sexta-feira, 23 de janeiro de 2009


Ação do BC provoca queda de 5,2% na produção industrial



Manutenção dos juros altos e propaganda da crise abalaram a indústria em novembro



Como não era difícil prever, a mídia que torce para que a crise norte-americana invada o nosso país comemorou a queda de 5,2% na produção industrial de novembro em relação a do mês anterior. Afinal – dizem esses pensadores sem pensamento – não é essa a prova de que Lula estava errado quando denunciou a campanha pela crise? Não é a prova de que é inevitável o Brasil ser arrastado pela implosão especulativa de Wall Street?Não, não é.O resultado industrial de novembro é a consequência direta não da crise externa – ou a demonstração de que é impossível ao Brasil não ser devastado pelo que acontece nos EUA. O que esse resultado mostra é, precisamente, que os juros altos mantidos pelo herói dessa mesma mídia pró-crise, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, só podem levar ao bloqueio do crescimento. Se em outra situação era possível continuar avançando (isto é, crescendo) mesmo com o freio de mão puxado (isto é, com juros altos), isso não é possível em outra situação.Realmente, Meirelles tinha de virar o mocinho (cáspite!) dessa mídia. Não existe fator no país que mais nos coloque em risco de crise do que a sua ação no BC. Para quem torce pela crise, é o herói adequado – aliás, tem o físico ideal para o papel: cada um tem o El Cid que merece.O problema da crise é como enfrentá-la. Já lembramos aqui que o Brasil cresceu durante a crise de 29, assim como na dos anos 70. A crise da matriz imperialista é uma oportunidade para o crescimento dos países da periferia do sistema. Porém, juros extorsivos são o veneno certo para nos intoxicar com ela. No mesmo dia em que o IBGE anunciava o resultado da produção industrial de novembro, os banqueiros norte-americanos reunidos no Fed (um banco central peculiar, pois é uma entidade privada) decidiram que nos próximos meses os juros básicos dos EUA estarão "próximos de zero". Os rentistas americanos, que fizeram a lambança que resultou na crise de sua economia, sabem que se mantiverem os juros altos – e eles nem eram tão altos assim – irão para o abismo.ESPECULAÇÃO No Brasil, o que fez o BC nos últimos meses? Primeiro, diante da escassez de crédito, aumentou a liquidez dos bancos privados, diminuindo o depósito compulsório – o dinheiro que os bancos são obrigados a manter no BC para garantia de suas operações com dinheiro alheio.No entanto, ao invés de aumentar o volume de recursos destinados ao crédito para empresas e consumidores, os bancos preferiram comprar títulos públicos, ou seja, depredar o Estado através dos juros altos, estabelecidos pelo próprio BC, desses títulos.Os bancos estavam (e estão) especulando, sem pudor algum, com o dinheiro que havia sido liberado para aumentar o crédito, dinheiro que antes estava retido no Banco Central. Sinteticamente, estavam roubando o Estado com o dinheiro que o Estado havia liberado para que eles aumentassem o crédito ao público.O BC poderia impedi-los de comprar títulos públicos com esse dinheiro e obrigar a que fosse usado no crédito. Poderia, também, baixar os juros sobre os títulos públicos, o que além de beneficiar a economia em geral, tornaria a especulação, no limite, inviável. Não fez uma coisa nem outra. Pelo contrário, resolveu autorizá-los a continuar a especulação com títulos públicos usando os recursos liberados do compulsório e manteve os juros nas alturas.Logicamente, o crédito continuou escasso e cada vez mais caro, como constatou, em sua análise do último dia 6, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).É óbvio que o BC, que antes da crise norte-americana já não tinha justificativa econômica para manter os maiores juros básicos do mundo, agora tinha menos ainda, com a crise já tendo eclodido, razões para continuar com sua absurda taxa de juros.Mas foi o que ele fez. As razões tornaram-se, então, evidentemente políticas: acabar com o crescimento propiciado pelo PAC do presidente Lula. As alegadas razões "técnicas" se tornaram um escárnio.Assim, em setembro de 2008, alguns dias antes da irrupção mais violenta da crise norte-americana, os juros foram aumentados em 0,75 pontos percentuais (de 13% para 13,75%). No mesmo mês, os EUA entraram em virtual falência. Porém, na reunião seguinte do Comitê de Política Monetária do BC, em outubro, a taxa foi mantida em 13,75%. Em dezembro, outra vez ela foi mantida em 13,75%. Isso, frisamos, com a crise norte-americana grassando desde o final do mês de setembro.Enquanto isso, a mídia pró-crise promovia seu festival de histeria. Nas palavras da análise do IEDI, a expectativa dos empresários – sem crédito, com o BC mantendo os juros no espaço e com a mídia fazendo seu terrorismo – sofreu "um verdadeiro colapso".MONOPÓLIOSJunte-se a isso a ação dos monopólios dentro do país, chantageando para manter e ampliar margens de lucros às custas do Estado e dos trabalhadores – a indústria automobilística, cortando a produção e ameaçando desempregar para, ao final, conseguir uma fenomenal redução no Imposto sobre Produtos Industrializados; a Vale, cortando 30% da produção e pressionando pela suspensão dos direitos trabalhistas.O resultado da produção industrial de novembro não foi uma catástrofe – apesar de se seguir a outra redução da produção industrial, de 2,8%, em outubro em relação a setembro.O que ela mostra é a necessidade de uma redução substancial de juros, de garantir o crédito, sobretudo através dos bancos estatais, e de controlar mais severamente os monopólios – antes de tudo o cartel bancário, mas também o da indústria automobilística, a Vale e outros que não se pejam