terça-feira, 11 de novembro de 2008

Aquisição do Unibanco pelo Itaú monopoliza ainda mais o crédito


Cartel financeiro passa a ser dominado por apenas quatro bancos privados, dois deles estrangeiros
A “fusão” do Unibanco com o Itaú recebeu os festejos entusiásticos de todos os patifes do chamado “jornalismo econômico” - e também de alguns que não são, em absoluto, patifes, mas parecem subestimar o significado dos festejos promovidos pelos primeiros.
Como toda “fusão” bancária, trata-se de uma compra, nesse caso do Unibanco pelo Itaú – como, aliás, registraram com precisão os boletins das consultorias, enviados aos especuladores e empresas que são os seus clientes: os atuais donos do Itaú ficarão com 66% da empresa-holding que controlará o novo banco; em compensação, os donos do Unibanco receberam, na segunda-feira, dia 3, um lauto “prêmio” de 162% em relação ao preço de sexta-feira, dia 31, das ações com direito a voto (“ações ordinárias”).
DESNACIONALIZAÇÃO
Ainda não é clara a participação do capital estrangeiro. O presidente do Itaú falou, de passagem, em redução da participação estrangeira no novo banco. Sabe-se que parte das ações do Itaú era de propriedade do Bank of America. Por seu lado, o Unibanco é conhecido há décadas por suas relações com o Chase Manhattan Bank (atual JP Morgan-Chase), banco dos Rockefellers, e com o Citibank.
Mas essa é apenas uma breve descrição do negócio. A conseqüência dele será a de que o país contará com apenas quatro grandes bancos privados – além do Itaú-Unibanco, dois estrangeiros (Santander-ABN Real e HSBC), e o Bradesco. Assim, o monopólio do dinheiro – o cartel dos bancos – que já era extremamente concentrado, ficou mais concentrado ainda.
Como disseram alguns “analistas de mercado” com certa vocação para a sinceridade, é evidente que quanto maior a concentração, e quanto menor a concorrência, mais altos tendem a ser os juros bancários – juros para capital de giro das empresas e para o consumidor, além da esterilização de quantidades monumentais de dinheiro na especulação. Num momento como o atual, com escassez de crédito, pior ainda se o crédito é monopolizado em menos mãos do que antes.
Só existe, naturalmente, um motivo para a concentração bancária: aumentar os lucros com uma monopolização maior sobre os recursos da população – no caso, sobre os recursos de 15 milhões de clientes, pessoas físicas e empresas – usando-os na especulação. Não é, portanto, uma preocupação abstrata aquela manifestada por uma advogada do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec): “Não é justo que, com a fusão, o consumidor pague mais tarifa, tenha um pior atendimento e, no fim, os bancos registrem lucros exorbitantes”. Lembrou ela que no último dia 30 o Unibanco já havia aumentado suas tarifas em 6%.
Somente elementos como o sr. Meirelles, ex-presidente do BankBoston, podem declarar sem constrangimento que uma maior concentração bancária fortalece mais a economia nacional. Uma maior concentração bancária fortalece mais o cartel dos bancos – precisamente por colocar a economia nacional mais à mercê deste cartel. Não tem outro sentido a compra do Unibanco pelo Itaú, meses após a aquisição do ABN Real pelo Santander.
ESPOLIAÇÃO
Além disso, segundo os presidentes do Itaú e do Unibanco – Roberto Setúbal e Pedro Moreira Salles – o objetivo da “fusão” é transformar o novo banco num “player global” em cinco anos. Ou seja, o problema deles não é contribuir para a economia nacional, mas usar seu poder financeiro sobre a nossa economia para, inclusive, explorar outras economias. Se os bancos estrangeiros nos escalpelam, então que os bancos brasileiros escalpelem outros países – que certamente não serão os EUA ou a Alemanha ou o Japão. Nada se pode esperar de “fortalecimento” da economia nacional com semelhante atividade predatória. O máximo que se pode esperar é que dentro em breve os bancos daqui sejam expulsos da Colômbia e do Peru – ou pelo povo daqueles países ou pelos bancos norte-americanos, que não gostam de concorrentes (concorrência não é especialidade de monopólios) na espoliação de países menos desenvolvidos.
