segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Analfabetismo econômico-2

FIDEL CASTRO

Os bancos emprestavam dezenas de dólares por cada dólar depositado pelos correntistas. Multiplicavam o dinheiro. Respiravam e transpiravam por todos os poros... Qualquer contração os conduzia à ruína ou à absorção por outros bancos. Tinha que os salvar, sempre à custa dos contribuintes. Fabricavam enormes fortunas. Seus privilegiados acionistas majoritários podiam pagar qualquer soma por qualquer coisa. Shi Jianxun, professor da Universidade de Tongui, Xangai, declarou em um artigo que publicou na edição exterior do Diário do Povo que "a crua realidade levou as pessoas, no meio do pânico, a se dar conta de que os Estados Unidos utilizaram a hegemonia do dólar para saquear as riquezas do mundo. Urge mudar o sistema monetário internacional baseado na posição dominante do dólar." Com muito poucas palavras explicou o papel essencial das moedas nas relações econômicas internacionais. Assim vinha ocorrendo há séculos entre a Ásia e a Europa: recordemos que o ópio foi imposto à China como moeda. Disso falei quando escrevi A vitória chinesa. Nem sequer prata metálica, com que pagavam inicialmente os espanhóis de sua colônia nas Filipinas os produtos adquiridos na China, desejavam receber as autoridades deste país, porque se desvalorizava progressivamente devido a sua abundância no chamado Novo Mundo recém conquistado pela Europa. Até vergonha sentem hoje os governantes europeus pelas coisas que impuseram à China durante séculos. As atuais dificuldades nas relações de intercâmbio entre esses dois continentes devem ser resolvidas, segundo o critério do economista chinês, com euros, libras, ienes e yuanes. Não restam dúvidas de que a regulação razoável entre essas quatro moedas ajudaria no desenvolvimento de relações comerciais justas entre Europa, Grã-Bretanha, Japão e China. Estariam incluídos nessa esfera o Japão e a Alemanha? dois países produtores de sofisticados equipamentos de tecnologia avançada tanto para a produção como para os serviços?, e o maior motor em potencial da economia do mundo, China, com ao redor de 1.400 bilhão de habitantes e mais de 1,5 bilhão de dólares em suas reservas de divisas conversíveis, que são em sua maioria dólares e bônus do Tesouro dos Estados Unidos. Segue-lhe o Japão com quase as mesmas cifras de reservas em divisas. Na atual conjuntura, aumenta-se o valor do dólar pela posição dominante desta moeda imposta à economia mundial, justamente marcada e recusada pelo professor de Xangai.Grande número de países do Terceiro Mundo, exportadores de produtos e matérias-primas com pouco valor agregado, somos importadores de produtos de consumo chineses, que costumam ter preços razoáveis, e equipamentos do Japão e da Alemanha, os quais são cada vez mais caros e produtos de consumo chineses, que costumam ter preços razoáveis, e equipamentos do Japão e da Alemanha, os quais são a cada vez mais caros. Ainda que a China cuide para que o yuan não se supervalorize, como os ianques exigem sem parar para proteger suas indústrias da concorrência chinesa, o valor do yuan aumenta e o poder aquisitivo de nossas exportações diminui. O preço do níquel, nosso principal produto de exportação, cujo valor atingiu mais de 50 mil dólares a tonelada não faz muito, nos últimos dias mal ultrapassa os 8.500 dólares por tonelada, isto é, menos de 20% do preço máximo atingido. O do cobre reduziu para menos de 50%; assim sucessivamente ocorre com o ferro, alumínio, estanho, zinco e todos os minerais indispensáveis para um desenvolvimento sustentado. Os produtos de consumo, como café, cacau, açúcar e outros, para além de todo sentido racional e humano, em mais de 40 anos mal aumentaram seus preços. Por isso não faz muito tempo eu advertia igualmente que, como conseqüência de uma crise que estava muito próxima, os mercados seriam perdidos e o poder aquisitivo de nossos produtos seria reduzido consideravelmente. Nessa circunstância, os países capitalistas desenvolvidos sabem que suas fábricas e serviços paralisam, e só a capacidade de consumo de grande parte da humanidade já nos índices de pobreza, ou a baixo destes, poderia os manter funcionando. Esse é o grande dilema que propõe a crise financeira e o perigo de que os egoísmos sociais e nacionais prevaleçam acima dos desejos de muitos políticos e estadistas agoniados diante do fenômeno. Não têm a menor confiança no próprio sistema do qual surgiram como homens públicos. Quando um povo deixa o analfabetismo para trás, sabe ler e escrever, e possui um mínimo indispensável de conhecimentos para viver e produzir honradamente, ainda lhe faltaria vencer a pior forma de ignorância em nossa época: o analfabetismo econômico. Só assim poderíamos saber o que está ocorrendo no mundo.

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