sábado, 11 de outubro de 2008

Bailout: cleptocracia dos Estados Unidos em ação



O economista americano Michael Hudson afirmou que a expressão cunhada por Roosevelt - "banksters" (banqueiro gangster) - expressa a essência da classe cleptocrática que tomou o comando da economia e substituiu o capitalismo industrial pelo cassinoO economista norte-americano Michael Hudson classificou a operação do governo Bush de resgate dos bancos afundados na especulação de "cleptocracia em ação". A análise foi feita ainda antes do anúncio do bailout de US$ 700 bilhões, no momento em que o Tesouro dos EUA assumiu US$ 5,3 trilhões em dívidas penduradas nas agências de financiamento hipotecário Fannie Mae e Freddie Mac, fato seguido pela quebra dos bancos Lehman Brothers e Merrill Lynch, e da seguradora AIG, até então a maior do país."Uma classe cleptocrática tomou o comando da economia e substituiu o capitalismo industrial", assinalou Hudson, destacando que a expressão cunhada por Franklin Roosevelt – "banksters" – "diz tudo numa palavra". Ele apontou a sexta-feira 19 de setembro como "o ponto de viragem" na crise em curso. "A Casa Branca comprometeu pelo menos a metade de um trilhão de dólares na tentativa de reinflacionar o mercado de hipotecas-lixo – hipotecas emitidas muito além da capacidade dos devedores para pagar e muito acima do preço de mercado". FICÇÕESUma montanha de dinheiro que, como destacou o economista, destina-se a tentar manter "as ficções contabilísticas registradas por companhias que entraram num mundo irreal baseado na falsa contabilidade que praticamente todos no setor financeiro sabiam ser uma fraude". "Mas eles fingiram acreditar, com a compra e venda de hipotecas-lixo empacotadas, porque era aí que estava o dinheiro. Como colocou Charles Prince, do Citibank: 'Enquanto eles tocam música, você tem de levantar e dançar'". O governo Bush – ressaltou -, ao invés de enfrentar a realidade, se lançou por todos os meios na promoção da falácia de que as dívidas podem ser pagas – "se não pelos próprios devedores, então pelo governo – o que é um eufemismo para 'contribuintes'". Essa expropriação massiva dos contribuintes foi considerada por Hudson como "nada menos que um golpe de Estado da classe que Franklin Dellano Roosevelt chamou de "banksters" (banqueiros+gan-gsters)". "O que aconteceu nas últimas duas semanas ameaça mudar o próximo século – irreversivelmente, se eles puderem escapar impunes disto", advertiu o economista. "Trata-se da maior e mais iníqua transferência de riqueza desde a dádiva de terra aos barões das ferrovias durante a era da Guerra Civil". Hudson apontou como isso ocorreu, por exemplo, no caso da quebra da AIG. "A AIG emitiu apólices de seguro de todos os tipos necessários para pessoas e negócios, de gado a aviões. Esses negócios altamente lucrativos não constituíam problema. A queda da AIG veio dos US$ 450 bilhões – quase a metade de um trilhão de dólares – pendurados no seguro de contraparte de fundos hedge". Mas o Federal Reserve "concordou em tornar bons pelo menos US$ 85 bilhões de pretensos prêmios 'segurados' possuídos por jogadores financeiros que em transações conduzidas por computadores apostaram em hipotecas-lixo e compraram cobertura de contraparte da AIG".A fraude funcionava assim: se dois participantes jogassem um jogo de soma zero de apostas de um contra o outro, sobre se o dólar subiria ou cairia contra a libra esterlina ou o euro, ou se detivessem uma carteira de hipotecas-lixo, para assegurar que elas fossem pagas, pagariam uma pequeníssima comissão à AIG por uma apólice de seguro caso, digamos, os US$11 trilhões do mercado hipotecários dos EUA "afundassem" ou se perdedores que colocassem trilhões de dólares em apostas sobre câmbio, derivativos, ações ou títulos derivativos ficarem incapazes de produzir o dinheiro para cobrir as suas perdas. Assim, a AIG arrecadava taxas e comissões maciças sem colocar muito do seu próprio capital, e seus executivos ganhavam comissões e bônus milionários."Isso é o que chamam de "auto-regulação", ressaltou Hudson, ironizando que "é como se supõe que trabalhe a "Mão Invisível" (do mercado)". "Verificou-se, inevitavelmente, que algumas das instituições financeiras que fizeram jogos de bilhões de dólares – habitualmente na forma de um bilhão de dólares jogados no decorrer de uns poucos minutos ou pouco mais – não podiam pagar". Mas a conta está sendo lançada nas costas do povo americano. APOSTASHudson destacou que essa ação dos fundos de hedge deu "um novo significado a Capitalismo de Cassino", expressão que fora muito aplicada quanto a especuladores que jogavam no mercado de ações. "Significa fazer apostas cruzadas, perder algo e ganhar algo – e o obter do governo o salvamento dos não-pagadores. A virada na tempestade das últimas semanas é que os vencedores já não podem arrecadar as suas apostas a menos que o governo pague as dívidas que os perdedores são incapazes de cobrir com o seu próprio dinheiro". Ele ressaltou que tudo isso só se tornou possível por conta da revogação em 1999 da lei contra os especuladores da era Roosevelt, a Glass-Steagall, "deixando os bancos fundirem-se com os cassinos. Ou melhor, os cassinos absorveram os bancos. Foi isto o que colocou as poupanças dos americanos em risco".

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