Nesse sentido, é uma dose extra de engodo propalar que “fusões” de bancos privados são o caminho para resistir aos bancos estrangeiros. O Itaú Unibanco terá ativos no valor de US$ 324 bilhões, superando o Bradesco como primeiro banco privado de titularidade brasileira. O JPMorgan-Chase, hoje o maior banco dos EUA, tem ativos de US$ 1 trilhão e 378 bilhões; o Bank of America, US$ 1 trilhão e 327 bilhões; o Citibank, US$ 1 trilhão e 228 bilhões; o infortunado Wachovia, quarto maior banco dos EUA, tem US$ 670 bilhões; e o Wells Fargo, aquele do tempo das diligências, tem US$ 503 bilhões.
Portanto, pensar em “concorrência” privada com esses tiranossauros é coisa de tontos. A maior concentração de bancos privados no Brasil somente servirá para facilitar o trabalho deles de devorar e digerir o sistema financeiro nacional quando chegar a hora que achem apropriada para essa refeição.
LUCRO
O maior autor de best-sellers do momento, Karl Marx, com sua incomparável verve, escreveu: “O capital tem tanto horror à ausência de lucro ou de um lucro muito pequeno quanto a natureza tem horror ao vácuo. Com um lucro apropriado, o capital é despertado; com 10% de lucro, ele pode ser usado em qualquer lugar; com 20%, torna-se vivaz; com 50%, fica positivamente ousado; com 100%, ele esmagará com os pés todas as leis humanas; e com 300%, não existe crime que ele não se disponha a cometer, ainda que se arrisque a ir para a cadeia”.
Os banqueiros estão nos últimos dois casos, sobretudo no último. Sua atividade, na época dos cartéis e monopólios financeiros é, rigorosamente, anti-social. Seu objetivo não é financiar a produção. Pelo contrário, é expropriar os empresários produtivos. Seu objetivo também não é financiar o consumo. Pelo contrário, é arrancar o couro dos consumidores com os seus juros. Também não lhes interessa o fortalecimento do Estado e do país, os quais, no fundo, consideram uma aporrinhação para sua atividade. Pelo contrário, drenam os recursos do Estado para seus cofres, parasitam a nação através da dívida pública e se tiverem, para amealhar dinheiro – ou para não perdê-lo - de entregar a propriedade a estrangeiros, o farão, mais ou menos confortavelmente, dependendo do caso.
Qualquer um que viveu as últimas décadas no Brasil – ou em qualquer lugar onde exista monopólio bancário privado – sabe que não há grão de exagero no que acabamos de afirmar. Bancos nem ao menos lidam com seu próprio dinheiro. Como disse nosso best-seller, “ao especular, o que arrisca em grande escala é a propriedade social e não a sua. (....) a origem do capital na poupança perde também qualquer sentido, pois o especulador exige justamente que outros poupem para ele”.
Não é incentivando um monopólio financeiro, real ou supostamente brasileiro - inclusive para espoliar outras nações – que vamos nos livrar da crise, manter e aprofundar o crescimento e libertarmo-nos da espoliação a que somos submetidos pelo capital financeiro externo. Simplesmente porque nada há de mais antagônico ao crescimento do que o parasitismo especulativo e nada mais oposto à justiça social do que a pilhagem de toda a população por dois ou três banqueiros.
É evidente que precisamos de um verdadeiro sistema financeiro nacional – que financie a produção e o consumo, que torne acessível o crédito ao empresário que quer investir em sua empresa, além de descontar suas duplicatas sem ser roubado pelo banco, e que forneça recursos a juros racionais ao trabalhador e cidadão que quer comprar um bem de consumo.
Mas isso somente é possível através do Estado, através dos bancos estatais, da mesma forma que somente através desse sistema público bancário é possível resistir aos tiranossauros financeiros externos que mencionamos. E isto é assim porque os bancos estatais pertencem à coletividade e não a um monopolista financeiro, sequioso de expropriar o país, o povo, Deus e o mundo – tanto quanto é candidato a ser expropriado pelo primeiro monopolista mais forte que aparecer.
CARLOS LOPES

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