em exercer sua atividade anti-social.C.L. ise abalaram a indústria em novembro Como não era difícil prever, a mídia que torce para que a crise norte-americana invada o nosso país comemorou a queda de 5,2% na produção industrial de novembro em relação a do mês anterior. Afinal – dizem esses pensadores sem pensamento – não é essa a prova de que Lula estava errado quando denunciou a campanha pela crise? Não é a prova de que é inevitável o Brasil ser arrastado pela implosão especulativa de Wall Street?Não, não é.O resultado industrial de novembro é a consequência direta não da crise externa – ou a demonstração de que é impossível ao Brasil não ser devastado pelo que acontece nos EUA. O que esse resultado mostra é, precisamente, que os juros altos mantidos pelo herói dessa mesma mídia pró-crise, Henrique Meirelles, presidente do Banco Central, só podem levar ao bloqueio do crescimento. Se em outra situação era possível continuar avançando (isto é, crescendo) mesmo com o freio de mão puxado (isto é, com juros altos), isso não é possível em outra situação.Realmente, Meirelles tinha de virar o mocinho (cáspite!) dessa mídia. Não existe fator no país que mais nos coloque em risco de crise do que a sua ação no BC. Para quem torce pela crise, é o herói adequado – aliás, tem o físico ideal para o papel: cada um tem o El Cid que merece.O problema da crise é como enfrentá-la. Já lembramos aqui que o Brasil cresceu durante a crise de 29, assim como na dos anos 70. A crise da matriz imperialista é uma oportunidade para o crescimento dos países da periferia do sistema. Porém, juros extorsivos são o veneno certo para nos intoxicar com ela. No mesmo dia em que o IBGE anunciava o resultado da produção industrial de novembro, os banqueiros norte-americanos reunidos no Fed (um banco central peculiar, pois é uma entidade privada) decidiram que nos próximos meses os juros básicos dos EUA estarão "próximos de zero". Os rentistas americanos, que fizeram a lambança que resultou na crise de sua economia, sabem que se mantiverem os juros altos – e eles nem eram tão altos assim – irão para o abismo.ESPECULAÇÃO No Brasil, o que fez o BC nos últimos meses? Primeiro, diante da escassez de crédito, aumentou a liquidez dos bancos privados, diminuindo o depósito compulsório – o dinheiro que os bancos são obrigados a manter no BC para garantia de suas operações com dinheiro alheio.No entanto, ao invés de aumentar o volume de recursos destinados ao crédito para empresas e consumidores, os bancos preferiram comprar títulos públicos, ou seja, depredar o Estado através dos juros altos, estabelecidos pelo próprio BC, desses títulos.Os bancos estavam (e estão) especulando, sem pudor algum, com o dinheiro que havia sido liberado para aumentar o crédito, dinheiro que antes estava retido no Banco Central. Sinteticamente, estavam roubando o Estado com o dinheiro que o Estado havia liberado para que eles aumentassem o crédito ao público.O BC poderia impedi-los de comprar títulos públicos com esse dinheiro e obrigar a que fosse usado no crédito. Poderia, também, baixar os juros sobre os títulos públicos, o que além de beneficiar a economia em geral, tornaria a especulação, no limite, inviável. Não fez uma coisa nem outra. Pelo contrário, resolveu autorizá-los a continuar a especulação com títulos públicos usando os recursos liberados do compulsório e manteve os juros nas alturas.Logicamente, o crédito continuou escasso e cada vez mais caro, como constatou, em sua análise do último dia 6, o Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (IEDI).É óbvio que o BC, que antes da crise norte-americana já não tinha justificativa econômica para manter os maiores juros básicos do mundo, agora tinha menos ainda, com a crise já tendo eclodido, razões para continuar com sua absurda taxa de juros.Mas foi o que ele fez. As razões tornaram-se, então, evidentemente políticas: acabar com o crescimento propiciado pelo PAC do presidente Lula. As alegadas razões "técnicas" se tornaram um escárnio.Assim, em setembro de 2008, alguns dias antes da irrupção mais violenta da crise norte-americana, os juros foram aumentados em 0,75 pontos percentuais (de 13% para 13,75%). No mesmo mês, os EUA entraram em virtual falência. Porém, na reunião seguinte do Comitê de Política Monetária do BC, em outubro, a taxa foi mantida em 13,75%. Em dezembro, outra vez ela foi mantida em 13,75%. Isso, frisamos, com a crise norte-americana grassando desde o final do mês de setembro.Enquanto isso, a mídia pró-crise promovia seu festival de histeria. Nas palavras da análise do IEDI, a expectativa dos empresários – sem crédito, com o BC mantendo os juros no espaço e com a mídia fazendo seu terrorismo – sofreu "um verdadeiro colapso".MONOPÓLIOSJunte-se a isso a ação dos monopólios dentro do país, chantageando para manter e ampliar margens de lucros às custas do Estado e dos trabalhadores – a indústria automobilística, cortando a produção e ameaçando desempregar para, ao final, conseguir uma fenomenal redução no Imposto sobre Produtos Industrializados; a Vale, cortando 30% da produção e pressionando pela suspensão dos direitos trabalhistas.O resultado da produção industrial de novembro não foi uma catástrofe – apesar de se seguir a outra redução da produção industrial, de 2,8%, em outubro em relação a setembro.O que ela mostra é a necessidade de uma redução substancial de juros, de garantir o crédito, sobretudo através dos bancos estatais, e de controlar mais severamente os monopólios – antes de tudo o cartel bancário, mas também o da indústria automobilística, a Vale e outros que não se pejam em exercer sua atividade anti-social.C.L.

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