sábado, 1 de novembro de 2008

Censored: "Na trilha de bilhões de dólares desaparecidos no Iraque"
Seguem trechos de matéria sobre roubo de bilhões de dólares que integra lista das 25 mais censuradas em 2008 pela mídia nos EUA
O Project Censored reúne, há 32 anos, listas de 25 assuntos. A iniciativa é do professor Peter Phillips e conta com a participação de seus alunos na Universidade de Sonoma, na Califórnia. O artigo que publicamos é de autoria de Donald Barlett, James Steeele e Matt Taibi
A partir de abril de 2003, um mês depois da invasão ao Iraque, e continuando por pouco mais de um ano, a Reserva Federal dos EEUU enviou 12 bilhões de dólares em divisas ao Iraque. Os militares dos EUA entregaram as notas de banco para a Autoridade Provisória da Coalizão (CPA, em sua sigla em inglês), para que fossem aplicados na , "reconstrução" do país. Pelo menos 9 bilhões desapareceram completamente devido a um inexplicável 'descuido'.
Os primeiros 20 milhões de dólares que chegaram provinham exclusivamente dos ativos iraquianos que tinham sido congelados nos bancos dos EUA desde a primeira guerra do Golfo, em 1990. As subseqüentes pontes aéreas de efetivo incluíram bilhões de dólares pelas vendas de petróleo iraquiano controladas antes pelas Nações Unidas. Depois da criação do Fundo para o Desenvolvimento do Iraque – uma fórmula para manter o desaguadouro do dinheiro que ia para "propósitos que beneficiavam o povo do Iraque"–, a ONU repassou o controle de bilhões de dólares do Iraque por rendimentos do petróleo aos Estados Unidos.
Quando os militares dos EUA enviaram o efetivo a Bagdá, o dinheiro passou inteiramente para as mãos de uma nova equipe de jogadores: a Autoridade Provisória da Coalizão. A CPA foi criada precipitadamente pelo Pentágono para servir como governo interino no Iraque. Em 9 de maio de 2003, o presidente Bush designou a Lewis Paul Bremer III como administrador da CPA. Durante o ano seguinte, um Congresso obediente deu 1,6 bilhão de dólares a Bremer para administrar a CPA. Isso deve ser somado aos 12 bilhões de dólares em efetivo que foram entregues à CPA uma vez desembolsados os rendimentos do petróleo e dos ativos iraquianos dêscongelados.
Poucos no Congresso tinham alguma idéia sobre a verdadeira natureza da CPA como instituição. Os legisladores nunca haviam discutido o estabelecimento da CPA, muito menos a tinham autorizado, dado que a agência estaria recebendo dólares dos contribuintes. Os confundidos membros do poder legislativo acreditavam que a CPA era uma agência governamental dos EUA – que não o era – ou que, pelo menos, tinha sido autorizada pelas Nações Unidas, o que também não era verdade.

TRAPAÇA

A Autoridade foi, em efeito, estabelecida por um decreto fora do marco tradicional do governo estadunidense. Porque foi uma operação de trapaça, onde ninguém se responsabilizou pelo que ocorreu com esse dinheiro. A CPA, responsável perante ninguém, nem em relação às finanças "dos livros" que registram os gastos com os propósitos do governo dos EUA, proporcionou uma oportunidade sem precedentes para que a fraude, o desperdício e a corrupção fossem praticadas por autoridades do governo americano, os chamados 'empreiteiros' norte-americanos, renegados iraquianos e muitos outros. Na sua curta vida passariam a través de suas mãos mais de 23 bilhões de dólares. E isso não inclui potenciais bilhões de dólares mais por embarques de petróleo que a CPA não teve o 'cuidado' de registrar.
Incidentes de abuso flagrante foram desenfreados. De 8.206 "vigilantes" que aparecem nos cheques de pagamento da CPA, só 602 existiram realmente; os outros 7.604 são guardas fantasmas. A Halliburton recebeu da CPA 42.000 marmitas para os soldados enquanto que efetivamente só foram servidas 14.000.
Porém, o precedente para a impunidade legal foi estabelecido quando o trabalho dos fiscais fez público o caso da Custer Battle [empresa privada na área militar, Custer Battle recebeu cerca de 13 milhões de dólares para prestar serviços de segurança na línea aérea civil iraquiana. Foi uma das centenas de empresas criadas especificamente para lucrar com os destroços da guerra] considerado um dos piores casos de fraude na história dos EUA. A administração Bush não somente negou-se a processar os mercenários, como também tentou deter um pleito iniciado por denunciantes que esperavam recuperar o dinheiro roubado da CPA. Quando o processo foi adiante apesar do governo, a Custer Battle montou uma defesa baseada em que os implicados não poderiam ser culpados de furto já que o roubo se fez com a aprovação do governo.
Também veio à tona a concessão de um contrato da CPA a empresa NorthStar por serviços de contabilidade e auditoria. A nota discordante sobre este serviço de contabilidade foi que não havia nenhum contador público certificado entre os funcionários. O empresário Thomas Howell operou a NorthStar desde sua casa em Jolla, Califórnia, junto com outros três negócios sem relação nenhuma com o Iraque, incluindo um dedicado à remodelação e decoração de lares. A empresa tinha uma caixa de correios nas Bahamas que aparecia no expediente como seu endereço legal.

EMPRESAS DE PAPEL

A NorthStar foi transformada nas Bahamas em uma companhia internacional de negócios (IBC, em inglês). Apesar de seu nome impressionante, as IBCs não são nada mais que empresas de papel. Em geral, não fazem nenhum negócio; são recipientes vazios que podem ser utilizados para qualquer coisa. Não têm nenhuma direção executiva e não publicam balanços financeiros. Os livros contábeis das IBCs, se existisse algum, podem estar em qualquer lugar do mundo, mas ninguém pode examiná-los. As IBCs não necessitam arquivar informes anuais nem divulgar a identidade de seus donos. São cascas que funcionam em segredo total.
O Pentágono pôs esta companhia a cargo da supervisão de bilhões de dólares dos cidadãos iraquianos e dos EUA, com a missão de garantir que se gastassem honestamente e de maneira segura.
Num de seus últimos atos oficiais antes de abandonar Bagdá, Bremer publicou uma ordem preparada pelo Pentágono, declarando que todos os membros das forças da coalizão "serão imunes ante qualquer forma de arresto ou de detenção por outras pessoas que atuem em nome dos Estados que os enviam". Os 'empreiteiros' também conseguiram sinal verde livre de cárcere.
É possível resumir em duas palavras o que ocorreu desde que a revista Vanity Fair publicou o artigo "Bilhões sobre Bagdá" em outubro de 2007: Não muito. Apesar do roubo ainda em curso, apenas foram processados uns poucos civis e militares de baixo nível por malversação, suborno, propinas, mercantilismo e a desaparição de bilhões de dólares dos contribuintes. Para disfarçar, o Departamento de Defesa anunciou com grande espalhafato que iniciou as investigações criminosas. Mas os resultados são pobres.
O departamento de Justiça de Bush deixou claro com suas ações que não tem nenhuma intenção de buscar ou de processar os que assaltaram os contribuintes.
Não esperem nenhuma prova vinda dos meios de imprensa. Os jornais e revistas sofrem tanta agitação como resultado das mudanças na situação econômica de seus proprietários que são incapazes de fazer qualquer exame significativo ou mais permanente acerca das operações do governo. Essas empresas estão muito mais preocupadas com as margens de lucro que caem. Como resultado, seus trabalhos jornalísticos têm menos futuro que a próxima pesquisa semana
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