extensão analfabeto, o filósofo, para pensar autenticamente a realidade, precisa ser analfabeto. Não que, evidentemente, ignore a habilidade de ler e escrever – mas, sabemos bem não ser exclusivamente esta falta que constitui o analfabetismo -, e sim porque coloca em primeiro lugar, na tentativa de conceber e interpretar o mundo, as condições reais dele, entre as quais se inclui a de ser um mundo de analfabetos. Considerará a acumulação da cultura estranha e as diversas cogitações, passadas e presentes, conhecidas pelo estudo dos livros, uma fonte subsidiária, embora indispensável, para a formação da consciência de si. Mas terá de aprender muito mais com o que vê do que com o que lê. A consciência filosófica só será legítima se explicar o estado do seu meio, não por um reflexo passivo exterior, mesmo verídico, mas pela apreensão da essência do ser social do qual o pensador é parte. O filósofo tem de identificar-se com as massas analfabetas, constituir a figura aparentemente paradoxal do analfabeto alfabetizado, para alcançar as bases nas quais fundar seu pensamento com máximas possibilidades de legitimidade. Tal como têm sido redigidos até hoje os poucos, confusos e irrelevantes ensaios designados no país atrasado pelo nome de “filosofia”, são uma modalidade de alienação cultural em forma praticamente pura. O filósofo, não tendo nada de próprio a pensar, satisfaz-se em respirar os zéfiros divinos provenientes das regiões ocidentais cultas, ricas, pensantes por direito natural. Algumas consequências bizarras, e até cômicas, derivam desta situação. No país subdesenvolvido, o filósofo, como só registra o que foi pensado e dito nos centros metropolitanos, pode ser chamado de tabelião de ideias. A cultura, em conjunto, constitui o cartório dos conhecimentos alheios. Obrigado a colecionar e registrar os produtos do pensamento de origem externa, o filósofo na verdade nunca chega a ser escritor; não passa de escrevente. Realmente, não escreve, porque não consegue ter nada de original para deixar escrito. Apenas lavra uma escritura do que os outros, os sábios estrangeiros, declaram perante ele. No país subdesenvolvido é impossível o surgimento de verdadeiros livros de filosofia. A verdade não consiste na descoberta de algum novo aspecto de ser, mas na fidedignidade das cópias e traslados dos documentos recebidos. A cultura é o conjunto dos registros dos bens intelectuais fielmente reproduzidos, fabricados por pensadores de fora e apenas adquiridos por nativos com especial inclinação e suficiente tempo vago para se dedicarem a este gênero de dissipação espiritual. Não é preciso acrescentar que fazem dessa prerrogativa um valioso título de destaque social. A alienação torna-se o melhor sinal da capacidade intelectual. Brilha com mais nitidez esse papel egrégio se o estudioso não se limitar à exclusiva atividade manducadora, mas se revelar um legítimo expoente do meio desprovido de autoconsciência, engendrando livros, artigos de toda espécie de publicações destinadas a difundir o pensamento dos outros, o que é feito com grande satisfação pelos ressoadores indígenas, pois com esses documentos fica comprovado em registro com fé pública seu convívio com a ciência, as letras e as artes”.
(“O Conceito de Tecnologia”, pág. 45)

“A consciência humilde não é menos rica de conteúdo do que a presunçosa, que se julga mais competente porque acredita ver mais longe. A identificação corrente de consciência pobre com posição social humilde é totalmente errônea. O homem do povo, especialmente o trabalhador manual, em virtude da sua posição, está habilitado a ter uma percepção da realidade que não é menos valiosa, menos expressiva, que a dos representantes das classes dominantes; é apenas outra. Não é, portanto, pelo diâmetro do horizonte a que se estende que se deve avaliar o grau de representatividade da consciência da realidade nacional. Parece-nos que a definição desse grau terá de ser buscada na maneira como a consciência se representa os fatores que a condicionam, na maior ou menor clareza com que inclui na conceituação de um fato objetivo a percepção simultânea das condições e influências que a determinam nesse ato a proceder como procede”.
(“Consciência e Realidade Nacional”, pág. 24)

