quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Obama está comprometido com uma agenda corajosa

JESSE JACKSON*


O cinturão de proteção começou quase antes da dança ter parado na quarta pela manhã. Obama tem que ser “cuidadoso”. Esta ainda é “uma nação de centro-direita”, escreveu Bill Kristol. “O país segue dividido muito por igual”, diz o assessor de Clinton, Harold Ickes. O melhor que Obama teria a fazer é diminuir sua visão, ignorar o Congresso “liberal” e os lobbies liberais e governar a partir do centro.
A melhor resposta a isso veio do próprio campo de Obama. O recentemente apontado chefe de Gabinete Rahm Emanuel disse a “Face the Nation”: “Regra número um: Nunca deixe uma crise ser desperdiçada. Há oportunidades para fazer grandes coisas”.
John Podesta, que dirige a equipe de transição informou sobre Obama: “Ele se sente como quem possui um mandato real para a mudança. Temos que sair fora do rumo definido pelo governo Bush”.
Exatamente certo. Obama venceu com a maioria dos votos do eleitorado depois de uma campanha focada em um debate sobre que rumo tomar. Aos americanos foi dada a escolha entre aquilo que Obama chamou de “filosofia falida” da era Reagan, advogada por Bush e McCain (cortes de impostos para o topo, negócios para as corporações, economia de favorecimento dos mais ricos como forma de gotejar benefícios sobre os mais pobres, desregulamentação) e o “socialismo redistribucionista” do qual McCain acusou Obama (reforma para instituir o imposto progressivo, investimento público em novas formas de energia, serviços de saúde accessíveis a todos, etc.). Os americanos fizeram sua escolha clara.
E eles querem que sua escolha seja respeitada. Em uma pesquisa na véspera do dia da eleição, conduzida pela organização Campanha pelo Futuro da América com Democracia, os eleitores eram perguntados se a posição certa dos republicanos seria dar a Obama o benefício da dúvida e ajudar a passar seu programa, ou se eles deveriam se opor a este programa por estar na direção errada. Por uma impressionante margem de 75 a 21 os eleitores querem que os republicanos cooperem com Obama.
Aquele mandato conquistado no dia da eleição foi reforçado pelo mandato imposto pela realidade. Esta economia está com problemas e piorando. Nós tivemos, em termos de registro de emprego, nestes oito anos, a pior situação dos últimos 60 anos. E isto foi antes da recessão ficar pior. Os salários não recuperaram o valor que tinham no ano 2000. Pior ainda quanto ao serviço de saúde. A pobreza está crescendo.Os eleitores querem ação, a economia precisa de ação corajosa. Emanuel encorajou o Congresso a aprovar recursos para um programa de recuperação na próxima semana em sessão especial e prometeu ação mais ampla em janeiro sobre economia, energia, serviços de saúde e um corte de impostos para a classe média. Que não sejam feitos planos pequenos.
Se Obama seguir esta agenda corajosa, ele não terá problemas em sustentar o cerne da coalizão que o impulsionou ao cargo – mulheres trabalhadoras, negros, latinos, trabalhadores sindicalizados e jovens.
Há muita especulação sobre se Obama vai realizar a agenda dos negros, ou vai ao encontro às reivindicações das diversas lideranças. Mas o cerne da agenda dos afro-americanos não é diferente da dos trabalhadores cruzando todas as linhas de raça.
Eles querem trabalhos bem remunerados, planos de saúde acessíveis, escolas públicas muito boas para seus filhos. Eles querem que a nova economia verde os inclua e não seja um fator de sua exclusão. Os negros e latinos sofrem a pior pobreza. Quando a economia decai, eles são os primeiros a sentir os efeitos. Eles não têm agenda em separado que não seja uma ação corajosa.
Quanto a isso, o presidente eleito, Barack Obama, se direciona à agenda não concluída do movimento pelos direitos civis.
Para o reverendo Martin Luther King Jr., o primeiro movimento da sinfonia dos direitos civis era acabar com a segregação; o segundo era conquistar os direitos de voto. Mas o terceiro, e ainda inacabado movimento, era dar oportunidade econômica aos afro-americanos e à classe trabalhadora.
Finalmente, somos uma família e devemos todos compartilhar as bênçãos da prosperidade. Agora, trabalhadores de todas as raças, particularmente os jovens, vêem o sonho americano se mover para mais longe e fora de seu alcance. E agora, pela primeira vez desde Lyndon Johnson, eles têm um presidente comprometido a ser tão corajoso quanto os problemas que enfrentamos. Eles estão com toda a disposição e prontos para a jornada.
*Ex-senador pelo Partido Democrata e um dos principais líderes da luta pelos direitos civis nos Estados Unidos, companheiro de jornada de Martin Luther King

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