quarta-feira, 8 de outubro de 2008

Agressão ao Iraque alavancou a quebradeira nos Estados Unidos
Com o aumento dos juros do Fed para captar US$ 1 trilhão para financiar a guerra, mais e mais famílias não conseguiram pagar suas hipotecas. A Resistência iraquiana fez sua parte ao impedir que a ocupação fosse bancada com o roubo do petróleo
O colunista do site “Global Research”, Stephen Lendman, em seu artigo “O grande roubo da América”, sobre a crise que abala o sistema financeiro norte-americano, introduz a interessante questão de que a quebradeira nos EUA e a guerra no Iraque estão estreitamente relacionadas, ao notar que “essa é a primeira guerra na história financiada com cartão de crédito”.
Como se depreende das declarações de Richard Cheney e Donald Rumsfeld, antes da invasão, sobre financiar a ocupação do Iraque com as receitas do petróleo iraquiano, não era exatamente uma guerra sustentada no cartão de crédito o que eles pretendiam. Mas a Resistência iraquiana realizou o feito de impedir que a ocupação fosse bancada com o roubo do petróleo, e o governo Bush se viu diante da pesada conta de US$ 1 trilhão – custo atual da guerra, nas contas do conhecido economista Joseph Stiglitz. E que poderá chegar a US$ 3 trilhões.
Assim – e na situação de déficit orçamentário provocado pela política de Bush de cortar impostos para os magnatas – criou-se uma enorme pressão para obter US$ 1 trilhão do setor privado. O que implicou em aumentar a taxa de juros, medida tomada por Ben Bernanke após suceder Allan Greenspan no comando do Federal Reserve, que há anos vinha mantendo o juro básico no congelador. Episódio que, naquela altura, levou uma comentarista econômica a saudar Bernanke por “reintroduzir a testosterona”, e “por não ter piscado” diante da inflação.
INSOLVENTES
Mas Greenspan tinha razões bastante fortes para manter o juro negativo. Como Allan Sloan assinalou na revista “Newsweek”, ao homenageá-lo por seu adeus ao Fed depois de 18 anos, no início dos anos 90 “os maiores bancos estavam efetivamente insolventes, e o Fed os salvou baixando as taxas de juro de curto prazo, garantindo-lhes grandes lucros à custa do povo que dependia do cartão de crédito para comprar comida”. Em suma, juros negativos para os banqueiros, e inflados juros de cartão de crédito para a população. A receita foi repetida com o estouro da bolha das ações em 2000, em que US$ 8 trilhões em títulos viraram pó. Nas palavras de Greenspan, “nós sabíamos o que estávamos fazendo – lidando com a conseqüência de uma deflação muito severa de uma bolha”.
O apelo ao endividamento com o cartão de crédito tinha uma base bastante objetiva: nas últimas três décadas a renda média real se manteve estagnada nos EUA, enquanto a desindustrialização reduzia o número de empregos com bons salários. Segundo o “Washington Post”, “cronicamente, os baixos salários afligem de 25% a 30% da população – mais que o dobro dos 12% que o governo federal contabiliza como ‘pobres’”. Também o desemprego real é muito maior do que dizem as estatísticas do governo Bush. De acordo com o ex-subsecretário do Tesouro do governo Reagan, Paul Craig Roberts, se calculado pelos critérios em vigor na década de 70, o desemprego nos EUA sobe para 14,7% - mais do dobro da taxa oficial. A conta é do economista John Williams.
JURO NEGATIVO
Nessa situação de juro negativo, os bancos trataram de se virar para arrancar rendimentos muito maiores dos seus clientes, amparados na derrubada, em 1999, da lei de Roosevelt de separação entre bancos comerciais e corretoras. Passaram por cima das restrições que haviam sobrado, criando todo tipo de “título” e “securitização” – nome pomposo com que batizaram seus esquemas de Pozzi e sua “alavancagem”, isto é, empréstimo de dinheiro que não têm. A fraude generalizada reunia bancos, empacotadoras de hipotecas, fundos especulativos, seguradoras e agências de classificação de risco, lhes garantindo lucros extraordinários e, aos executivos, bônus milionários. Embalando a orgia, odes a Milton Friedman, ao empreendedorismo e à inovação financeira, até a casa vir abaixo, como visto com o Bear Stearns, Lehman Brothers, Wachovia, Merrill Lynch, Washington Mutual e até as agências Fannie Mae e Freddie Mac.
Com a estagnação da renda, redução de empregos, e endividamento no cartão de crédito, não foi difícil induzir milhões de norte-americanos a refinanciar suas casas, ou hipotecá-las. Como descreveu um economista, era como se as pessoas de repente achassem um caixa de banco em casa. Para garantir mais bônus e prêmios, os executivos cuidavam de ampliar o leque de signatários de hipotecas, e foi para isso que o “subprime” foi montado. Estudos mostraram que as hipotecas “subprime” estavam direcionadas para seduzir as pessoas com menos condições – por exemplo, 55% era de afro-americanos; dos 17% de brancos, o maior contingente, 39%, era de baixa renda. Entre outras tramóias, eram oferecidas taxas ajustáveis e prazo inicial de pagamento mais baixo. Com o aumento dos juros decretado pelo Fed para bancar a guerra no Iraque, mais e mais famílias não conseguiram pagar suas hipotecas, levando de roldão os papéis podres e os bancos entupidos de lixo tóxico.

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