“O desenvolvimento nacional não é do tipo vegetativo. O país não evolui como os organismos, que retiram do meio alimentos que assimilam para crescer. A analogia do processo do desenvolvimento nacional com o crescimento orgânico é limitada e aproximativa. O crescimento orgânico produz-se segundo leis biológicas precisas para o tipo vital em questão; seu curso está sujeito a estrito determinismo cronológico; se condições adversas o perturbam, o resultado será finalmente o perecimento, sem possibilidade de estagnação permanente ou atrofia indefinida. Já o país cresce num ambiente sem homogeneidade histórica, onde há nações em graus diversos de desenvolvimento, as mais fortes exercendo pressões e influências retardadoras sobre as mais fracas, constituindo assim, um ‘meio’ onde a nação em desenvolvimento deve lutar não contra o determinismo natural uniforme em relação ao qual, como acontece com os seres vivos, está adaptada, mas contra atos insidiosos de concorrência e espoliação estrangeira”.
(“Consciência e Realidade Nacional”, pág. 29)

“...o processo do desenvolvimento apresenta-se como resultado do esforço coletivo, cujo rendimento em cada fase depende, em elevado grau, dos fatores ideológicos que o impulsionam. Ora, podendo-se, na prática, tomar a estes como expressos pela modalidade dominante de autoconsciência comunitária, vemos que, na verdade, o processo do desenvolvimento nacional é função da consciência que a nação tem de si mesma”.
(“Consciência e Realidade Nacional”, pág. 30)

“Chegamos, assim, a precisar um aspecto do conceito de ideologia implícito nas considerações anteriores, mas que convém destacar: o caráter objetivante da ideologia. A consciência se desenvolve ao real na forma de projeto de modificá-lo. Com efeito, sem assumir feição ideológica e sem tornar clara sua intenção objetivadora, a consciência é inoperante. A simples representação não contém forças criadoras, porque se esgota na imagem mental, se encerra na subjetividade, que, sendo privada, não provoca impulsos transformadores coletivos. Para que isto aconteça, é preciso a intervenção de outra espécie de fatores anímicos, os volitivos. É justamente quando a representação concreta do dado real se associa ao ímpeto da vontade que propõe a transformação desse dado, que se realiza na imaginação, graças à fusão do aspecto intelectual com o volitivo, a visão do estado futuro, de um “a fazer”, cuja apreensão plenamente consciente é o projeto, que se constituirá em núcleo da ideologia do desenvolvimento”.
(“Consciência e Realidade Nacional”, pág. 44)

“A análise da estrutura epistemológica da ideologia do desenvolvimento leva-nos a descobrir que a consciência da realidade nacional, que nela se desenha, não se identifica com o ato apreensivo, a mera reprodução subjetiva, mas é, a um só tempo, elaboração dessa representação e desejo de intervir ativamente no estado do real percebido”.
(“Consciência e Realidade Nacional”, pág. 45)

“O filósofo do país periférico não goza da disponibilidade de interpretar o mundo segundo lhe aprouver; nem tem sentido em relação a ele dizer-se que é sujeito à angústia de uma liberdade que não sabe a que se aplicar. Não sofre a vertigem diante do destino abscôndito, o sentimento de culpa da própria finitude, a náusea em face do Nada, simplesmente porque para ele não há o Nada, há o Tudo. Existencialmente, é um homem em face do Tudo. Do Tudo quanto está por fazer no mundo que é o seu”.
Presidente Lula desagrava Sarney
O presidente Lula afirmou que o presidente do Senado, José Sarney (AP), é uma pessoa séria e que tem “história suficiente” para não ser tratado como “uma pessoa comum”. Na quarta-feira (17), em Astana, no Cazaquistão, Lula criticou o “denuncismo” da mídia ao ser indagado sobre as acusações ao Senado e o pronunciamento do presidente da Casa, na terça-feira.
“Não sei a quem interessa enfraquecer o Poder Legislativo no Brasil. Mas penso o seguinte: quando tivemos o Congresso Nacional desmoralizado e fechado foi muito pior para o Brasil, portanto é importante pensar na preservação das instituições e separar o joio do trigo. Se tiver coisa errada, que se faça uma investigação correta”, assinalou.
Lula disse que a série de ataques contra o Senado deve ser esclarecida, pois não se pode “todo dia você arrumar uma vírgula a mais, você vai desmoralizando todo mundo, cansando todo mundo”. “Eu sempre fico preocupado quando começa no Brasil esse processo de denúncias porque ele não tem fim e depois não acontece nada”, acrescentou Lula, antes de embarcar para Brasília.
Na tribuna do Senado, Sarney considerou injustas as acusações de que teria praticado nepotismo e prometeu que punirá todos os que estejam envolvidos em irregularidades. “Quem for responsável, que seja punido e serei eu que estarei à frente para punir. Todos nós devemos ver o que está errado e corrigir o que está errado. Eu estarei aqui pronto para cumprir tudo o que o Senado decidir e, ao mesmo tempo, vou levar em frente, doa a quem doer, resistências que tiver”, disse.
Ao lembrar que está há apenas quatro meses ocupando o cargo, o presidente da Casa ressaltou que durante este período se dedicou a “corrigir erros, tomar providências necessárias ao resgate do conceito do Senado”. “Isso evidentemente não se pode fazer do dia para noite, nem é do meu estilo que se o faça soltando fogos de artifícios, até mesmo porque nunca fiz minha carreira política às custas da honra de ninguém, nem às custas da honra da instituição a que pertenço”, frisou.

O estranho catecismo do sr. Haroldo Lima


O sr. Haroldo Lima é diretor-geral da Agência Nacional do Petróleo. Sim, leitor, você já sabe disso. Nós é que temos de fazer esforço para lembrar desse fato, diante da conferência que proferiu na Assembleia Legislativa de São Paulo no último dia 15, pois a diferença entre ele e um lobista das multinacionais do petróleo não era perceptível.
Nem mesmo a grosseria das falsificações era diferente. Por exemplo, em seu afã de atacar o monopólio estatal do petróleo, regime que garantiu a propriedade do povo brasileiro sobre esta riqueza decisiva e possibilitou a criação da maior empresa do Hemisfério Sul – justamente a Petrobrás – o sr. Lima disse que “a Argentina estava à nossa frente, mas manteve o monopólio e recuou”.
Parece incrível a você, leitor, que o diretor-geral da ANP não saiba que nunca houve monopólio estatal do petróleo na Argentina? Que não saiba que a estatal petrolífera do país, a Yacimientos Petrolíferos Fiscales (YPF), jamais foi operadora de qualquer monopólio? Que exatamente isso era a debilidade da YPF? E não é ainda mais inacreditável que o diretor-geral da ANP não saiba que, enquanto Fernando Henrique quebrava o nosso monopólio estatal, Menem não manteve monopólio algum, que nunca existiu, e, pelo contrário, privatizou a YPF, entregando-a à Repsol, causando o “recuo” argentino?
aÉ difícil crer que o sr. Haroldo Lima seja tão ignorante – sobretudo em assuntos de petróleo, nos quais deveria ser, pelo menos, um interessado. Então, só podemos atribuir esse lapso à excessiva ansiedade por defender a ação das multinacionais sobre o petróleo brasileiro. Ou à falta de argumentos, o que é a mesma coisa.

FHC

Segundo a notícia publicada pelo site “Vermelho”, que se absteve de considerações críticas, procurando descrever objetivamente a conferência, Lima disse que “ao instituir em 1998 a ANP e também o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE), o governo FHC deu início à quarta fase da indústria do petróleo, que dura até os dias de hoje. Num mercado agora aberto, sem monopólio, mas com forte presença estatal, a participação do petróleo e do gás no PIB brasileiro dispara — de 2,7% em 1997 para estimados 11% neste ano de 2009. As áreas de produção e exploração somam 72 empresas, e o Brasil alcança a auto-suficiência do petróleo em 2006”.
O sr. Haroldo Lima tem um jeito peculiar de fazer contas. No aumento de 2,7% para 11% do PIB esqueceu-se de computar o aumento do preço do barril de petróleo. Preferiu atribuir o aumento de participação no PIB ao patriotismo de Fernando Henrique.
Assim, segundo Lima, o progresso do Brasil no petróleo foi devido ao governo Fernando Henrique, que quebrou o monopólio estatal ao tirar da Petrobrás o seu papel de operadora dele; que esquartejou a empresa com o objetivo evidente de privatizá-la aos pedaços; que sabotou-a, proibiu-a de investir, adiando por anos a auto-suficiência do país, multiplicou os desastres e acidentes, afundou plataformas e até tentou mudar o nome da empresa para Petrobrax, pois assim seria mais fácil para os “investidores” estrangeiros pronunciar o nome da empresa.
Como observou Fernando Siqueira, presidente da Associação dos Engenheiros da Petrobrás (Aepet), as mais de 70 empresas do sr. Lima até agora só acharam petróleo nas áreas que eram da Petrobrás quando existia o monopólio estatal – áreas em que ela já havia encontrado petróleo. Mas é tão obsessivo o lobby de Lima pelas multinacionais que, ao referir-se à fundação da empresa, há 56 anos, diz ele que “a Petrobrás sai de lá do zero para, em algumas décadas, se tornar uma gigante, capaz até de sobreviver sem o monopólio do petróleo”.
Parece até que foi para isso que o presidente Getúlio fundou a empresa, e não para ser a operadora do monopólio estatal do petróleo, isto é, do controle nacional sobre o petróleo. No entanto, Lima não está passando por cima apenas da passado. O que ele está escondendo é que hoje, sem a Petrobrás como operadora, isto é, sem o monopólio estatal, o país está sendo saqueado, pois o atual regime de concessões às multinacionais significa que o petróleo é de quem o extrai – e somente é do país aquele que ainda não foi extraído, ou seja, aquele que é inútil.

PILHAGEM

Mas Lima tem razões para esconder este fato palmar. Pois a pilhagem, após o envio de Fernando Henrique para a marginalidade política, somente prosseguiu devido ao seu colaboracionismo, à sua capitulação , à sua passagem, depois de empossado na ANP, de nacionalista a entreguista.
Por isso a realidade tornou-se um estorvo. Diz ele: “o modelo adotado (mercado aberto com presença estatal) prevaleceu por força da pressão popular”.
Naturalmente, o modelo que foi adotado por pressão popular, à qual o presidente Getúlio foi mais do que receptivo - como relatou o autor da Lei 2004, Eusébio Rocha – era o monopólio estatal do petróleo, com a Petrobrás por operadora. O modelo de Fernando Henrique, esse que Lima descreve como “mercado aberto com presença estatal” (quando é um mero regime de entrega de áreas da Petrobrás a um cartel estrangeiro), foi estabelecido contra a vontade popular. Em 1953, a campanha do “petróleo é nosso” estava nas ruas. Em 1998, quem foi às ruas lutar para que o petróleo fosse entregue aos estrangeiros? Mas o sr. Haroldo Lima jura que viu o povo exigindo que as multinacionais entrassem no nosso petróleo... Realmente, trata-se de um visionário.
Lima não é um homem afeito à lógica – principalmente quando está advogando causas ilógicas. Diz ele que o monopólio estatal do petróleo é muito bom para “países mais atrasados” e que “a Petrobrás está presente em 27 países — e jamais estaria se mantivesse o monopólio”.
O sr. Haroldo Lima tem o direito, se lhe aprouver, de misturar carambolas com juntas homocinéticas. Mas nem por isso umas serão causas das outras. O que tem a ver o monopólio estatal com a presença internacional da Petrobrás, que já era grande antes de 1998? Nada. A Noruega é o terceiro exportador de petróleo do mundo, que é operado, depois da fusão da Statoil com a Hydro, por uma única empresa, a StatoilHydro, que pertence ao Estado norueguês e está presente em 34 países – mais do que a Petrobrás. Certamente, a Noruega deve ser um país atrasadíssimo. Entretanto, quando o sr. Haroldo Lima convencer o rei da Noruega de que, para aumentar a presença internacional da StatoilHydro, é necessário que a Exxon e a Shell explorem o petróleo norueguês, vai se tornar avançadíssimo...
Exaustivo como é do seu estilo, Lima argumenta que “nosso mercado atual é o que existe em todos os mercados grandes — Rússia, China, Cuba, Índia, etc.”.
Temos um grande respeito por Cuba. Só não sabíamos que a ilha do companheiro Fidel havia se transformado num grande mercado de petróleo, que lá, aliás, é todo ele operado pela estatal Cuba Petróleo (Cupet). A China tem três empresas de petróleo, todas estatais. A Rússia reestatizou as empresas de petróleo e gás que haviam sido privatizadas após o fim da URSS. E a Índia explora petróleo através da estatal Oil and Natural Gas Corp. Nenhum desses países permite essa zona do meretrício que a ANP, supostamente, regula.

PRÉ-SAL

O sr. Haroldo Lima admite que “com o pré-sal, praticamente acaba qualquer risco”. Logo, é evidente que agora o monopólio estatal do petróleo é mais necessário do que antes, já que a descoberta da Petrobrás transformou uma relativa escassez em abundância. No entanto, o sr. Haroldo Lima acha o regime atual tão maravilhoso que só podemos concluir que, se dependesse dele, a entrega de lotes às multinacionais permaneceria exatamente como está na lei mais criminosa que esse país já viu. Em outras palavras, as multinacionais devem explorar nosso petróleo mesmo sem risco algum de não achá-lo.
Mas chega a ser cômica a defesa que faz de sua gestão na ANP, segundo a qual os leilões de áreas petrolíferas “seguiram à risca a lei do setor’”. Se fosse verdade, não seria razão para seguir a lei. É sabido que já houve gente, num lugar chamado Nuremberg, enforcada por seguir uma lei criminosa. Porém, a lei não determina que a Petrobrás seja impedida de ganhar os lotes que quiser. Quem determinou tal coisa, na oitava rodada de leilões, foi o sr. Haroldo Lima. Nesse caso, a lei era inocente.
CARLOS LOPES